1992. Basicamente ontem na memória.
Achava que tudo seria tão mais ficcional. Tão mais definitivo. A placa no caminho dizia que lá na frente, muitas coisas seriam estabelecidas. E pensava comigo que não poderia haver mudanças. Depois de feito, rotulado, assinado e protocolado, nada poderia mudar.
Ledo engano. Quando me vejo caminhando pela rua, dando risada ou pensando quase a mesma coisa que pensava quando passava por uma ou outra pessoa naquele ano, percebo que na verdade, a vida e realmente um dia após o outro, com 24 horas de diferença entre eles.
O dia de hoje, muito provavelmente será igual ao de daqui a 15 anos. Uma ou outra mudança. Hoje em dia, muito mais externa do que interna.
Espero coisas diferentes, mas espero do mesmo jeito. Amo de maneiras diferentes, mas nas mesmas intensidades. O riso é mais denso, mas muito mais original.
E o olhar para o lado pensando estar fazendo algo que não devia. Esse não existe mais nem de longe. Comprar qualquer coisa no boteco da esquina me faz sair de mim por uns segundos e me enxergar como as pessoas com quem eu queria parecer. É infantil, quase provinciano. É sentimento de criança que cresceu em cidade com mais árvores que pessoas. Que comia maçã do amor no parque Farroupilha e estava protegida do mundo, naquele mundo que só quem teve infância de amarelinha com Chicabom sabe reconhecer.
Percebi a pequenice da vida quando deitada sobre o cobertor vermelho, lembrei-me de que somos sozinhos. E a solidão, essa amiga de todo filho único que tem sempre que fazer duas vozes diferentes quando brinca com seus bonecos, se apresentou a mim, estendendo sua mão quente - sim, esta solidão tem as mãos quentes - e me dizendo que estava na hora de eu tomar conhecimento de sua existência.
Quando o telefone toca em uma noite linda, e a voz digitalizada de minha mãe diz que não passa bem e precisa de cuidado, e eu, impotente, só posso dizer um "fica bem, mãe. Te cuida e qualquer coisa, me liga", soa um alarme que conclui: transformar-se em um adulto é passar a dizer frases feitas que não tem efeito prático nenhum para a própria mãe. E pior, transforma-se em um adulto é sentir falta do colo, mas conformar-se em não tê-lo. E por fim, deparar-se com a tal solidão e reconhecê-la como uma velha amiga, que te acompanhará pro resto da vida, por mais pessoas que você carregue ao seu lado. E isso, nem de longe te faz triste, pelo contrário, te acalma, por saber que essa solidão estampa o teu próprio rosto e te conhece melhor que ninguém. Essa solidão, a tua solidão, te abraça e esquenta o lugar aparentemente vazio aí do lado.
playlistinha - momentos
- Ouça o seu silêncio
17 de outubro de 2007
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3 comentários:
Vc cresceu L, e isso é bom e doído ao mesmo tempo.Mas vc virou uma mulher incrível, e não poderia ser diferente. Te amo!
Porra, Lidia Paula. Eu leio este blog em um cyber. E choro. E me orgulho de ti. E acho lindo poder contar contigo para sempre. Porque sabes, né? Ser adulto é fazer amigos que duram o resto da vida. Porra, Lídia Paula. Escreve ai alguma coisa para eu rir.
Cristiane Lisbôa Barôa
o resto todo, amiga lidia paula. o resto todo....
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