playlistinha - momentos

  • Ouça o seu silêncio

26 de dezembro de 2007

"Rifa-se um coração
Rifa-se um coração quase novo.
Um coração idealista.
Um coração como poucos.
Um coração à moda antiga.
Um coração moleque que insiste
em pregar peças no seu usuário.
Rifa-se um coração que na realidade está um
pouco usado, meio calejado, muito machucado
e que teima em alimentar sonhos e, cultivar ilusões.
Um pouco inconseqüente que nunca desiste
de acreditar nas pessoas.
Um leviano e precipitado coração
que acha que Tim Maia
estava certo quando escreveu...
"...não quero dinheiro, eu quero amor sincero,
é isso que eu espero...".
Um idealista...Um verdadeiro sonhador...
Rifa-se um coração que nunca aprende.
Que não endurece, e mantém sempre viva a
esperança de ser feliz, sendo simples e natural.
Um coração insensato que comanda o racional
sendo louco o suficiente para se apaixonar.
Um furioso suicida que vive procurando
relações e emoções verdadeiras.
Rifa-se um coração que insiste em cometer
sempre os mesmos erros.
Esse coração que erra, briga, se expõe.
Perde o juízo por completo em nome
de causas e paixões.
Sai do sério e, às vezes revê suas posições
arrependido de palavras e gestos.
Este coração tantas vezes incompreendido.
Tantas vezes provocado.
Tantas vezes impulsivo.
Rifa-se este desequilibrado emocional
que abre sorrisos tão largos que quase dá
pra engolir as orelhas, mas que
também arranca lágrimas
e faz murchar o rosto.
Um coração para ser alugado,
ou mesmo utilizado
por quem gosta de emoções fortes.
Um órgão abestado indicado apenas para
quem quer viver intensamente
contra indicado para os que apenas pretendem
passar pela vida matando o tempo,
defendendo-se das emoções.
Rifa-se um coração tão inocente
que se mostra sem armaduras
e deixa louco o seu usuário.
Um coração que quando parar de bater
ouvirá o seu usuário dizer
para São Pedro na hora da prestação de contas:
"O Senhor pode conferir. Eu fiz tudo certo,
só errei quando coloquei sentimento.
Só fiz bobagens e me dei mal
quando ouvi este louco coração de criança
que insiste em não endurecer e,
se recusa a envelhecer"
Rifa-se um coração, ou mesmo troca-se por
outro que tenha um pouco mais de juízo.
Um órgão mais fiel ao seu usuário.
Um amigo do peito que não maltrate
tanto o ser que o abriga.
Um coração que não seja tão inconseqüente.
Rifa-se um coração cego, surdo e mudo,
mas que incomoda um bocado.
Um verdadeiro caçador de aventuras que ainda
não foi adotado, provavelmente, por se recusar
a cultivar ares selvagens ou racionais,
por não querer perder o estilo.
Oferece-se um coração vadio,
sem raça, sem pedigree.
Um simples coração humano.
Um impulsivo membro de comportamento
até meio ultrapassado.
Um modelo cheio de defeitos que,
mesmo estando fora do mercado,
faz questão de não se modernizar,
mas vez por outra,
constrange o corpo que o domina.
Um velho coração que convence
seu usuário a publicar seus segredos
e a ter a petulância de se aventurar como poeta"

clarice lispector

25 de dezembro de 2007

a vida devia ser feita de vésperas.
véspera de aniversário, véspera de um encontro, de natal, de casamento.
os dias que antecedem sempre são mais felizes. só pelo fato de que nos sentimos bem esperando o que vai acontecer.
o dia das coisas nunca é tão bom. porque anuncia que amanhã tudo volta ao normal.
é quase como se o dia certo fosse o dia que as coisas acabam. e é, de certa forma.
o domingo é a representação de todos os dias de grandes eventos.
sexta-feira é feliz, porque a gente ainda tem sábado e domingo pela frente.
sábado é feliz porque estamos vivendo o sábado e... ainda tem domingo.
mas o domingo, embora faça parte do fim de semana, é péssimo. porque a gente passa o dia sendo lembrado de que amanhã acaba a alegria.
nessa mesma levada vai o final do ano... milhões de expectativas, festa, ruas vazias dando aquele ar de o mundo é nosso. mas na meia-noite do dia 31, começa a lembrança que amanhã é dia 01. e embora o ano seja novo, tudo vai começar a se repetir.

não, a visão não é pessimista. eu acredito que algumas coisas mudam junto com o ano sim.
é apenas uma ode à véspera de tudo.
se formos mais fundo, a véspera de um beijo tem 50% de chance de ser melhor que o dia seguinte...
não significa que não daremos o beijo. porque, enfim, 50% de chance de ser incrível já é um começo bem razoável.

então, viva os dias que antecedem.

24 de dezembro de 2007

enquanto houver bolas de ar na boca do estômago...
ela é de verdade. e isso a torna vulnerável.
é de verdade quando ela quer. é de verdade quando ela gosta. é de verdade quando abre um sorriso. é de verdade quando não consegue falar ou fazer exatamente o que pensa.
e é por ser de verdade que fica roxa quando cai.
foram de verdade as tentativas de ser mais forte do que era.
assim como de verdade foi admitir não ter mais força. e esperou a mão.

às vezes, ela olha tão pra frente que não vê debaixo do nariz.
às vezes, olha tão pra trás que não vê o que passa na sua frente.
quis tanto o improvável, que quando o improvável aconteceu, não acreditou que era de verdade. e continuou esperando algo que já havia conseguido. mas como?
é isso que acontece quando você aposta que vai perder. mesmo que ganhe, você acha que perdeu.
isso não explica o (devo registrar aqui que fiquei 20 minutos tentando completar essa frase, e não consigo, por não saber o que de fato isso não explica)

ela, de repente, viu como num filme todos os (+) que não aproveitou. e se pergunta: todos eles se transformaram em (-)?
me lembra Vozz dizendo "amor não pode se resumir em café".

ela me cochichou ao ouvido que a frase ao telefone conforta, mas não justifica:
"quando a pessoa gosta, se importa. se não, simplesmente não era. algumas coisas nem sempre conseguem acabar bem."
e diz: tá bem, mãe. boa noite.

23 de dezembro de 2007



último dia de fechamento da Rolling. último fechamento do ano. e talvez meu último fechamento. lá vou eu mudar de ares de novo, depois de quase 3 anos livre, leve e solta. vai ser bom. 2007 precisava acabar encerrando tudo. foi um ano em que muita coisa se perdeu, de graça, e hoje de manhã quando saí de casa, percebi que eu tinha voltado. só pela roupa que eu escolhi. Lidia Paula de volta ao formato Lidia Paula. ainda não downloadei totalmente quem eu sempre fui, mas to chegando. pra quem tava com saudade de mim. to aqui. com alguns pedaços a menos, mas na essência.
a fotinho tem a cara do dia. claro, fresquinho. Marcinho quase dormindo e eu... eu assim, dando o que tem de melhor aqui no momento. sorrisinho e boa conversa na padoca entre uma matéria e outra...

21 de dezembro de 2007

menina-mundo? você ainda está aí?
a menina-mundo fez tudo na vida quase certinho. de repente, resolveu (com perdão da expressão) fazer merda sem parar, e pior, consigo própria!
será que aos 30 anos todos nós começamos a concluir as mesmas coisas?
que nao adianta ser o que é, sempre te enxergarão como querem.
que por mais coisas boas e agradáveis que se faça, o que será lembrado serão as escorregadas.
que nem sempre as verdades são verdades e que as mentiras podem ser levadas em consideração sempre que convenientes sejam.
que chuva e sol não é casamento de espanhol.
que loja de 1,99 não vende quase nada de 1,99. e quando vende, nunca dá 1 centavo de troco.
que ter afeto por alguém não significa que esse afeto será levado em consideração quando houver um problema.
que de nada vale o que você é, disse ou ouviu. hoje é hoje e ontem nem existe mais.
que você ainda dá valor para os seu princípios, mas esqueceu que não tem mais 17 anos.
que se você acostumar todos à sua risada, eles não saberão te abraçar quando precisar chorar.
que os que te conhecem por dentro te salvarão de se perder de si mesmo.
que se o peito caiu, foda-se. deitada tudo se ajeita.
que se você fica demais, é insistente. e se sai, é desistente.
que não adianta dar nada para quem não quer ou não sabe receber.
que amor é pessoal e intransferível. use um para cada pessoa.
que você não é clarice lispector e às vezes só escreve porcaria.
e que o certo é Nossa Senhora de Aparecida e não Nossa Senhora Desaparecida.

menina-mundo, menina-mundo.
resumiu seu mundo imenso a um buraquinho escuro e sem ar. por que?
não se decepcione com você mesma apenas porque se deixou levar por emoções.
é pra isso que vale a vida, tá lembrada?
você só estava muito mal acostumada. só havia encontrado pessoas que entendiam.
você resolveu parar de fumar, porque por mais prazeroso que seja, isso te faz mal.

aos 30, você também percebe que seu vasto vocabulário às vezes é incapaz de expressar tudo o que sente. e descobre, a duras penas, que não pode explicar tudo. e quem não quiser entender, não vai tentar só por você.
aos 30, você aprende e começa a se convencer de que tem que aceitar que nem todo mundo guarda uma boa imagem de você, e que isso não significa que você não tem essa boa imagem. significa que a lente não estava ajustada ao ângulo.

e mais importante, seu karma talvez não seja abalado só porque você valorizou demais uma situação.
tente não levar tudo tão a sério. (momento de auto-convencimento de uma nerd emocional)

20 de dezembro de 2007

não me ensinaram na escola a lidar com pessoas que não dizem.
pessoas que não dizem sim, pessoas que não dizem não. pessoas que sequer dizem talvez.
E você sai tentando adivinhar o que elas querem dizer.
e é o início do erro, tentar adivinhar o que o cara que não diz quer dizer.
e você pensa: tão mais fácil expressar. coisa boa ou ruim. tanto faz. evita maiores enganos.
aí, você, que defende a teoria do "falar", vai lá e puft, desata a narrativa.
de ansioso a louco espumante, é um pulo.
há os espertos, que se aproveitam disso para usar suas próprias palavras contra você mesmo. e puft de novo, você se traiu.
a pessoa vem, te dá um tapa e chora, como se fosse você que tivesse batido.
às vezes acho que é o prazer de ver o outro meio caído.
até que você chega no ponto do "perdoa-me por me traíres".
tenha dó.
e o louco, o que tem espuminha na boca, é você.
e é mesmo. louco de pedra de se deixar manipular.
tudo bem que você estava cego.
então vamos fazer um teste?
abre um olho. agora o outro.
olha aí ó!

Se você se der para quem não sabe receber, corre um imenso risco de ficar embrulhado num canto da sala.

18 de dezembro de 2007

Às vezes somos meio mosca, que a vida inteira leva 24 horas.
Em 24 horas conseguimos passar pelo processo de N sentimentos. É quase como transitar sobre os ciclos em minutos.
Sentir, considerar, analisar e querer solucionar em horas coisas que a maioria das pessoas leva dias, semanas.
Não significa mudar de opinião toda hora. Mas absorver rápido demais tudo. As dores e as alegrias - talvez o princípio da insatisfação.
Se eu engravidasse agora, talvez meu filho estivesse pronto pra nascer em no máximo dois dias.
Será uma leitura dinâmica da vida, dessas que você só vai registrando palavras-chave?
Não. Impossível uma vez que vou fundo demais em quase tudo. Só sei que é cansativo tantos sentires num período tão curto.
Pessoas não acompanham e fica sempre essa impressão de que vc tá levando tudo rápido demais.
Quando minha mãe comprava os livros da lista de material do colégio, dias antes de começar as aulas eu ja havia lido todos. Quando a professora ia dar uma matéria, não tinha a menor novidade pra mim.

Sometimes, se alguém me magoa pela manhã, e eu rebato, em horas já fiz um exame de consciência e já me arrependi, e já me senti mal e já pedi desculpas e já estou pronta para que tudo volte ao normal. E a outra parte ainda está só p da vida.
Agora, pra quê estou escrevendo sobre isso, nem me pergunte.
Foi algo que veio à cabeça depois de um período de dor, mágoa, saudade, vontade de estar longe e por fim, desejo de estar perto. A única coisa que tem um tempo longo de existência é a falta. Sentir falta demora.
E eu me dizendo: acho que você precisa desacelerar.
O tempo das coisas é muito maior que o teu.
Na urgência de sofrer menos, acaba-se por sofrer repetidamente.

Conversa filosófica sobre a solidão com um pai ausente à 1h30 da manhã.
Sim. O mundo tem salvação.
E lá estamos nós, eu e ele, trocando MSNs sobre ser ou não ser sozinho.
Ele não me falou nenhuma novidade. Mas talvez eu o tenha surpreendido.
Ok, dizer que ele não me falou nenhuma novidade é duro demais. Me disse que escolheu ser sozinho por sobrevivência, mas que sabe que foi a escolha errada.
Palmas e plaquinhas para papai.
Sim, caros mortais. Deve ser o perfume de Papai Noel se aproximando. Corações amolecem.
Por falar no barbudo, este vai ser meu primeiro natal só. Sem mamãe, sem tradicionais passadas nas casas dos amigos, e sem natal da Xuxa se Deus quiser.
Triste? Não, nem um pouco. Acho que vai ser, no mínimo, enriquecedor.
Durante quase 15 anos, ele sempre esteve lá, um pouco depois da meia-noite ele chegava.
Não é o Papai Noel, porque desde os 4 anos, depois que eu descobri a bicicleta atrás da cortina, eu já sei que ele não vem. Não que não exista, mas é uma questão de logística.
O Cara ao qual me refiro é aquele predestinado a mim, assim como eu a ele, por puro karma. E vamos combinar que é um karma bem bom de pagar.
Neste ano, que vai até ele sou eu. No mínimo será emblemático.
Segundo ele, nós, o peru e o vinho nos bastamos.
Segundo eu, a gente vai queimar o peru, beber todo o vinho, chorar duas vezes e morrer de rir. Tem coisa melhor?
Então vai lá, pedido de natal: papai do céu, mantenha minha boca fechada para que eu não termine o ano choramingando meus assuntos insuportáveis nos ouvidos santos do meu melhor amigo. Me engasga com o peru, mas me mantenha de boca bem fechada. Ele ja pagou os pecados por este ano.
Agora, no ano novo...


2h44 - comi um balde de arroz com qualquer coisa e to com um buraco imenso no estômago. A coca-cola acabou. A dor aquela tá adormecida.
Não vou fumar mais porque o pulmãozinho dói e nada me convence de que isso não é o início de alguma coisa bem séria. Sim, perco tudo, menos a dramaticidade.
Vazio! É isso. O buraco no estômago. Será meu vazio? Aquele que venho pedindo há semanas. Deus é pai, me esvazia de mim. (isso não é simpatia pra emagracer, ok)
Nenhuma música permeou esta noite.
Vejamos se há alguma que faça sentido...
Veio na cabeça uma da Ana Carolina, velhaaaaa que dói. Mas deixemos Ana pra lá.
Outra.
Meu nome é Gal, e desejo me corresponder com um rapaz que seja o tal. Meu nome é Gal. E não faz mal que ele não seja branco, não tenha cultura de qualquer altura, eu amo igual. Meu nome é Gal. E tanto faz que ele tenha defeito e traga no peito crença e tradição. Meu nome é Gal. E eu amo igual.
Meu nomeee Gallllllllll...

12 de dezembro de 2007

3h54 - em casa. Gosto mais da noite. Vim caminhando pela rua molhada e vazia.
Tem um ar na noite que me faz sentir bem. Tudo fechado, um carro ou outro. Entro em casa e recebo afagos. Eles estão sempre me esperando. A última música pôs todos sentadinhos no palquinho. Parecia uma foto do jardim de infância.
Tirando Maria Sapatão, acho que até as japonesas só falam de amor pra lá, amor pra cá. Entre alegres e tristonhas, todas fazem a gente pensar em alguém. Blá. Fiquei olhando pro japonês gordinho do outro lado, enquanto lia a letra de Flor de Lis na televisãozinha. Em quem será que ele pensava? "Valei-me Deus, é o fim do nosso amor. Perdoa por favor, eu sei que o erro aconteceu, mas não sei o que fez tudo mudar de vez, onde foi que eu errei. Eu só sei que amei, que amei, que amei. Será talvez, que a minha ilusão foi dar meu coração pra essa moça me fazer feliz. E o destino não quis me ter como raiz de uma flos de lis...".
Música vai, música vem. Boas risadas, meio amerelas às vezes, mas boas risadas.
Agora um silêncio molhado de chuva. Tem jeito de se fazer mais noites que dias?
Não sei o que é, mas a noite me dá sensação de abraço. Nunca consegui explicar exatamente, mas alguém deve saber do que falo.
4h18 - logo vem o sol, novo dia. Será que quando eu abrir os olhos daqui a pouco, virá o mesmo primeiro pensamento de todas as manhãs? Por favor, não.
O senso de humor do Todo Poderoso tá começando a me encher o saco, sabia.
Dá pro Senhor ir tirar uma com a cara de outro?
Valentina deitadinha me olha e deve pensar o quê?
E pensar que semana que vem, ela não estará aqui. Batendo o rabinho no chão quando me vê.
Ela vai estar mais feliz. Isso que importa. Eu... não interessa. Já sou gente grande.
Sou??
Às vezes me sinto gente pequena. Gente que só quer colo.
Pelo menos ainda estou aqui. Às 20h30, achei que não estaria. Foram dois tiros do ladinho de onde eu estava. Dois caras correndo e eu pensando: Deus, que eu não ache uma dessas balas que acabaram de se perder.
Blá. Boa noite musical
Ah, cantamos Deslizes. Sucesso.
E o quentinho do note na minha barriga neste momento é impagável.

7 de dezembro de 2007

ele chegou
veio carregado pela música
sabia que era esperado, e com toda força derrubou, pôs-se abaixo
escorreu aos poucos, como escorro eu
e pingou no peito
soluçou quase falso, insistiu em não parar
e que não pare. é bem-vindo ao seco do engasgo
recebido de braços abertos e olhos fechados
molha, lava pra fora daqui com essa tristeza que finge alegria pra não se acabar
desce o rosto justificando tua demora
treme, e estilhaça a burrice, a tolice
devolve a vergonha
ocupa teu lugar
limpa o peito pra que o engano seja visto
não se engana ninguém a não ser a si mesmo
tua ausência deixou o limite pra trás
nada faz sentido
você vem e pergunta quando vou conseguir parar
não sei, não sei. quero e preciso
me venci
agora me lava, leve o tempo que precisar
não pára assim sem porque
enche de agua salgada meu vazio
triste é perceber-se ridículo para si mesmo
que merda é essa que você ta fazendo

parou, não consigo nem terminar o verso
não há poética que resista à falta de capacidade de sofrer com dignidade
a vida não é um jogo de memória
nem todas as dores são repetidas dos dois lados
tua saudade não se repete por lá
a falta que te fazem não espelha a tua falta
muito bonito, mas eu não consigo aceitar


e minha própria poesia me diz: foda-se você.

6 de dezembro de 2007

Meus olhos não permitem uma gota caída por medo que me eu me afogue em minha própria lágrima.
Minha letra rabiscada descreve o sorriso largo que me faz lembrar os doces olhos e o som da voz.
Certo dia, esses olhos cruzaram meu caminho.

O que será que me dá que me bole por dentro
Será que me dá

Certo dia, vi o sorriso se abrindo como lentamente olhos abrem sonolentos pela manhã depois de um sonho esperado.
Que brota a flor da pele será que me dá
E que me sobe às faces e me faz corar

Certo dia, ouvi a voz. Suaves primeiras palavras. Conheci o primeiro tom: tímido.
Segui vendo ao longe.
Certo dia, um olá.
Um convite aceito de susto. A vergonha na cara que me faltou me mostrou o caminho.
Era isso. Era exatamente isso.
Certo dia, o telefone tocou.
E tocou novamente. E de novo.
E entre graças, ninguém percebeu.
O pó mágico teu e meu.
As noites brilham mais desde lá.
E brilham, todos sabem, todos vêem.
Negativas. Quantas negativas combatidas lá e cá.
E que me salta aos olhos a me atraiçoar
E que me aperta o peito e me faz confessar

De tantas pedrinhas ladrilhadas, nenhum olhar nunca quis mentir.
O que não tem mais jeito de dissimular

A chuva que chora lá fora faz lembrar as primeiras lágrimas que tanto me encantaram.
Acho que te amei alí.
A capa dura não escondeu de meus olhos, que fingem olhar pra onde não se sabe, essa fragilidade.
Desejei alí.
E que nem é direito ninguém recusar

Perdi teus olhos de vista tantas vezes que perdi a conta.
Um anjo que insiste em voar sobre nós trazia de volta. Ele pleiteia suas asas por nós. Num céu de algodão.
De algodão teus lábios nos meus. Noite inesperada. Noite improvável. Incompreensivelmente provável aos olhos do anjinho.
E que me faz mendigo me faz implorar
O que não tem medida nem nunca terá
O que não tem remédio nem nunca terá
O que não tem receita

Pequenas confissões.
Esse coração que se parte e se refaz, movimento interminável.
Não teve jeito.
O caminho era de encontro. Tentativas de desvio em vão.
Mas pra quê?
Pra que desviar do que nos faz sorrir de doer a barriga?
Certo dia, dormiu em meu colo.
Arrisco achar que ali você sentiu.
Tão protegida se desprotegeu.
Meus minutos viraram horas.
E teu sono consegue ser mais lindo que a palavra que o descreve.
Certo dia, de repente, a distância-ausência aproximou tudo...
O que será que será
Que dá dentro da gente que não devia
Que desacata a gente que é revelia
Que é feito aguardente que não sacia
Que é feito estar doente de uma folia

E foi um pouco tão muito que não se aguentou em si.
Desordenadamente, o sentimento mais intenso, dolorido e apaixonante justamente por ser de uma suavidade brutal calou.
Esse "nosso" não se escreve. Esse "nosso" mora nos olhinhos ora verdes ora de mel, mora nesse espaço que vai daqui até aí.
Nem todos os unguentos vão aliviar
Nem todos os quebrantos toda alquimia
Que nem todos os santos será que será
O que não tem descanso nem nunca terá
O que não tem cansaço nem nunca terá
O que não tem limite

Essa saudade que não permite ausência.
E uma aflição medonha me faz suplicar
O que não tem vergonha nem nunca terá
O que não tem governo nem nunca terá
O que não tem juízo


Boa noite, bom dia, boa noite, bom dia, boa noite...
Boa noite e bom dia são encontros. Lindos encontros como você.

1 de dezembro de 2007

Duas da manhã. Hoje, o trabalho foi daqueles que dá mais prazer que trabalho. Um livro lindo, que vai ser um estouro. Revisei, devorando em pequenas horas.
Djavan cantando louco aqui atrás. E há neste mundo musical quem cante coisas de amor tão leve quanto ele? Eu quero ser uma música do Djavan.

Vou dormir, há uma moça meditando na Índia há meses, esperando para ser lida. Devo isso a ela, e farei já.

"Teus sinais me confundem da cabeça aos pés, mas por dentro eu te devoro. Teu olhar não me diz exato quem tu és, mesmo assim eu te devoro."

Djavan é foda. Podia ser qualquer canção, mas deixo esta nesta noite.... corre solta musiquinha.

Boa noite,

30 de novembro de 2007

coração pode ser apenas uma iguaria servida no espeto - ou - as coisas são o que são, tá tudo certo

De repente, você percebe que sua importância é menor que a de um omelete.
Não vem ao caso. Mas dói.
Não adianta querer entender. Você não vai. Porque não vão te permitir.
E quem te disse que tens direito a alguma coisa, menininha. Acorda!
E foi assim, e é assim. Se você cansar de brincar, levante-se e vá embora. Não importa se há outra pessoa à sua frente.
Essa poderia ser a lição número 29 do manual "Como Desprezar Qualquer coisa que Não te Importe".
Mas não é.
Isso é simplesmente o modo como você jamais deveria esperar ser tratado por quem um dia te disse: "Gosto tanto de ti". (ou talvez seja o que todos nós deveríamos fazer, se assim sentirmos)
Mas acreditar em tudo que se ouve é coisa de criança de 5 anos. Tudo bem, ano que vem, completo 6.

Vozz (nome dado carinhosamente ao amigo que sempre me diz as coisas mais duras e sinceras - duras por serem sinceras e sinceras por serem duras, enfim) me diz: Ninguém tem importância para ninguém, porque entre você e eu, antes venho eu.
Sábias palavras, Vozz.
Eu: Tá. (desculpem-me, neste momento não consegui dizer mais nada. Vozz sempre me derruba)


Levantei daquela mesa - depois de ter ficado olhando aqueles olhos que já tanto eu havia admirado em outras situações, mas que desta vez espelhavam um outro tom, quase incomodados por terem de me olhar - me sentindo ao mesmo tempo em pedaços e liberta. Eu também sofria. Eu também estava desconfortável. Mas eu estava ali, disposta a viver. Tentei me permitir viver uma coisa que nem eu conhecia, simplesmente por acreditar que valia a pena. Mas também não consegui. Vale a pena se apaixonar, vale a pena gostar, vale a pena viver isso, dure o que durar. O que não vale é acharmos que estamos vivendo algo que nem nos demos o trabalho de nos permitir viver.
E foi isso. E é isso.
E é quando se percebe que se esteve sozinho o tempo todo.
A proposta era em dupla, mas a dupla se protegeu tanto de si mesma que sequer aproveitou o pouco de carinho que deixava escapar.

Das piores coisas, não poder contar as vezes que lembrar de você ao ver algo na rua talvez seja a mais triste.
Sentir o perfume trazido por uma brisa no meio da tarde e não poder ligar e ouvir a voz.
Coisas primárias que se sente quando se tem alguém no coração.
Lembrar das coisas que se viveu, ainda que poucas, não nos protege de sentir saudade das tantas outras que não tiveram oportunidade de acontecer.
O telefone não vai mais tocar pela manhã com um bom dia, ora risonho ora sério. O celular não vai mais apitar no meio da noite ou em momentos inesperados com uma mensagem que traga um sorriso imediato aos lábios.
Não vou mais te ouvir rir no meio da madrugada, ao telefone. Diga-se de passagem, boas risadas.

E o porquê disso é simples: me convencestes de que onde achei que havia algo não existia nada.

Choro engolido, uso o diafragma para respirar e levantar. Decida esquecer, me digo eu mesma.
É sobrenatural para pessoas como eu esquecer coisas mal resolvidas.
Não estou no mundo para adquirir Karma. Não sigo caminhando simplesmente ao deixar coisas não ditas para trás.
Desta vez, a exceção, talvez não haja nada para ser dito.

A força com que o maxilar cerrado pressiona o peito determina:
Me guardo agora, dentro da menor caixinha de fósforos que encontrar. E quem sabe eu aprendo com você a não me importar com o que não tem importância.

Depois de passar pelos espinhos, a descoberta: o cactus não tinha água.

A história foi linda, e apesar de você, te guardo.

Enfim, nada disso importa. Aviões continuarão caindo. As calotas polares continuam derretendo, e os pingüins manchados de óleo se abraçam.

Ogunhê, meu pai. LUZ!

29 de novembro de 2007

ele já disse...

"Quando é mais penoso compreender tudo, tomar consciência de todas as impossibilidades, de todos os muros de pedra; porém não se humilhar diante de nenhuma dessas impossibilidades, diante de nenhuma dessas muralhas se isso te repugna, chegar, seguindo as deduções lógicas mais inelutáveis, às conclusões mais desesperadoras, no tocante a esse tema eterno de tua parte de responsabilidade nessa muralha de pedra, se bem que esteja claro até a evidência que tu não estás aqui para nada, e em conseqüência mergulhares silenciosamente, mas rangendo deliciosamente os dentes, na tua inércia, pensando que não podes mesmo te revoltar contra seja o que for, porque não há ninguém em suma, porque isto não é senão uma farsa, senão uma falcatrua, porque é uma trapalhada, não se sabe o quê nem se sabe quem, porém que, malgrado todas essas velhacadas, malgrado essa ignorância, tu sofres, e tanto mais quanto menos compreendes."
Dostoiévski

19 de novembro de 2007

só a queda salva

O mundo de Maysa caiu.
E depois dela, mundos sem fim caem todos os dias.
Caiu o mundo da menina dos cabelos cacheados e lábios molhados sempre prontos a dar uma gargalhada. E quando ele veio abaixo, ela chorou sorrindo... E chorou, e chorou. E ele veio abaixo novamente, e ela sorriu chorando.
Caiu o mundo da pessoa bom-senso, dura consigo mesmo. E quando caiu, trouxe toda a falta de senso que às vezes é necessária para sobreviver.
Despencou o mundo do homem-menino, sempre impávido. E ainda caindo aos pedaços, revelou o quanto é perfeito ser frágil para sí mesmo.
Sentada na beira desse abismo que somos todos nós, olho pro cinza-chumbo do céu e peço para que venha a queda. Esse mundo que está prestes a cair
é pesado suficiente para não deixar sobrar nenhuma pedra capaz de incomodar sapatos.
Aquele mundo que desceu rolando antes não podia prever tamanha ironia. Não sonhava ser um ensaio para a grande queda.
Menos infelizes os que conseguem ver seus mundos caindo.
Esperar por uma queda iminente é tortura assustadora.

Pois que ele caia atravessando a rua.
Que ele caia entre um gole e outro, ao olhar para o lado e ver a sombra da confirmação caminhando em direção oposta. Endosso de que teu mundo não passa de uma obra de arte lindamente produzida para fingir ser feliz.
O homem-menino diz que tudo é escolha. Eu escolho ficar até que ele caia ao prantos.
Estranho é perceber que a dor é a única capaz de libertar.

Conta-gotas de amor mata pensando que é bom.
Não vale condicionar nosso mundo a uma gota. Gotas não nos permitem boiar.
E amor em paz é como uma tarde boiando no sol. Amor precisa de inundação.
E vem Maysa finalizando...
"Não fui eu que caí
Sei que você entendeu
Sei também que não vai se importar
Se meu mundo caiu
Eu que aprenda a levantar"

Às vezes, ela luta, luta, luta. E uma hora, no meio da briga, olha para o lado e percebe que não sabe mais nem porque está lutando.
E ela larga as armas no chão e vai embora caminhando. É quando deu tudo de si e de tão nobre que era, se tornou vã.

Ainda não foi agora. Mas ela aguarda.

18 de novembro de 2007

Eu não quero cantar pra ninguém a canção que eu fiz pra você...

14 de novembro de 2007

aos soteropolitanos de passagem

Uma vez acompanhados de pessoas pares, nunca se estará sozinho. Seja aqui, ou em milhões de voltas ao mundo. O ponto zero sempre será o ponto zero, redondinho como um abraço de amigo, que vai estar sempre pronto para a volta.
As pessoas pares não caminham sem um ombro, sem uma bússola. Se oriente... pela constelação... e ouça lá no fundo, a musiquinha que sempre te acompanhou, pra chorar com trilha: oferecimento especial de Pingolino e Valentina.

Eu desço dessa solidão
Espalho coisas sobre
Um Chão de Giz
Há meros devaneios tolos
A me torturar
Fotografias recortadas
Em jornais de folhas
Amiúde!
Eu vou te jogar
Num pano de guardar confetes
Eu vou te jogar
Num pano de guardar confetes...

Disparo balas de canhão
É inútil, pois existe
Um grão-vizir
Há tantas violetas velhas
Sem um colibri
Queria usar quem sabe
Uma camisa de força
Ou de vênus
Mas não vou gozar de nós
Apenas um cigarro
Nem vou lhe beijar
Gastando assim o meu batom...

Agora pego
Um caminhão na lona
Vou a nocaute outra vez
Prá sempre fui acorrentado
No seu calcanhar
Meus vinte anos de \"boy\"
That's over, baby!
Freud explica...

Não vou me sujar
Fumando apenas um cigarro
Nem vou lhe beijar
Gastando assim o meu batom
Quanto ao pano dos confetes
Já passou meu carnaval
E isso explica porque o sexo
É assunto popular...

No mais estou indo embora!
No mais estou indo embora!
No mais estou indo embora!
No mais!...

6 de novembro de 2007

numa bulinha de papel amassada no cantinho da mesa se lia:

Um dia, você acorda e alguma coisa está diferente.
Você sabe o que mudou, mas não por quê mudou. E percebe que nem é bom querer saber.
Só sente que há algo tão bom no ar, que dá até medo de respirar muito fundo e isso se perder.
Ando sonhando. A 1100 quilômetros de distância de ti. E foi você que me fez dormir. Que me pegou no colo um dia e decidiu me embalar, mexer no meu cabelo e
cantar uma musiquinha suave olhando pra mim. Como nunca olhou, ou como nunca quis que eu soubesse que olhava.
Tenho medo de voltar e acordar. Mas também quero acordar e descobrir que o sonho não era só de olhos fechados, à distância.
Seis imagens inesquecíveis. Seis frases arrebatadoras. Seis pequenos gestos que significam muito. Seis momentos que fazem parte dessa historinha, que até agora, eu pensava escrever sozinha.
Descobri que, seja de que forma for, eu existo um pouquinho aí, assim como você tem existido um montinho aqui.
Chorei, sorri, perdi a respiração, suspirei, lembrei, desejei, mas mais que tudo, me encantei com a tua doçura, guardada a sete chaves, talvez justamente por saber ser tão doce.
E já que essa portinha foi aberta, mesmo que eu ainda não entenda o porquê. E já que me permitiu ver, ouvir, sentir. E já que... Paralizo palavras e atos torcendo para ninguém acender as luzes.
Hoje, meus silêncios falam mais que minhas palavras. Já falei demais. Só sei dizer que esse poder de me surpreender é little deli como você.
Ainda não sei exatamente o que significa o teu "No matter how long it lasts", mas desejo que não seja um boa noite sem bom dia.
Let`s go. Passar pelo espinho torna a água mais preciosa. E eu to aqui pra me molhar.
Cada dia uma gotinha. Garante vida longa ao nosso cactus. Desejo que ele cresça, forte e que fique.
Thanks for came, thanks for smiling with me, thanks for making me cry and making me laugh. It`s so beautiful see you remember.
And no matter how, it is. For us.
Somos pinguim, somos golfinho. E hoje em dia...
Kiss slumber.

4 de novembro de 2007

Trinta anos comendo pizza, e hoje descobri uma coisa que estava tão óbvia. Eu não gosto de PIZZA!
De repente, com o sol na cara, no final de uma tarde de domingo, me veio a revelação.
Inocentemente, eu comentava sobre a pizza da noite anterior e me veio aquela sensação de insatisfação, tristeza e sei lá mais o quê que me fez sentir mal.
Deprê total e a constatação de que, de fato, eu odeio pizza. Só pode ser isso, porque, de repente, senti tudo o que eu sempre senti toda vez que pedi uma.
Coisa mais ingrata.
Pois bem, devo fazer parte de mais uma minoria.
Só sei que por mais que eu ache que eu gosto da tal redondinha, sempre que estou presente no mesmo recinto que a dita, me sinto muito, muito estranha.
Será que a minha energia e a da pizza não combinam? Será kármico? Tenho a impressão que ela carrega tudo nas costas. Talvez eu precise ir mais fundo na
investigação e descobrir exatamente quais sabores me atingem. Já percebi que 4 queijos definitivamente deve ser meu complementar mórbido.
Só de pensar, chego a considerar suicídio um ato de amor.
Na verdade, acho que o processo desencadeado pela pizza no meu ser é o de decepção. Eu sempre espero muito mais da palavra pizza do que simplesmente uma massinha fina com molho, queijo e qualquer outro anexo.
Já repararam que quando alguém diz: "vou pedir uma pizza!", parece que declarou que vai salvar o mundo?
Aí é que tá. Devo ter sempre esperado a tal salvação do universo e no lugar disso, vinha a maldita.
ë bem provável que eu continue comendo pizza, até porque, algumas são realmente boas. Mas pelo menos agora sei que tipo de relação eu tenho com elas.

2 de novembro de 2007

Manifesto do "cuidado com o que pedes, pois podes conseguir" (leia em tom de protesto)

"O seu corpo é dos errantes, dos cegos, dos retirantes e de quem não tem mais nada...
...Ela é um poço de bondade, e é por isso que a cidade vive sempre a repetir:
Joga pedra na Geni, joga pedra na Geni. Ela é feita pra apanhar, ela é boa de cuspir."
Está aberta a temporada do auto-desrespeito!
Libertemos nossas Genis. Ela vive em nós, a escondemos por uma moralidade sustentada a regras inadaptadas ao coração.
Mas coração é músculo, que vai e vem. Adapte-se, rapte-me, ó camaleão. Assuma a cor desse dinossauro em sua garganta e engula, com prazer.
Não sofra por ser feliz apenas um pouco. Transforme seu pouco no todo que merece. Corra das pedras, junte-as e construa um castelo que protegerá teus desejos.
As pedras que atiram em nós protegerão nossa loucura sã. Dê para receber.

Santo Antônio é coisa do passado, de nossas vovós. A ordem agora é louvar Santa Geni.
Comporte-se como ela uma única vez em sua vida e estarás fadado a carrega-la em seu código, em seu RG, em seu coração.
Não se arrependa, pois não há volta. Os genes serão GenIs de agora em diante. Prostituidamente amados no mais puro DNA de solidão.

Sigam-me os puros e impuros. Os que se submetem a seus sintomas de amor.

Salve!

27 de outubro de 2007

Engano - desacerto, deslize, voluntário ou não; erro de julgamento, de percepção dos sentidos; devaneio, ilusão.
Talvez a maior ocorrência entre nós, seres nem tão humanos como insistimos em nos denominar.
O engano acontece, ou é provocado, pela necessidade de acreditarmos em algo que queremos muito que exista.
Enganar não é tão grave quanto enganar-se. E este cheiro de patchouli tem tomado conta dos sentidos, trazendo uma leve sensação de conforto. À parte o devaneio olfativo que me acompanha no momento, volto ao auto-engano, fenômeno que deve matar mais que as grandes epidemias. Pois é ato concedido. Nos enganamos diariamente, à luz do dia, sem nenhum pudor de nós mesmos. E vim aqui para assumir o engano.
Me enganei. Com todo o prazer do mundo, me fiz acreditar no que queria que fosse real.
Você, ser que me acomete aos melhores sonhos, não existe de fato. Enganei a mim mesma ao atribuir a você um significado determinante para meus sentimentos. Ninguém me enganou. A não ser eu mesma. Praticamente, é como transformar teu sorriso em uma declaração de felicidade. É como ler nos teus olhos um "gosto de ti" que não passe de um "você me distrai". E é, acima de tudo, ler o teu "gosto de ti" de fato, quando o dizes, como se fosse uma grande demonstração de te considero.
Acostumem-se. Dizer qualquer coisa não significa mais dizer alguma coisa. Talvez a física quântica tenha alguma explicação para o auto-engano. Para o fato de tomarmos uma verdade que não pretendia existir como razão para seguirmos esperando.
Nada faz sentido, muito menos este texto. jogado às linhas embebido em vinho e nicotina. Porém, de acordo com aquela teoria daquela menina maluca de sentidos e sentimentos,nada é tudo, e ninguém é todo mundo. Pois, se aqui não há nada, há tudo em seu lugar. Afinal, ninguém está ou todo mundo não está?
Se eu sou e você também é. Quem deixou de ser, para que não sejamos?
Bebi. Sim, bebi. Mas não demais para deixar de saber que me enganei. E pior, sigo querendo me enganar. Porque acredito em enganos. Um doce engano. Que estava ali, na minha frente, gritando: sou um engano!.
E se existe a expressão "feliz engano", espero que este seja um deles.

17 de outubro de 2007

1992. Basicamente ontem na memória.
Achava que tudo seria tão mais ficcional. Tão mais definitivo. A placa no caminho dizia que lá na frente, muitas coisas seriam estabelecidas. E pensava comigo que não poderia haver mudanças. Depois de feito, rotulado, assinado e protocolado, nada poderia mudar.
Ledo engano. Quando me vejo caminhando pela rua, dando risada ou pensando quase a mesma coisa que pensava quando passava por uma ou outra pessoa naquele ano, percebo que na verdade, a vida e realmente um dia após o outro, com 24 horas de diferença entre eles.
O dia de hoje, muito provavelmente será igual ao de daqui a 15 anos. Uma ou outra mudança. Hoje em dia, muito mais externa do que interna.
Espero coisas diferentes, mas espero do mesmo jeito. Amo de maneiras diferentes, mas nas mesmas intensidades. O riso é mais denso, mas muito mais original.
E o olhar para o lado pensando estar fazendo algo que não devia. Esse não existe mais nem de longe. Comprar qualquer coisa no boteco da esquina me faz sair de mim por uns segundos e me enxergar como as pessoas com quem eu queria parecer. É infantil, quase provinciano. É sentimento de criança que cresceu em cidade com mais árvores que pessoas. Que comia maçã do amor no parque Farroupilha e estava protegida do mundo, naquele mundo que só quem teve infância de amarelinha com Chicabom sabe reconhecer.

Percebi a pequenice da vida quando deitada sobre o cobertor vermelho, lembrei-me de que somos sozinhos. E a solidão, essa amiga de todo filho único que tem sempre que fazer duas vozes diferentes quando brinca com seus bonecos, se apresentou a mim, estendendo sua mão quente - sim, esta solidão tem as mãos quentes - e me dizendo que estava na hora de eu tomar conhecimento de sua existência.
Quando o telefone toca em uma noite linda, e a voz digitalizada de minha mãe diz que não passa bem e precisa de cuidado, e eu, impotente, só posso dizer um "fica bem, mãe. Te cuida e qualquer coisa, me liga", soa um alarme que conclui: transformar-se em um adulto é passar a dizer frases feitas que não tem efeito prático nenhum para a própria mãe. E pior, transforma-se em um adulto é sentir falta do colo, mas conformar-se em não tê-lo. E por fim, deparar-se com a tal solidão e reconhecê-la como uma velha amiga, que te acompanhará pro resto da vida, por mais pessoas que você carregue ao seu lado. E isso, nem de longe te faz triste, pelo contrário, te acalma, por saber que essa solidão estampa o teu próprio rosto e te conhece melhor que ninguém. Essa solidão, a tua solidão, te abraça e esquenta o lugar aparentemente vazio aí do lado.

14 de outubro de 2007

Just don`t understand when it come, look like be ok, and them seems to be a dream that never happened.

7 de outubro de 2007

Isso é o quê?

Se me perguntar se te gosto como amor, responderei que sim.
Porque minha barriga esfria quando te vejo.
Minha mão treme, e meu olho deve brilhar.
Sentimentos podem ser confusos naturalmente.
Imagine, então, os que nós confundimos... Mas tem coisa que não dá para confundir.
Te ter deitada no meu colo, quietinha, abraçada como se estivesse sonhando, foi mais que um beijo, mais que cama, mais que ter ou não ter um rótulo definindo o que acontece entre nós. Prefiro os sentimentos aos rótulos. Desde que eles existam.
E se fico te olhando, não é por medo. É por querer congelar aquele segundinho em que você está ali, na minha frente, quase só pra mim.
Me deixa entrar? Vi algo se abrir por aí. Eu prometo que não desarrumo nada. Só quero sentar, te abraçar, te fazer rir, olhar no teu olho e não querer saber o que você ta pensando.
E se é um beijo que nós aproxima, que seja ele que nos convença a ir adiante. Parece ter coisas interessantes logo ali.

Que cor tem essa história? Não sei, mas preto-e-branca não é. Se é para colorir, quero giz de cera e quatro mãos.

Nesse vai e vem que são teus sentimentos, eu sei que você talvez ainda vá embora algumas vezes.
Espero apenas que deixe um bilhete.

gosto de vc

4 de outubro de 2007

respiro

Quando uma dor chega no limite, ou ela te mata ou instantaneamente ela desaparece. Quase como se você fosse uma caixa d'água e tivesse um ladrão, que quando percebe que vai transbordar, escoa o líquido que te afoga.
Todo mundo deve ter passado por isso em algum momento da vida, percebendo ou não.
Você está lá, no meio de um sofrimento abissal, tendo a impressão que não vai conseguir e, de repente, uma sensação de paz toma conta de você. Um alívio desce pelo seu corpo, e você quase sente uma brisa passando. O estômago desembrulha, a dor no peito some. E a única coisa que você consegue sentir é um agradecimento profundo ao universo por este momento de descanso.
Tudo bem que, na medida que você vai ficando escolado no setor dores emocionais, você sabe que esse momento de respiro é finito. Tem tempo para acabar. E é provável e quase certo que logo a angustiante dor volte, enfim, a caixa começa a encher novamente.

Mas, são esses momentos que nos salvam de ter um infarte ou coisa do gênero quando passamos por situações-limite. É como se o seu cérebro lhe dissesse: "Ok, intervalo de 5 minutos. Tome uma água, enxugue o suor e volte para o próximo round". O adversário é o pior de todos: Você mesmo. E sabemos que não há luta mais injusta do que contra nós mesmos, afinal, nosso adversário conhece todos os nossos pontos fracos, e ataca sem dó. Aliás, a autocrueldade é a mais potente arma de destruição.
Você, na condição de uma criança (porque é assim que ficamos quando estamos tristes), implora internamente para que esse momentinho não acabe. E fica ali, tentando nem respirar muito que é pra não mudar de posição, porque qualquer fator pode interferir na benção que está recebendo.

A sugestão é: aproveite essa sensação para fixar a imagem de como é bom quando você não pensa no problema como um problema. Guarde o ritmo dessa respiração. Reconheça o que você é e o que você representa exatamente neste momento, em que você não está contaminado por nenhum pensamento destrutivo.
A dor vai voltar, mas são esses sentimentos que você vivenciou no seu momentinho-paz que vão lhe ajudar a combatê-la com mais força. Estima-se que ela sempre volte um pouco menor, até que uma hora não tenha mais razão de existir.

2 de outubro de 2007

eu cometi, tu cometeu. nós cometemos

O menino esqueceu de dizer que não queria mais brincar. Juntou seus brinquedos e foi embora. Bastava dizer: cansei, não quero mais. E a menina de trancinhas sentada na areia saberia que era hora de jantar.

As novelas e seus finais felizes. Tão perfeitos que a gente se nega a acreditar que são inventados.
E tomado pela aura musical de um final de novela, meu monitor, que há meses estava azul, retomou suas cores normais. Milagre? Talvez energia se movimentando pela sala.

Mas voltando à dramaturgia mentirosa, é impressionante como se consegue recuperar qualquer situação no folhetim. As pessoas brigam, se ofendem, se equivocam. E se por algum motivo se arrependem, voltam, de alma limpa, e despejam suas verdades umas nas outras. Quase sempre encontram um ser aberto a ser feliz e considerar os bons sentimentos... Doce mais doce que o mais enjoativo dos doces.

Já na vida, esta real de todo dia, cometemos erros iguais e piores que os tais personagens novelísticos. Porém, nem sempre damo-nos conta dos prejuízos, cometidos contra os outros e nós mesmos.

E alguém sabe por que razão dizemos coisas duras para pessoas que gostamos? Eu não sei.

Faço o mea culpa e percebo que de algum tempo pra cá tenho sido dura demais comigo mesma. Se alguém que gosto muito me machuca, vou lá e ME machuco mais um pouquinho. Como se não tivesse sido suficiente.
Da mesma forma, desconfio que tenho sido intolerante por vezes. Sabe-se lá por qual razão. Mas tenho sido uma pessoa diferente de mim mesma ao lidar com a dureza dos outros.

Não suporto ser acusada do que não faço, e não percebi que ando acusando demais também.

E quando percebo a troca de insultos tão desnecessários, me pergunto o por quê?

Acho que é hora de admitir e ter a decência de pedirmos desculpa.

Percebi o momento, e peço desculpas apenas por não ter conseguido mostrar que respeitava. O disco tocou ao contrário.

Não era essa a história que tinha que ser escrita. E os bons momentos são achatados por um ou dois versos maldosos trocados, ora por raiva, ora por dor, ora por simples saco cheio.

Posso falar por mim, que mesmo magoada, admito ter ido longe demais e em vez de dizer "você me machucou", tentei compreender pra salvar qualquer coisa que não era coisa nenhuma.

Não era o que eu queria dizer...nem o que queria ouvir.
Está feito e não tem volta. E isso talvez não venha mais ao caso...
Desejo dias melhores e palavras melhores, mesmo que elas nunca cheguem ao destinatário.

E é pena que percamos. De lá e de cá. Sem motivo algum que não a incapacidade de ficar quieto.

Alguma linha invisível foi ultrapassada.

Nos desculpemos, então, por passarmos por cima de uma história simpática, risonha e leve que estava sendo escrita, e que em algum momento nossas crianças internas resolveram pegar suas canetinhas hidrocor e rabiscar por tudo.

Hidrocor não pode ser apagada. Mas as folhas rabiscadas podem ser amassadas e sempre pode-se pegar outra para reescrever. Vou guardar as páginas que se salvaram...


Boa sorte, good luck, como diz a música...

So, so tired to fight

1 de outubro de 2007

Vou dormir no chão para ver se o desconforto substitui esse buraco no meio do estômago que me faz querer vomitar.
Mas adoro deitar no chão.
Não vai funcionar.
Melhor vomitar. Pôr pra fora a incompreensão de atitudesinexplicáveis de pessoasinexplicáveis.

Vamos à acusação: não há acusação concreta.
Você sequer ouve, não importa a verdade. Importa que você quer que a sua impressão seja a verdade.
Você condena e não revoga. Agride, agride de tal forma, que para uma pessoa comum, dessas que têm sensibilidade, seria praticamente uma auto-agressão.
O réu pede pra ser ouvido. Você não quer ouvir. Porque é mais confortável acreditar no que pensa ser a verdade. Neste ponto, voltamos a 1450 d.C., período medieval, e resolvemos o assunto às garrafadas.
Meia dúzia de vidros no chão, alguns litros de vinho desperdiçado, olhamos um para o outro e vem a questão: Por que mesmo fizemos isso?

Não sabemos. E aí está o grande ponto.
Alguma coisa acontece que nem mesmo eu, sempre disposta a explicar o sexo dos anjos, consigo decifrar. Neste momento me vem Caetano na voz de Bethânia: "Por isso uma força me leva a cantar...".
Mas que força é essa, caramba? Que coisa é essa que me faz me importar tanto com isso tudo. Por que faz tanta diferença se você pensa bem ou pensa mal? Por que não consigo simplesmente me chatear contigo e desistir de te querer por perto.
Nem eu sei. E não sei mesmo. Mas não consigo simplesmente concluir um "não sei" básico e seguir em frente. Fico procurando a ponta do novelo. E desenrolo e volto a enrolar umas 300 vezes. Nada de ponta... "Por isso essa força estranha", segue a Bethânia lá no fundo.

A pior parte é não conseguir dar nome aos bois.
Não sei, e nem posso, uma vez que não sei, nomear o que sinto.
Já tentei, e não seria difícil assumir qualquer que fosse o sentimento. Desse mal eu não sofro, se sinto, sinto e pronto.
Mas, but, aí entra em cena uma outra força. E essa não leva... Essa segura. É uma trava, que impede de tudo ser claro como água.
Às vezes, tenho quase certeza de que essa força contrária aí é o tal do "medo".
E não é o mesmo medo do outro. O meu medo é reação. Pois, se toda vez que vou conseguir identificar a "força da Bethânia" e vem de lá uma placa enorme e vermelha de "STOP", nada mais natural que os neurônios se realinhem e criem uma realidade paralela pra me proteger. E aí, então, essa merda de medo de me abrir e receber a tal invertida aparece e acaba me fazendo dar um nó no mundo.
Daí, por instinto de sobrevivência, eu finjo, para mim e para o outro, que o que eu sinto não tem nada a ver com o que eu mostro que sinto... Ou o contrário, não me peçam pra ser mais clara. Eu sei que devia ser mais clara, e eu tento, mas isso já entrou numa roda-viva. E como aqui é a oportunidade para a ficção, vou escolher ficar com as metáforas subentendidas.

Vamos apelar pra física, no que sou péssima por acaso.
Sinais diferentes se atraem. Sinais iguais se repelem.
Somos mais e menos. Portanto, por aquele motivo lá de cima que ninguém, nem eu nem você e nem a Bethânia, entende, nos atraímos.
O que acontece é que quando nos aproximamos, alguém (e nesse caso eu acho que sou eu com certeza) assume a carga do outro, tornando-se um sinal igual... Pronto, deu merda. Instantaneamente, passamos a nos repelir. Quando me afasto um pouco, retomo a carga original e consigo perceber com clareza o que deu errado. E começa tudo novamente.

E isso se dá porque pelo medo da invertida citado lá em cima, eu às vezes danço conforme o tom que você dá. E isso é outra coisa pra tentar se entender. Porém, não agora.
Agora, o que eu realmente queria era dividir o "mais" pra lá e o "menos" pra cá, e voltar a me aproximar de ti. Sem nome nenhum. Só porque é bom.

29 de setembro de 2007

Mamãe tá adolescente de novo.
Ligo despretenciosamente para saber se tudo vai bem pelos pagos de lá e ouço: "Filha, fiz uma loucurinha."

Bom, talvez para uma ex-porra-louca dos anos 60, sair com um cara que mal conhece e se divertir horrores e depois descobrir que não teve nada a ver seja uma loucurinha.
Eu ri... E achei uma delícia ouvir aquilo. Há anos não via minha mãe em estado acelerado, quase com vergonha de ser feliz.

"Mãe, aproveita e curte. Só te preserva. Porque ninguém merece decepções". Foi a coisa mais honesta que eu pude dizer com um sorriso na boca que não dava pra ela ver pelo telefone. Daí, seguiram-se detalhes, não sórdidos, mas que há séculos eu nao ouvia daquela boquinha... Mamãe estava alegre... e isso foi suficiente para que eu esquecesse as minhas decepções. Meu dia havia sido dos mais pesados e, como sempre, minha mãe veio me salvar, sem nem saber que estava fazendo isso.

Ela sempre foi assim: leve, desencanada e tentou me passar a melhor coisa que ela sabe ser na vida, uma pessoa do bem, que por mais que a sua dor seja enorme, prefere dar valor pra dor do outro.

Uma amiga sempre me diz que eu sou uma pessoa que sofre com dignidade. E se isso é verdade, devo isso à minha mãe, que deve ter milhões de faces, porque sempre que açoitam uma delas, ela se vira e oferece outra.

Critiquei muito, durante muito tempo essa atitude dela, porque não queria vê-la sofrer. Hoje, percebo que isso não é sofrer. Isso é ter a alma limpa... é sobrevivência.

Ela não vai ter câncer nunca. Já eu, ainda to aprendendo. E por mais que eu diga que não... Talvez eu queira ser exatamente como minha mãe quando eu crescer.

desculpas à toa

quando você quis, fez.
quando errou, se desculpou.
quando cansou, desistiu.
quando sentiu saudade, ligou.
quando se divertiu, sorriu.
quando não quis, mandou embora... e ainda a culpa é minha.

dois pesos e duas medidas, sempre.

quando eu... forget it

26 de setembro de 2007

Se é certo que este ano (2007) é o ano do fechamento de ciclos. Há de ser também o ano do início de novos ciclos. Sim? Me corrijam se eu estiver voando.
Portas estão se fechando, e como diz um amigo, alguma janela há de se abrir.
Pois bem, percebi uma pequena basculante entreaberta. Acho que sou capaz de passar por ela. O duro é que a tal janelinha-ventilação tem mania de se fechar antes de se poder passar com o corpo todo. Fico presa. Encalacrada. Enquanto era apenas um braço, tudo bem. Mas a tal deixou-se aberta por um tempo maior ultimamente e consegui passar 70 por cento de mim. Agora, já era. Voltar vai doer demais, afinal, já passaram os ombrinhos. Não é o que dizem dos nascimentos? A pior parte são os ombrinhos.
Não há de ser nada, vou deixando o sal de lado, quem sabe enxugo um pouco os líquidos e escorrego para dentro.
Bem sei que lá dentro está quente e confortável, e decerto há lugar pra mim.
Neste exato momento, sinto-a me pressionando. Como se me dissesse: "ei, te deixei entrar um pouco. Um pouco, eu disse. Não quero, ainda, que entre mais. Espera. Logo te deixo entrar".
Pois bem, aqui estou eu, metade dentro, metade fora, aguardando. Tenho paciência e preparo físico suficientes para a espera. Mesmo que me debata por vezes aos prantos, pensando na possibilidade de não conseguir entrar. Espero.
E convenhamos, para quem tinha as mãos destruídas toda vez que tentava apenas encostar para abrir, até que evoluí bem.
Janela, janelinha... o ano não pode terminar sem você se abrir todinha...
Tá, a rima é pobre. Vou consultar um oráculo qualquer pra ver se as palavras aqui de dentro conseguem entrar em sintonia com os próximos rascunhos de mim mesma.

25 de setembro de 2007

...Foram uns dois segundos e eu fui surpreendida exatamente pelo que esperava há tanto. E tem jeito melhor de se surpreender, senão pelo que se espera? Não sou capaz de dizer quanto durou. Apenas sei que aconteceu... E foi bom. Foi bom perceber que vinha em minha direção. Foi bom me dar conta de que não havia tempo para desviar. E ainda bem que não desviei. Foi bom encostar de leve e sentir você.
Foi bom ficar quatro segundos (não exatos, afinal quem contaria segundos naquela hora)te sentindo parada com o rosto tão perto que podia ouvir teu pensamento, e de repente ser puxada como um imã. Foi rápido, isso eu posso determinar. Mas alguma coisa tem de explicar o por que de eu, depois de lutar contra a porta, entrar em casa e ficar andando sem saber pra onde ir. Sentar na cama e me perguntar: Você tem certeza de que não é um surto de algum cogumelo alucinógino que você tem mania de comer?
Só não foi tão bom te ouvir dizer "tá tudo errado". Mas ao mesmo tempo, foi ótimo. Porque me fez responder internamente: "não, tá tudo certo. absolutamente certo".
Certo é poder dizer que sente. Ou não sente. Certo é matar vontade, ou curiosidade, ou desejo. Errado seria matar tempo. Errado seria fazer por fazer. E eu acho que nao foi o caso, foi?
Horas depois, ouço coisas que já esperavam para ser ouvidas há muito. Enfim, foram libertadas da auto-censura fulminante que te protege.

É gostoso ver você sorrir leve e se deixar levar por você mesma... Quer dar um passeio comigo?

O que se segue não mais precisa ser expresso em palavras, pelo menos não públicas. Enfim, uma briga que valeu a pena. E eu sabia que valia.

18 de setembro de 2007

Me demito.
Me demito de dar tudo o que posso. De ser compreensiva com a maldade (programada ou acidental).
Demito a mim mesma de te convencer de que falo a verdade.
Estou me mandando embora. Porque o golpe foi na boca do estômago.
Se acredita realmente no que diz, não aproveitou nenhuma chance de enxergar quem esteve na tua frente. Essa aí que você desenhou não sou eu. Se quer dar a ela o meu nome, dê. Mas não sou eu que ela representa.
Talvez ela represente a imagem que alguém deixou na sua referência. E você agora quer estampar em mim.
Me demito, de carregar o estigma de quem te fez mal. Porque eu não fiz.
Quis ser amor. Não podia. Deixei de querer ser.
Quis ser amizade. E podia. Mas tem algum muro no caminho que é mais forte que eu. Meu motor é 3,0. Mas eu devo ter esquecido o kit off road. Porque bato contra o muro e me despedaço.
Eu não sou perfeita, erro muito. Faço coisas horríveis para mim e para os outros. Mas sei pedir desculpas. Só não posso me desculpas pelo que não faço. Embora se necessário, desculpa nunca é demais se vier de dentro.

Te falta olhar pra fora. Eu sei que o mundo ai dentro deve ser lindo e com certeza mais seguro. Mas a insegurança aqui de fora pode te dar a sensibilidade para reconhecer quando alguém fala ou não a verdade. Te desejo que um dia resolvas sair daí, dar um passeio.

A gente espera do outro o que espera da gente mesmo.
Talvez por isso, eu não consiga acreditar que tua injustiça seja tua verdade.
Agora, pegou pesado. Porque botou minha palavra no vento.
Vai passar. Sei que vai.
E quem sabe quando outro avião cair, você reflita de novo sobre deixar conversas mal acabadas. É uma pena que tanta gente tenha que morrer para algumas pessoas perceberem que não sabem de tudo que acontece na vida de outras.
você não sabe o que disse. E não sabe o diz. De mim.

16 de setembro de 2007

Beijo quente, acelerado. Deixo o copo de lado.
Os braços em volta de ti. Seguro.
Sem perceber, quem me segura é você.
Para não me deixar ir?
Para não me deixar chegar?
Me segura pra quê?
São eternas palavras, olhares indo e vindo.
Alguma coisa acontece na via que vem daí para cá. Eles param de chegar.
Foi blitz? O pneu furou? A marcha diminuiu?
Meus pensamentos têm sempre o ponto de interrogação ao final.
Será esse tom da nossa música?
Ontem sonhei com você.
Falava ao telefone, baixinho, como há muito não fazia.
Sem querer te transformei em sonho.
Talvez tenha sido aí que me enganei.
Se a fada-madrinha aparecer esta noite, vou pedir para não sonhar.
Nunca mais.
Quero apenas amores que forem reais.

25 de agosto de 2007

É uma projeção de mim que se vê.
Projeto uma tentativa de esconder a fraqueza.
Desde o início, a real forma é a de um bebê indefeso, que chora e precisa de colo.
Os ossos crescem, e em volta deles, a pele envelhece.
Experimento a vida em diferentes cores e sons. Afeto alguns. Sou afetada por outros.
E o bebê continua lá, embora chore menos por pura auto-censura.
Não finjo ser forte. Não finjo suportar. Apenas suporto. Com as poucas forças que consigo determinar
que meu peito aguente para não se estilhaçar frente à dor.
Talvez você suporte mais do que realmente consiga, me diz quem muito pouco me conhece para se deixar enganar pela projeção.
Paro para pensar. Poucas declarações chegam a mim e surpreendem a esse respeito. Afinal, já teci todas as teorias. Já concluí todos os resultados.
Já determinei todas as reações para cada tipo de ação sobre mim.
O holograma que acredito projetar convence a todos. Quase todos.
E a amiga diz: O anjo que escreve o roteiro das nossas vidas deve fumar muita maconha.

Volto ao projeto de mim mesma e percebo uma falha. Um pequeno rasgo bem no centro, por onde deixei escapar o fio de luz que leva ao bebê.
Dá para ouvir um chorinho lá no fundo. Ele vive. Acordou do sono induzido pela química psíquica que derramei nos últimos 20/25 anos?
Ninguém o despertou. Mas alguém o viu passar. Reconheceu.

É assim que é?
Nos defendemos do mundo projetando imagens do que pensamos que podemos ser?
Se eu pensar que isso não me atinge, não atingirá?
Ou apenas eu não vou perceber que fui atingida.
E se eu não me deixar perceber, a dor será menor?
Ou apenas ficará acumulada no baldinho de praia de dores que todo bebê carrega na vida?
Acho que perdi as pazinhas. Cavo com as mãos. Tiro as dores do buraco e encho meu baldinho.
Depois eu jogo no mar e volto para ver o castelo bonito que construí.
Enorme castelo de areia esperando a onda vir.

22 de agosto de 2007

não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não sim não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não sim não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não sim não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não

20 de agosto de 2007

O sol hoje está deixando cair bolinhas de neve cor-de-laranja.
Se o barco tem rumo certo ou não, já não me importa mais.
Que ele siga em águas calmas, com uma onda ou outra favorecendo o balancinho gostoso que se conhece por paz-adrenalina-paz.
Ontem foi surpresa. Surpresa casual e indescritível.
O sobressalto inesperado compensou dormir na sala, depois de ter a cama inundada pela indolência de um cachorrinho safado, mas ainda assim lindo.
São esses altos e baixos, os silêncios planejados, as não respostas na hora certa para evitar equívocos, que fazem essa coisa toda ter gosto de bala azedinha, daquelas que a gente morre de vontade de morder, mas se segura só para aproveitar a aguinha na boca.
Uma hora, a gente não aguenta e morde... E que seja. Que seja mordida e se transforme em muitas balinhas na boca. Prazerezinhos que ficam conosco por todo o dia.

As bUlinhas de neve cor-de-laranja que caem do sol me lembram você.
Surpreendem quem passa, pois vêm de onde menos se espera. As bUlinhas geladas se aquecem ao sol, mas não derretem. Chegam aqui embaixo coloridas, com gosto de bala azedinha.

As bUlinhas dos teus olhos semiverdes.
As bUlinhas da espuma do café.
As bUlinhas que ficam no ar cada vez que um silêncio gostoso se põe no meio de uma conversa.
Hoje, você é o que é
Uma bUlinha de neve cor-de-laranja com gosto de bala azedinha que cai do sol sobre mim.

It has been a pleasure to know you each day. Danks.

19 de agosto de 2007

Hoje estou tentando chorar.
E quem diz que é possível?
Paro. Reconheço esse buraco vazio no meio de mim e espero uma lágrima...
Ela não vem. Mas eu sei que ela está aqui. Por que não sai?
Pra onde essas gotinhas salgadas estão indo que não para fora?
Com licença, por favor, você podem sair de mim? Eu peço.
E sei que elas nem deveriam estar aqui dentro.
Será que não estão então?
Será que essa dor é seca?

Tudo está acontecendo aqui dentro. Eu espelho lá fora, mas sei que é só aqui dentro.
Ninguém percebe. Nem quem protagoniza a história sabe.
Alguém sabe a resposta pra isso?
Como pode uma sensação física tão bem acentuada se sobrepor a sinais ora bons, ora ruins?
Ora ora, penso eu. De onde tiraste isso, LP?
Quem permitiu construir sentimentos saídos do nada?

Os sentimentos não saem do nada, eu mesma respondo. Mas quando são apenas nossos sentimentos, somos responsáveis por eles.
Mas e quando alguém pega o seu sentimento e bole com ele? Essa é a grande pergunta no meio de tantos pontos de interrogação.

Este segundo é uma bolha. Bolha de consumo. Um momento de minipaz depois de uma tormenta de sensações e questionamentos invisíveis.
Será que ando densa demais? Ando mudando o volume e a dimensão das coisas sem pedir licença ao universo.
O quilo não tem mais um quilo. O minuto passa longe dos 60 segundos.
Um simples oi tem significado um tratado e às vezes adquire o poder de determinar meu dia.

Isso não pode ser assim. Nem ficar assim. Porque ESSA não sou eu. Eu sei disso, não precisam me dizer, embora me digam a todo instante.

Eu sou aquela que ri. Que deixa tudo leve. Que acredita. Que dá a chance.
Eu sempre fui isso. Vendi isso. E comprei isso.
E é isso que eu quero dar, oferecer, presentear quem passa por mim.

Aos que passaram, eu consegui dar.
Mas de repente tem algo que passa tão devagar, que vai deixando rastro. Como em uma foto tremida, cheia de "fantasmas". Esse rastro me desafia a analisar.
Mas minha análise tem sido guiada por uma força externa. Que às vezes me conduz por um caminho claro, com cor. E do nada, aperta o interruptor e me deixa no escuro.
Devo analisar isso também?

Hoje, não é sobre você. Hoje é sobre mim.
Mas preciso te solicitar, pois a resposta está presa aí.
Por que você faz o que faz? Por que vai e depois vem? E quando vem, por que não fica?
Responde em código, mas responde.
Responde na lata, mas responde.
Apenas responde.
Não tem mais espaço para não resposta.
CARALHO, não há mais espaço para não resposta.

(Se ainda não percebemos, é melhor que saibamos que estamos conduzindo um mesmo barco. É preciso que mostremos nosso planos de percurso. Não por curiosidade ou por comprometimento, mas apenas por parceria, por respeito próprio.)

A gente pode entrar num barco sem saber pra onde se quer ir. Mas não se pode entrar num barco sem querer entrar. Portanto, já entramos, e sabemos que entramos, vamos navegar.


*Tenho um apego por metáforas. Mas é bom que se considere essas usadas aqui como o mais próximo da realidade. Sim, é com você mesma que estou falando.

17 de agosto de 2007

Quero perguntar, mas não sei se quero ouvir a resposta.
Paro ou continuo?
Tens algo bom pra me dizer?
Diga.
Às vezes é bom ouvir coisas boas. Só pra variar um pouquinho.
Finge que não perguntei, apenas diga.
Diga o que vai por aí.
Te faço sentir? Qualquer coisa que seja.
Balanço algum pêndulo aí?
Uma coisa bonitinha a meu respeito e meu dia seria completo.
A minha parte que bate contra o teu muro já não tem tanta força.
Vai se esvaindo a cada "nada".
De repente se fortalece, sabe-se por qual motivo.
E eu sigo. Continuo. Insisto.
E não é pura insistência. É um querer mais que bem querer. (já se ouviu isso antes, em letra de música)
Às vezes danço contigo, a mesma valsinha. E do nada, me pego dançando sozinha.
Pisco um olho, e estás na dança novamente. Depois, desaparece.
Aonde vai? Onde vai parar?
Por que danças comigo vez que outra se a música não te agrada? Me pergunto.
E aí, penso que agrada sim. Só não sabes dizer. Ou não quer dizer.
E por quê? Por que será?
Tens a resposta?
Se tens, pode me dizer?
Se não tens, pode compartilhar a dúvida comigo?
Pega a minha mão e me diz pra onde devo caminhar.
Se me disser: "para longe". Tentarei ir.
Se me disser: "para perto". Eu fico.
Só não me deixa mais sem saber. Eu peço.
Que eu morra, mas morra sabendo o por quê.
Dança comigo?

14 de agosto de 2007

Ainda absorvo os olhares não desviados.
As palavras trocadas, às vezes em compulsão, às vezes em contingência.
Ainda te leio e por vezes te escuto, ao longe, falando baixo.
E como te despes dessa força que só olhos muito mal preparados acham que é real.

Sim, eu ainda acredito no que deixou escapar nas noites aquelas.
Me puxou pra perto e disse sem falar que eu podia entrar.
E mesmo que a porta se abra apenas quando você quer, é bom saber que ela se abre.

Meu olho fala demais, tagarela. Não nega o risquinho de felicidade quando te vê.
E o riso? Tem jeito de rir mais gostoso que isso? Se tem, esqueceram de me contar.
As frases soltas ao mesmo tempo são regidas por sei lá eu quem. Mas não importa, existem.

Penso na diferença, mas me salta aos olhos a semelhança.

E me disse certa vez: "Não te referes nunca a mim com suavidade".
Não? É certo que pensavas assim?
Volta no tempo, nas horas, no vento. E discursa pra mim o meu primeiro texto.

As longas conversas começadas em uma hora qualquer de uma madrugada qualquer chegaram sozinhas, suavemente, como são teus passos.
Daqui e dali, tornou-se natural te ouvir ou ler antes de dormir, ou acordar para te ler e voltar a dormir.
A surpresa e o susto do anúncio de mensagem podiam roubar o sossego, mas trazem uma paz quase como se fosse um abraço.
E é isso. Que eu seja um abraço pra você.
Que você venha quando precisar dele.
Ou de mim.

Preciso tomar um porre homérico de alguma coisa que não engorde!

13 de agosto de 2007

Não fossem eles, os buracos seriam mais profundos.
As lágrimas custariam a secar.
A cor das coisas não passaria de um leve efeito sépia.

Não fossem eles, ajoelhar-me no chão na noite de sábado teria passado em branco e sem graça.
E aquele peso confortável sobre mim no sofá, às gargalhadas, de uma quase felicidade, não teria sublinhado uma boa notícia.

Não fossem eles, todos os meus choros, com razão ou não, jamais seriam substituídos por auto-deboches de alívio.
E eu não faria revelações bombásticas no meio de uma apresentação do Criança Esperança.

Não fossem eles, tua falta seria mais atordoante.
E tua aparição muito menos comemorada.

Não fossem eles, minhas frases seriam mais racionais,
meus olhos, menos brilhantes,
minhas mãos, menos calmas,
meu sorriso, menor.

Não fossem eles, minha capacidade de me refazer estaria gravemente prejudicada.
E minha dose de esperança, atrasada.

Não fossem eles, as contas de telefone seriam menores, mas contariam muito pouco da minha vida.

Não fossem eles e seus abraços risonhos, não seria eu aqui.

Mas, são eles.
São eles que me censuram quando estou prestes a cometer besteiras.
E são eles que me abraçam depois que as cometi, mesmo com toda a censura prévia.

Apesar e independente, sem condição para nada.
Apenas por me amar, eles são eles.

Às nossas boas risadas divididas,
aos nossos motivos sem motivo nenhum,
à nossa tolerância...

*(e claro, aos chás, cafés, purês de abóbora, cigarros, vinhos, narguilés, macarrões com alho... e à eterna torta de limão que não deu certo)

10 de agosto de 2007

O garoto é carregado de rabiscos na alma.
Esbôços de tentativas frustradas.
Debaixo do braço, um bloco de papel de desenho A3. Canetas coloridas e apenas um lápis.
Ele senta, bem à minha frente. Do seu sorriso, vejo saírem notas de um sambinha malandro. Lá de cima do morro.

E começam os traços. Os meus são fortes, e concentram meias-gotas de sorrisos interrompidos.
Ele pára, me olha, e pergunta:arrepende-se?
Penso. Profundamente imergindo meu peito. Arrepender-me? De que maneira?
Arrepender-se é ato de extremos. Posto isso, contei-lhe do dia em que fui embora.
E no que se seguia minha história, seu lápis dançava entre as folhas. O baile do preto no branco. Meu sorriso interrompia o silêncio da tardinha. (hoje, quando fico olhando ela sentadinha ao pé da porta, no sol, sentindo os cheiros que vêm da rua, lembro desse silêncio)

Percebi que fiquei ali por mais tempo que uma lembrança. Agora, já parado de braços cruzados, o moleque ria. Incontido, dentes à mostra, abraçado aos desenhos.
Natural que lhe pagasse por eles. Dou 20. Ele sai assobiando.

Pego os rabiscos que me retratam e silencio - no tanto que tenho para mostrar, o branco dos meus dentes apagam desenhos de mim mesmo.

5 de agosto de 2007

Desexistir
Palavra complexa, comprimida e compreendida à desistência de existir.
Pode desdobrar-se em desresistir, e aí vem a oposição.
Se opor = se pôr contra.
Oponho-me a desistir.
Oponho-me a desexistir. E penso...
Ao todo e ao fim, a vida pode ser uma seqüencia de desexistência.
Pergunte-se quantas coisas desexistem diante das alegrias e desalegrias vividas.
Você é capaz de listar quantas coisas passam a não existir pra você quando estão ligadas a alguma sensação boa que se torna ruim?
Eu poderia relacionar N.
Aquela cor que te lembra quem se foi.
Aquele carro que você passa a evitar porque ele/ela estavam dentro quando você amava.
A música que só de ouvir te traz sensações de uma hora vivida que não se repetirá.
A rua pela qual passavas e pensavas em alguém.
Aos poucos, o mundo vai se limitando à falta de opções.

Zélia nunca mais cantou do mesmo jeito.
Unos vermelhos ficaram somente na lembrança.
A Gota D'água teve seu texto excluído da memória.
Gramado não é mais tão interessante.
O Matterelo? Neste não entro nem em sonho.
O 00 1 na frente de qualquer número de telefone corta o coração.
Coitada da Ana, a Carolina, anda na corda-bamba, cai-não-cai.

Apenas exemplos de como dar a algo/alguém uma representação pode limar da sua vida coisas que eram bem gostosas.
Mas como não fazê-lo?
Como não lembrar de coisas boas quando se quer lembrar de alguém tão bom quanto?

A luta agora é com unhas e dentes para não ter que ignorar o próprio endereço.
Imagina se não der mais pra sair à rua, porque a referência vai ser inevitável?
E os Foxes pretos? Tão simpáticos. Será que vão perder o lugar nas possibilidades automobilísticas?
Os Schnauzers ganharam lugar nos olhares pela rua: ah, que bonitinho... não seria justo voltarem a ser apenas cachorrinhos com cara de mau-humorados, não acha?

Me nego a deixar de sorrir, de dar risada à toa, de gastar fortunas em torpedos para outras operadoras.
Me nego a perder mais referências gostosas.
Me nego a deixar de supor como seria se...
Me nego, e pronto.

Negue, se puder, que isso faz sentido.
Negue, se quiser, que as referências receberam contribuições importantes nos últimos tempos.
Negue, se acreditar, que não faz a menor diferença.

Negue, se negue, se oponha.
Mas não desista, não resista, não desexista daqui.

3 de agosto de 2007

Impossível fechar o olho. Retumbava na cabeça. Bom e ruim, claro, escuro, doce, amargo... Um solfejo de sensações.
Uma paz quase aterrorizante me tomava depois de ser sacudida e suavemente mandada embora.
"Mas não se aproxime de mim", foi a palavra de ordem.
Me transformei em uma caxumba. Ou uma dessas doenças infantis, das quais a gente protege os bebês.
Mas ok, deve valer a pena. O bebê em questão é daqueles fofinhos, de bochecha rosada, que sorri e faz biquinho. Aqueles que você vê e tem inveja da mãe, que pode apertar e dar beijinho na bochecha toda hora. E pensa: "quero pra mim".

A caxumba aqui pode fazer mal. Sim, porque o bebê jamais faria mal à caxumba, ela sabe disso.

Fábula à parte, o "não se aproxime de mim" ainda soa, ressoa, lampeja uma pergunta.

6h57 da manhã, e nada de apagar. A cabeça vazia de tanto pra entender. Não tem problema, não precisa entender... só sente. Sente que pela primeira vez, viu o que havia debaixo da armadura. E foi lindo.

A proposta era honesta, de verdade. Sou capaz de me despir de vontades pra ter a parte boa. E você? não te interessa a parte boa? Talvez não exista parte boa pra você, não é. Só pode ser isso. Bingo.

Só sei que não compreendo teu medo. Nunca tivestes caxumba? Ou teve somente de um lado e teme ter do outro?
Mas lembre-se que dizem que é melhor ter dos dois lados logo. É menos sofrido.

E agora, josé? A festa acabou, a luz apagou...

Não posso deixar de agradecer algumas más impressões que me permitiste desfazer.
Tua guarda a meio-pau quase me permitiu entrar.
Eu insisto na proposta: friendly. Honestamente, friendly.
Solta a rédea. O cavalo sabe o caminho. Ele volta sempre pra casa.

As palavras foram doces, o tom quase sinfônico. E eu vi aquela que eu sabia que morava aí se permitir aparecer. O prazer é todo meu. Encantada em conhecer-te.

Ainda considero a sentença dura demais para um crime não cometido. Vou para a segunda instância.

Have a good weekend... don`t forget to smile.

27 de julho de 2007

Riso mal dado, palavra mal colocada, e o espaço de um telefonema desencanado te coloca na lista mais negra.
O sorriso era terno e foi tido como malícia. A resposta atravessada não demorou nada e iniciava-se o fim. Fim de coisa nenhuma, mas coisa nenhuma que tinha um cheiro gostoso e sabor de abraço.
Já muito mal acostumada a esse sabor de abraço há semanas, quase meses, não acreditei no meu suicídio. Carreguei a arma, mirei bem no peito e bang. Estraçalhei a alma de quem tinha percorrido um caminho construído pedra por pedra com persistência e olhos e ouvidos fechados: eu mesma.
Depois daí, um empilhamento de desencontros verbais. Ninguém se ouvia. A dor veio à tona e mais uma falha crucial - um jogar na cara maldades cometidas. Pronto, se faltava alguma coisa para te jogar fora, eu acabara de fechar o saco e dar dois nós. Noite dura, ainda trouxe um respiro de consideração. Que eu fiz questão de destruir no dia seguinte, com mais uma tentativa de reverso. Maldita insistência que te leva embora.
Tudo foi torto, desde lá no início (mentira, o começo foi bonitinho, adimita). Ainda sim, aqui deste lado, era quase mágico. Palavras pequenininhas, provavelmente saídas daí sem a menor percepção, chegavam como flauta doce. Tola. Tola. Absolutamente tola. Achei que dava.
Mas não achei de graça. Por certo que sabias para que caminho me conduzias quando pegava a minha mão e me levava através dos teus sorrisos. Delicadezas e provocações bem colocadas, na medida para dar e tirar o aperto do peito.
Nunca interpretei tão bem o papel de louca como alí. Verbografando um texto que nem se parecia comigo, segundo amigo muito próximo e ciente.
Friamente, te leio proclamar o veredito: culpada. Eu, é claro. Você jamais adimitiria sê-lo.
O meu veredito? Duas culpadas. Duas verdades. Duas mentiras. Duas línguas. Duas possibilidades. Mas, desta vez, como em muitas outras, a manteiga caiu pra baixo. Na minha frente, nos meus pés.
E eu chorei, com olhos de filhote que vê o leite do outro lado da cerca.
Tudo perdido. E tudo, no caso, era nada. Mas ainda sou mais o meu nada que o seu tudo.
Te acompanhei o tempinho todo atenta, alegre e fingindo que não te via rir de mim.
O teu ir e vir acabou por me arrebatar. É, sou atraída pelas coisas pseudo-boas.
Meu cérebro ignorava todos os "nãos". E como um "não sempre vinha seguido de um "sim", fiquei zonza. Cambaleando entre o não e o talvez.
É justo sair de cena pela vírgula? Ainda te pergunto. Mas já não estás mais lá para responder. Podia ter sido bom, e era. Podia ter sido médio, e era. Só não podia não ter sido. E não está sendo.
Será?
Tua vez...

25 de julho de 2007

Começo a me convencer de que tens razão. Eu não vou conseguir.
As vidas estão acabando, a barra de força ficando vazia.To levando um banho. De água fria.

21 de julho de 2007

Na arte de ir e vir, ela é mestre.
A única coisa que eu posso fazer em determinado momento é rir. Rir de mim, por ficar ali escutando ela me dizer o quão idiota eu sou.
Abri a guarda e as asas. Saí voando e escolhi o lugar do pouso. Mas sem guarda, o bombardeio veio cortante. O primeiro golpe foi meu, de mestre devo lembrar, mas, em compensação, os outros 9 milhões e meio foram dela.
Hoje, levanto a cabeça ainda tonta: alguém anotou a placa do caminhão que passou por cima de mim?

Da bipolaridade geminiana eu já sei o suficiente para esperar ou não reações adversas. Mas bipolaridade geminiana com um toque de sadismo pisciano e uma deliciosa cereja no topo tá sendo uma agradável/desagradável descoberta.
Sou pega no colo pra levar um tapa.
Ja tenho a resposta e o texto para a segunda-feira: estupra, mas não mata, meu anjo!

13 de julho de 2007

Das obsessões por café, cheguei aqui. E hoje, lendo o cabeçalho deste blog, percebi que são muitas as coincidências cafeínicas (ou deveria dizer cafetínicas?) na minha vida.
Talvez porque eu venha da cidade dos cafés. Porto Alegre só perde pra Buenos Aires, deve ter uns 4 cafés por quadra. Um hábito cultuado pelo frio. Pela necessidade de se estar com alguém, tudo é motivo pra um "vamos tomar um café?".

Muitos amores nasceram com uma xícara de café. Muitas brigas terminaram em uma também. Acordos de separação e listas de convidados para casamento devem ter sido feitos aos montes em uma das milhares de mesinhas redondas em mosaico espalhadas pelos pequenos ambientes, geralmente em tons pastéis, que nos acolhem principalmente quando estamos sozinhos. Isso os cafés têm de bom: pode-se ir a eles sozinho e não se sentir incomodado, porque todos sabem que uma pessoa com uma xícara de café nunca está sozinha. No mínimo ela está acompanhada de pensamentos cítricos.

Inspirada pelo amparo do pretinho quente e querido, tenho o costume de relacioná-lo a intimidade, aconchego e sorrisos de canto de olho. Por tanto, nada melhor para se oferecer a alguém que se quer conquistar. E aí, vem a lenda do café. Quantos são marcados e desmarcados? Quantos se tornaram pretextos pra se olhar para os olhos daquela moça que se quer tanto? Quantos foram negados? Muitos, muitos, mas nunca deixaram de ser oferecidos. Convidar para um café é quase como convidar para um abraço. Poucos devem ser levados.
Você ainda faz parte nos cafés negados. Quem sabe uma hora dessas entre para o café lista de casamento, ou apenas o café abraço.

O café deve ser o último símbolo de união humana. Forte ou fraco, que ele nos una.

Ben sussurra "She's only happy in the sun", e eu me pergunto se é verdade.
Você achou o que procurava? Esse sol te liberta?
Toda vez que te ouço rindo, choro.
A sua vida toda foi oi e adeus.

9 de julho de 2007

Já lhe ocorreu que quando coisas ruins acontecem, pode ser que uma coisa boa esteja nascendo?

7 de julho de 2007

O aniversário do meu melhor amigo

Começou assim, um dia antes, na Irene. A expectativa da "passagem".
- Amiga, to pronto pra fazer a passagem.
- Ótimo, quero ir contigo...
Algumas cocas, cafés, cigarros e dois passaralhos, muito bem documentados pela câmera com etiqueta da Cris, e alí estávamos nós fazendo a passagem. Juntos, sorrindo.
Enquanto eu tossia os dois pulmões e a Cris espirrava dentro da bolsa, ele fazia de conta que não esperava nada. Foi o tempo de dois cafés e a meia noite chegou. não dava mais pra voltar... Ele passou. E passou bonito, pele boa, sentindo por dentro como é ter 30 anos. Exatamente no mesmo dia, trinta anos atrás, ainda chorava, com medo desse mundinho que não diz o que quer da gente. Os primeiros quinze eu não vi, mas de lá pra cá, acompanhei cada passo, todos eles dados em direção a uma história lacrimosa e sorridente. Fez muitos, senão todos, felizes. Abriu-se para o mundo mesmo quando o mundo fechava as portas. O meu melhor amigo tem chave-mestra da vida. Cresceu brigando, e hoje me faz sentir grandiosamente importante por existir.
Ele sempre caminhou pra frente, poucas vezes olhou pra trás, não que não pudesse, não precisava. A ficha é limpa, e a alma também. O coração carrega um peso indispensável a quem é um grande homem. Sim, ele é um homem. Mesmo que o sorriso e as lorotas denunciem um menino. Eu me orgulho, de tudo. E tudo, nesse caso, significa muito.
Quero ser você quando eu crescer... Parabéns! Te amo.

3 de julho de 2007

Você está nas paredes. Cor e marcas.
E agora no espaço vazio. Cheio de perguntas.
Já não vai mais haver nenhum café sem ti, mesmo que nunca tenhas estado em algum.
A TV sem as cores se encarregará de representar lembranças. Pretas, mas mais brancas.
Aquele buraco ali, esse vai ficar, pra que eu possa desviar todos os dias e treinar minha precaução.
Esses dois que correm, choram e me amam te amam e choram também. Mas não têm pra onde correr.
As duas você que me olham de cima do móvel não sabem pra onde estão olhando. Elas sorriem um sorriso cheio de esperança e não notaram o coração vazio.
A dor que insististe em fingir que não sentia ficou ali, na porta, esperando pra sair. Eu passo por ela quando chego e quando saio, e ela nem se mexe. Me ignora. Ela me diz que não é minha. É tua. A minha anda comigo, abraçada à minha cintura. Às vezes acho que a perco por instantes quando ando mais rápido pela rua. Mas ela me alcança.
Não quer me largar.
Minha dor me ama mais que você.

27 de junho de 2007

Tudo tranqüilo na Dinamarca. E a pergunta do dia é: Por que uma pessoa age hoje exatamente no lado oposto do que vai agir amanhã?

Pergunta óbvia, mas nem tanto. Se eu sou bacana contigo hoje, amanhã tenho que não ser? Bipolaridade? Ok, é a desculpa do momento para os fracos de caráter.
A partir de agora, sou bipolar. Portanto, se eu sorrir pra você e amanhã quiser te matar, não repare, é um detalhe.

13 de junho de 2007

ela entrou, entrou bem. Disse o que queria... ouviu, pois.
Sempre à espera de uma resposta, um sinal de vida.
O sinal tarda a chegar e os pés vão ficando frios, já sem se mexer, pisca um olho pra ter certeza de que ainda vive.
Sabor estranho esse da adrenalina ruim, movimenta e dispara o coração. Bate, bate e bate na cara. Dá a cara pra bater, ela diz.
Vai ficando de molho, imaginando o que acontece por lá. Cada telefone que toca libera a morte. E a imaginação prolifera insanidades. Será dissimulação? Como bem ouviu pela manhã. Não pode ser. Coração não dissimula. Apenas simula desejos inalcansáveis.

6 de junho de 2007

Santa Klaus Papai Noel....

Adiantam-se os ansiosos, metem os pés pelas mãos, enfiam o pé na jaca, e a carroça à frente dos bois.
Santinha que vos diga, e pleno meio de junho recebendo pedidos inatingíveis. E se fossem apenas bolas e bonecas, até que não seria tão desumano. São pessoas. Pessoas que pedem pessoas. Tava lá no folhetinho recebido corrido na rua: Dona Marta Cartomante. Trago seu amor de volta em 3 dias. Problemas do coração? Desfaço trabalho. 10 reais a consulta.
Dez reais?? Amor barato esse, não?
E aí a Djanira, moça simples, recatada, acredita e deixa de comprar 4 pãezinhos e um litro de leite pra trazer o amor de volta. Desfazer trabalho nem pensar, ela precisa do emprego, ó ingenuidade.
A tal da Marta, huh, podia ser tudo menos cartomante. Cartomante sem a bola em cima da mesa, eu não acredito, pensa ela. Mas os dez já estavam na caixinha. Melhor ficar.
- Tens um amor que foi embora, filhinha?
- Na.. Não. Eu nunca tive um amor, acho que ele foi embora antes de me conhecer...dá pra trazer de volta mesmo assim?
- Claro!!!, Dá pra trazer tudo o que se quer. Mas nesse caso são mais 5, por conta da diversidade de escolha, entende?
- Sim, entendo. Mas já tenho uma escolha. Sidmundo!
- Hum, e conheces o Sidmundo?
- Conheço, sim senhora. Ele aparece no meu sonho toda noite.
- Homem de sonho é 20.
- Bom, posso pagar os outros dez quando ele chegar?
- Vamos ver, as cartas dizem que ele virá. E que você fará uma viagem longa, de navio...
- De navio? Para onde? Eu nem sei nadar.
- Não importa, para se viajar de navio não é necessário nadar. Compre maiô, o lugar é de sol.
- Mas eu vou...
- Mas nada... Com dez é o máximo que posso fazer.
Dajanira sai. Por um minuto lembra de quando era criança e ganhou um barquinho de plástico. Jurou um dia entrar nele e fugir.
E as lembranças foram vindo à mente, tanto que não percebeu o tempo mudar.
Chovia cinza e ela continuava caminhando e lembrando de Sid, que esta noite havia de aparecer e ficar pra sempre.
Tarde foi dormir, deitou, pós os óculos fundos de lado e cochilou.
Sidmundo tinha apenas 15 anos quando foi preso, mas lembrava muito bem da noite em que matou Djanira, de 1 ano, violentamente, ao lado do barquinho.
Dona Marta não dorme desde aquele dia, agarrada a uma nota de dez. Olha a rua e ouve o choro. Nunca deva a uma cartomante chamada Marta.

25 de maio de 2007

Coisas insólitas acontecendo no reino do café com crime. Aliás crime demais pra café pequeno.
conto em breve.

15 de maio de 2007

E assim se (des)fez a luz no fim do túnel.
Quem disse que só você erra? Pode parar de acreditar nisso, está desfeito.
Um dia, ela te acusa de ser infiel, nunca fostes, nunca pensou em ser. Ou pensou, mas não foi. E isso é que vale. Passa um, passam dois, e lá vem ela dizendo que não pôde evitar.
De fato não pôde. Ninguém pode. Sabes bem disso, melhor que muitos.
E o caminho de ir em busca de respostas é longo. Te guia até o centro, mas no centro não há nada. O assunto se desfaz. Ela podia e evitou. Te evitou. Te pediu pra ficar mais para lá. Um passo para trás, dois. Muitos depois, estás sozinha. Não mais enxerga a sombra. Menos ainda a luz.
Aquele ponto brilhante que devia estar vindo se foi. Apagou. Quem soprou? Quem soprou tem lábios mais preparados? Melhor fôlego? Tem uma brisa que acompanha e que você já não transmite mais. Esse alguém, da luz, pediu para entrar? Vai saber. Pedindo ou não, ela abriu a porta. Pois bem, portas abertas. Olhos fechados. E só se vê o vulto da sua cor indo embora. Que ela não te peça para ficar. Porque agora não é possível ficar parada.
São dois pontos que vêm e vão. Afastam-se. Separam-se. É assim que deve ser, pelo menos até que se desprendam e possam pontuar outros caminhos.

12 de maio de 2007

teoria do esculhambo e enxotamento

Metade da semana de fechamento e descemos para fumar. Antes, paramos no segundo andar para descobrir de onde vinha aquele cheiro atordoantemente forte que alcançava o décimo primeiro. A porta abre e basta uma respirada profunda pra identificarmos a colocação do carpete com a fatídica cola de sapateiro.

Irresistível dar mais umas três fungadas... O suficiente para desencadear o diálogo:

Quem enxota esculhamba?

Não, quem enxota pode esculhambar, mas nem sempre esculhamba.

Mas quem esculhamba nem sempre pode enxotar né?

É, mas quem esculhamba e pode enxotar, com certeza enxota.

E suas derivações.

Dias depois, uma contribuição de uma terceira amiga...

Ta, mas às vezes, quem esculhamba fica enfezado.

Santa cola!

10 de maio de 2007

Quem é você?? Assim, com os dois “??”.

Eu? Sou esta que fica bamba quando te vê. Era isso que eu tinha que responder. Sem meias palavras, sem receios. Sou esta que muda o horário de tudo pra ter um pouco de ti, uma olhadinha, quase não o bastante para satisfazer o frio aqui dentro. E você segue, sozinha, certeira. Devia vir certeira até mim. E vem, como uma bala.

Agora já não consigo mais esconder esse sorriso ridículo que aparece no meu rosto toda vez que você vira a esquina e vem caminhando, passos largos, como pra quem não existe relógio. O tempo é teu. Faça ele parar. Por favor. É um pequeno pedido para um desejo tão grande, de te ver passar. E quando parar, se o for, dê-me um sorriso, diga um olá. E eu te dou a mão e o sorriso ridículo já nem é mais ridículo, apenas por ser retribuído. Ah, benditos sejam os ridículos. Que sorriem por alguém. Este sorriso aqui é teu, dado de graça. E você vai sumindo aos poucos à medida que o vidro acaba. Passou. Agora só daqui uma hora, quando você voltar. Aproveito e corro, pouco, ainda não suporto muito. Volto a caminhar, pra lugar nenhum, mas decidida a chegar. E a certeza de que vou chegar te traz de volta. Lá vem você. E esse tempo longo que te acompanha. Mas pra mim é tão rápido, mal consigo pegar os detalhes do que me faz te admirar. Tempo, tempo, tempo. Uma Alice no meio do nada, fico ali, elaborando tua passagem pelo meu mundo. Se foi. Agora, só amanhã, com sorte.

Amanhã é sábado, vou dormir até segunda pra não sentir essas horas em vão.

O que será que você fez? Riu? Chorou? Viajou? Namorou? Beijou outro alguém que não eu?

Sei lá, nem quero saber. Sei que estás bem, suave novamente no meu caminho.

Embora pareça, ainda não sou louca. Que mal há em te querer? Só porque você não me quer? Você não sabe que me quer, ainda não passei pelo teu vidro como passas pelo meu.

4 de abril de 2007

Tv Mulher - Gabi entrevista Elis - 1ª parte

saudade de um tempo em que eu era criança... E o mundo, ah, o mundo... Era isso.

Tv Mulher - Gabi entrevista Elis - 2ª parte

saudade de um tempo em que eu era criança... E o mundo, ah, o mundo... Era isso.



Valentina quis dar um oi
e receber a todos na nova casa.

20 de março de 2007

auto-volta _ maldita memória

Eu fugi de lá. Deixei as águas que afogavam. Saí­ corrida, escapada, quase tropeçando, de qualquer jeito, o jeito era sair. Ir embora.

Era um sofoco, uma dor, um querer, querer mais. Eu não cabia alí­, não encaixava, vivia escorregando. Quando agarrava qualquer coisa que se parecesse com o que queria, os dedos abriam, desmandados. E perdia. Nada durava.

Agora fora, de fora, dói. Apenas dói. Não acho nada que represente melhor o sentimento. Porque amo. Era uma infelicidade feliz. Feliz por fora e infeliz por dentro. Hoje, feliz por dentro, mas por fora...

As noites passadas em companhia. Os sonhos elaborados, as decepções divididas. Ainda assim, era eu.

Me deixei pra trás, junto com os medos. Hoje, medo só de me perder de mim. Ou seja, nenhum medo. O que mais temia aconteceu. Sem querer, eu fugi de lá, e me esqueci de me levar comigo.

E se lá sou eu, estou presa a mim.

Eu fujo de mim o tempo todo, eu me busco todo o tempo.

Ontem sonhei com aqui, hoje sonho com lá. E o medo, de ter aquela sensação de casa de novo e, de novo, não mais querer.

Queria as ruas com árvores, cheiro de frio. Pouca conversa, silêncio na rua, veja se pode.

Queria a crueza das relações, a presença pela presença, o voltar pra casa e ainda ser cedo. A tosquice dos detalhes.

Queria te desejar e só desejar. Ter é fácil demais. Prazer é desejar.

Hoje é por um fio. O fio do tempo. Todo o tempo do mundo já significa metade de todo o tempo do mundo.

Então, temos metade de todo o tempo do mundo para querer, nos querer, nos ter e nos guardar. Em casa, eu.

Voltas e voltas querendo dizer que sinto falta de ti, coisa, lugar, pessoa, que me representa. Que me faz lembrar a menina de pele bronzeada, olho torto e roupa rosa correndo pra cima e pro lado. Ela era meiga, apesar da descrição. Ela desejou, inventou, transformou o mundinho num espaço infinito. E engoliu. Pôs pra dentro o próprio mundo até não mais caber em si. E aí­, haja quem faça essa criatura, meio menina, meio mundo, caber em qualquer forma. Na mais larga, ela folga, na mais estreita, ela sobra.

Ela segue desejando, porém, não desejar. Mutila-se. Comprime a compreensão de vida no aqui e agora. E quando deita na cama, toma banho ou vê um domingo chuvoso passar, relembra a que veio e com quem quer ir, mesmo que já não possa mais.