playlistinha - momentos

  • Ouça o seu silêncio

19 de maio de 2008

Dois momentos de um mesmo momento - verdade que nos preserva de nós mesmos.

"A gente principia as coisas, no não saber porque, e desde aí perde o poder de continuação..."

"Viver é muito perigoso… Querer o bem com demais força, de incerto jeito, pode já estar sendo se querendo o mal, pôr principiar. Esses homens! Todos puxavam o mundo para si, para o concertar consertado. Mas cada um só vê e entende as coisas dum seu modo. Montante, o mais supro, mais sério… Só se pode viver perto do outro, e conhecer outra pessoa, sem perigo de ódio, se a gente tem amor. Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura. Deus é que me sabe."

Grande Sertão Veredas - Guimarães Rosa

De repente, na madrugada de um domingo pra segunda, você fica olhando uma chuva forte cair, gostosa, molhando a rua, e pensa que sua vida andou tão rápido que em algum momento você perdeu o controle. E percebe que apesar de lhe parecer estranho, isso não é necessariamente uma coisa ruim. E lembra que gostava de tomar banho de chuva e que queria ter por perto pessoas que não tivessem medo de se molhar. E que isso era o que sonhava ter pra sempre, mas que, diferentemente de quando você planeja o que vai estar fazendo aos 30 e poucos anos, você não mais pode determinar o que vai acontecer ou não. Mas sim saber reconhecer quando as coisas estão sendo boas como imaginou ou não.
A chuva vai caindo e o cigarro na sua mão se acabando. E você lembrando do que iria acontecer, ou queria que acontecesse. E percebe que não planejar, mas viver, é a única coisa da qual você tem total controle. Escolher sair nessa chuva, sozinho ou com alguém do lado, é uma questão de momento certo. Não se molhar na chuva de hoje não significa que não haverá mais banhos de chuva. Nem que não haverá pessoas que queiram se molhar com você. Você é a mesma pessoa que acreditava que as coisas podiam e deveriam ser sempre gostosas. O tempo correu, a vida caminhou sozinha, e te colocou aqui, neste momento, olhando pras gotinhas gordas que ainda te dão a sensação de que sim, é possível sentir prazer e felicidade com momentos de minutos que não passam. Não é porque amanhã uma vida chata e cheia de regras vai te acordar, que você não pode ser o cara que ia ser feliz, que desenhou no melhor caderno de rabiscos do mundo: seu coração.
A música-tema do Indiana Jones toca ao fundo, e você pensa: é, ainda acho possível, e bem possível, que tenha muitos alguéns que pensem como eu, e essas pessoas devem estar agora nas suas janelas se perguntando aonde eu estou, que não lá, molhando a mão e dizendo, vem se molhar comigo!
Em alguns minutos, as máquinas de fazer pão vão estar em promoção em algum canal de TV, enquanto pastores vendem Jesus em outros. Os cachorros dormem no sofá, você acende mais um cigarro e segue... acreditando. E cá entre nós, é muito bom saber que a gente acredita na mesma coisa, mesmo em silêncio.

E olha, mais uma chuva passou, e nem foi a última. Quem sabe a gente se encontra na próxima.

13 de maio de 2008

Pessoas exalando coraçõezinhos cor-de-rosa me irritam. (digo pra amiga)
Mas confesso que às vezes alguns balõezinhos coloridos me rondam. Me decepciono comigo mesma, porque acho gente doce demais chata demais.
Certo grau de doçura faz bem, principalmente aos outros. Pode ser então que devamos ser Midsugar em questões de humor.
Agridoce me atrai mais. E até agora lá se vão 349 caracteres e não disse sequer uma palavra que faça qualquer sentido ou diferença para o andamento do dia.

Ouço a música aí de cima e penso que essa capacidade de a gente se definir através de músicas é irritantemente gostosa. Quase preguiçosa, né. Porque a gente aproveita a inspiração alheia para justificar o fato de não conseguir expressar exatamente o que sente. Aí, a musiquinha dá o recado por nós e ainda embala o dia.
Mais 316 caracteres.

Daqui onde estou, vejo a longa subida da Brigadeiro Luís Antonio. Tem vezes, como agora, que não há um carro no pedaço que meus olhos abrangem. transformando um pedacinho minúsculo de São Paulo em uma ceidadezinha-fantasma. O dia tá cinza, mas isso não é novidade nas últimas semanas, E a imagem lá fora parece cinema-mudo. So o vazio, o asfalto, Passou um carro, devagarinho. E aí, meu filho, dependendo da trilha que está nos foninhos, a viagem é longa.
(455)

Conclusão para o momento: vazio literal e 1279 caracteres a esmo.

10 de maio de 2008

Aquilo ali é para você!
Pra mim?
É.
O vaso com florzinhas rosa-alaranjadas me esperava no cantinho.
O cartão dizia: Feliz Dia do Amor (acabei de inventar esta data).
Cheguei a ficar em dúvida sobre quem teria mandado. Mas não seria diferente.
E desse jeito eu vou ficando acostumada a ser amada de graça.
Xixo, também te amo. Eu sei que pouca gente tem essa sorte, de saber que não está sozinho. Não há obrigada suficiente, mas obrigada por me lembrar sempre que isso existe e por tornar mais fácil passar pelo mundo.
Tá, nada de banalizar.

9 de maio de 2008

Hoje, apesar do tom acinzentando no céu, podia ser um dia de sol.
Uma sexta-feira, teoricamente, calma. Pessoas se aproximando alguns milimetros.
Não que felicidade seja pouca coisa, mas pouca coisa às vezes abençoa o coração dizendo: fica calmo, fecha o olho e sente o cheiro.
Que cheiro? Escolha teu preferido.
Olho pra fora de mim, pela janela da direita, que é a que tem o vidro mais limpo, e percebo tumulto. Como passei muito tempo carregando tumultos por dentro, ainda tenho certo medo de absorver, mas olho diretamente e penso que pode ser que seja um período de mudanças. De todos os tipo e tamanhos.
Uma adiquire todo o mal-estar do mundo, têm súbitas tonturas, tosse o que já não cabe mais no meio das costelas, chora, bate a cabeça no travesseiro (essa parte eu imagino) e por fim, queima em febre, transmitindo o recado do pequeno corpo: CARA, pelomordedeus pára de me torturar.
Outro arruma malas, fala estritamente o necessário para me assegurar de que ele ainda é o mesmo, sente os rins congelarem e aguarda ansiosamente um autopresente. Esse já passou a dor do desapego, abandono, e segue rumo ao litoral.
Ainda aqui do lado, um choro quietinho, que ainda nao saiu de dentro, mas de vez em quando m mostra olhos mareados e eu poderia até arriscar dizer que ouço uma garganta travada. Ela esbraveja, se decepciona, talvez se confunda em alguns momentos, e finge ser uma fortaleza. Eu, observo. Espero a deixa, e vez que outra recebo um tom de confiança na voz. Sinto a dor dos 3 e penso na minha. Dois deles me ajudaram a sentir. E eu retribuo, não por gratidão, mas por amor. A outra, talvez não faça idéia, e nem queira saber. Mas eu sinto. Enxergo um pouco mais fundo e espero. Espero ser ou não ser, parte.

7 de maio de 2008

Ah, Marta. Conta pra todos o que aconteceu. Espera o vento chegar e desaba calmamente essa onda que traz nos olhos.
_ Nem pagando, jovem senhora que me destina.
Jovem senhora? Me transforma na média da humanidade e me deixa a ver navios?
_Transformastes tu a ti mesma, não me agracie com mais pagas do que as que trago no corpo. Ontem à noite, já tarde, ainda submersa em água morna, lembrei da primeira vez.
E isso me diz respeito?
_ Por que não diria?
Porque não passo de expectadora neste momento. Disse para você seguir caminho, e te acompanho ao largo. Conto o que vejo, embora você bem tente me esconder certas coisinhas. Tola. Marta, você me faz rir tanto. Como pode acreditar que eu não vejo? Nem com teus olhos fechados eu deixo de enxergar. Portanto, cala a boca de desvios e conta.
_ E desde quando escolher meus sapatos lhe dá o direito de escolher meus amores?
Desde sempre. E apesar de ter o direito, nunca os escolhi por ti. Antes tivesse. Muito menos drama, muito menos água e muito menos dinheiro gasto.
_ Não nega as origens, te preocupam os valores.
Me preocupa teu peito, teu corpo, e os terceiros, a quem vais derrubando no meio do caminho. Já te pergutaste sobre isso? Sobre quantos caíram por ti até que caíste por fim?
_ Alguns. Bem sei. Não sou santa, mas não quero ser puta. Não neste contexto.
Soubesse tu que há putas mais respeitosas que estes teus olhinhos de amêndoa.
_ Escuta aqui, vai ficar neste diz-que-quê? Cadê minha vida? Cadê minha história?
Tá aqui, apressadinha. Isto é só um respiro. Inspira...tá pronta?
_ Tô.

6 de maio de 2008

Eu quero a sorte de um amor tranquilo, com sabor de mac donald`s mordido.

uma madrugada, uma manhã com chuva, um filme do início ao fim, uma estrada anoitecendo a gente perdida, um tamo aqui mesmo né, um plano para amanhã, um boa noite e um bom dia, um sábado à tarde, com sol ou com chuva, um beijo com "te desejo" e um desejo que muda a direção do carro, um "traz pão e uma coca-cola quando voltar", um plano pra semana que vem, um poder te ligar a qualquer hora, um dizer vem aqui ou abrir a porta e ver a surpresa, um chora comigo, um te quero agora, um tremer as pernas, um no meio das pernas, um te tenho amor, mas também calor, um fazer muita falta, um silêncio acompanhado, uma gargalhada dividida, um não vou se ela não for, um pode ir que eu fico bem, um te liguei pra te contar, um saber ter alguém que pensa em ti e te quer perto.

enfim, o que se quer quando se quer

2 de maio de 2008

Tarde chuventa e blábláblá... Deitada no colchãozinho de ar (adoro a polishop), São Paulo sente frio. Os dois peludos dormem, um em cada parte mais quentinha e o controle-remoto resolve não funcionar exatamente quando passa pela Rede Mulher. Tá lá, uma aparição. E pra não ter que levantar e trocar o canal, me contento em ver e ouvir os 5 sucessos da Kátia-cega. Lembra dela? Pois é. E o que mais me choca é que depois de uns 20 anos de carreira, ela ainda não consegue acertar o buraco no pedestal pra encaixar o microfone. Continua não sendo fácil para a Kátia. Nem pra mim.

Eu bem podia ser apresentadora de programa feminino vespertino. Passar a tarde comendo a rodo, entrevistando drag queen e cantora cega. O salário vem das vendas da iogurteira Top Therm, que, somente hoje, tem uma promoção incrível para você: o maldito fermento pra fazer queijo minas.
Sem falar na técnica artesanal de fazer caixinhas com palito de picolé. Vou comprar 25 caixas de 8 Chicaboms pra treinar.
Nessa altura, ja me questiono se eu não gostaria mais de ser a drag entrevistada, até porque, pra cega eu não levo jeito. Ou levo? Ultimamente, se fazer de cego é a melhor opção.
E a tarde vai passando nesse devaneio... e continua chovendo frio... e...