playlistinha - momentos

  • Ouça o seu silêncio

26 de dezembro de 2007

"Rifa-se um coração
Rifa-se um coração quase novo.
Um coração idealista.
Um coração como poucos.
Um coração à moda antiga.
Um coração moleque que insiste
em pregar peças no seu usuário.
Rifa-se um coração que na realidade está um
pouco usado, meio calejado, muito machucado
e que teima em alimentar sonhos e, cultivar ilusões.
Um pouco inconseqüente que nunca desiste
de acreditar nas pessoas.
Um leviano e precipitado coração
que acha que Tim Maia
estava certo quando escreveu...
"...não quero dinheiro, eu quero amor sincero,
é isso que eu espero...".
Um idealista...Um verdadeiro sonhador...
Rifa-se um coração que nunca aprende.
Que não endurece, e mantém sempre viva a
esperança de ser feliz, sendo simples e natural.
Um coração insensato que comanda o racional
sendo louco o suficiente para se apaixonar.
Um furioso suicida que vive procurando
relações e emoções verdadeiras.
Rifa-se um coração que insiste em cometer
sempre os mesmos erros.
Esse coração que erra, briga, se expõe.
Perde o juízo por completo em nome
de causas e paixões.
Sai do sério e, às vezes revê suas posições
arrependido de palavras e gestos.
Este coração tantas vezes incompreendido.
Tantas vezes provocado.
Tantas vezes impulsivo.
Rifa-se este desequilibrado emocional
que abre sorrisos tão largos que quase dá
pra engolir as orelhas, mas que
também arranca lágrimas
e faz murchar o rosto.
Um coração para ser alugado,
ou mesmo utilizado
por quem gosta de emoções fortes.
Um órgão abestado indicado apenas para
quem quer viver intensamente
contra indicado para os que apenas pretendem
passar pela vida matando o tempo,
defendendo-se das emoções.
Rifa-se um coração tão inocente
que se mostra sem armaduras
e deixa louco o seu usuário.
Um coração que quando parar de bater
ouvirá o seu usuário dizer
para São Pedro na hora da prestação de contas:
"O Senhor pode conferir. Eu fiz tudo certo,
só errei quando coloquei sentimento.
Só fiz bobagens e me dei mal
quando ouvi este louco coração de criança
que insiste em não endurecer e,
se recusa a envelhecer"
Rifa-se um coração, ou mesmo troca-se por
outro que tenha um pouco mais de juízo.
Um órgão mais fiel ao seu usuário.
Um amigo do peito que não maltrate
tanto o ser que o abriga.
Um coração que não seja tão inconseqüente.
Rifa-se um coração cego, surdo e mudo,
mas que incomoda um bocado.
Um verdadeiro caçador de aventuras que ainda
não foi adotado, provavelmente, por se recusar
a cultivar ares selvagens ou racionais,
por não querer perder o estilo.
Oferece-se um coração vadio,
sem raça, sem pedigree.
Um simples coração humano.
Um impulsivo membro de comportamento
até meio ultrapassado.
Um modelo cheio de defeitos que,
mesmo estando fora do mercado,
faz questão de não se modernizar,
mas vez por outra,
constrange o corpo que o domina.
Um velho coração que convence
seu usuário a publicar seus segredos
e a ter a petulância de se aventurar como poeta"

clarice lispector

25 de dezembro de 2007

a vida devia ser feita de vésperas.
véspera de aniversário, véspera de um encontro, de natal, de casamento.
os dias que antecedem sempre são mais felizes. só pelo fato de que nos sentimos bem esperando o que vai acontecer.
o dia das coisas nunca é tão bom. porque anuncia que amanhã tudo volta ao normal.
é quase como se o dia certo fosse o dia que as coisas acabam. e é, de certa forma.
o domingo é a representação de todos os dias de grandes eventos.
sexta-feira é feliz, porque a gente ainda tem sábado e domingo pela frente.
sábado é feliz porque estamos vivendo o sábado e... ainda tem domingo.
mas o domingo, embora faça parte do fim de semana, é péssimo. porque a gente passa o dia sendo lembrado de que amanhã acaba a alegria.
nessa mesma levada vai o final do ano... milhões de expectativas, festa, ruas vazias dando aquele ar de o mundo é nosso. mas na meia-noite do dia 31, começa a lembrança que amanhã é dia 01. e embora o ano seja novo, tudo vai começar a se repetir.

não, a visão não é pessimista. eu acredito que algumas coisas mudam junto com o ano sim.
é apenas uma ode à véspera de tudo.
se formos mais fundo, a véspera de um beijo tem 50% de chance de ser melhor que o dia seguinte...
não significa que não daremos o beijo. porque, enfim, 50% de chance de ser incrível já é um começo bem razoável.

então, viva os dias que antecedem.

24 de dezembro de 2007

enquanto houver bolas de ar na boca do estômago...
ela é de verdade. e isso a torna vulnerável.
é de verdade quando ela quer. é de verdade quando ela gosta. é de verdade quando abre um sorriso. é de verdade quando não consegue falar ou fazer exatamente o que pensa.
e é por ser de verdade que fica roxa quando cai.
foram de verdade as tentativas de ser mais forte do que era.
assim como de verdade foi admitir não ter mais força. e esperou a mão.

às vezes, ela olha tão pra frente que não vê debaixo do nariz.
às vezes, olha tão pra trás que não vê o que passa na sua frente.
quis tanto o improvável, que quando o improvável aconteceu, não acreditou que era de verdade. e continuou esperando algo que já havia conseguido. mas como?
é isso que acontece quando você aposta que vai perder. mesmo que ganhe, você acha que perdeu.
isso não explica o (devo registrar aqui que fiquei 20 minutos tentando completar essa frase, e não consigo, por não saber o que de fato isso não explica)

ela, de repente, viu como num filme todos os (+) que não aproveitou. e se pergunta: todos eles se transformaram em (-)?
me lembra Vozz dizendo "amor não pode se resumir em café".

ela me cochichou ao ouvido que a frase ao telefone conforta, mas não justifica:
"quando a pessoa gosta, se importa. se não, simplesmente não era. algumas coisas nem sempre conseguem acabar bem."
e diz: tá bem, mãe. boa noite.

23 de dezembro de 2007



último dia de fechamento da Rolling. último fechamento do ano. e talvez meu último fechamento. lá vou eu mudar de ares de novo, depois de quase 3 anos livre, leve e solta. vai ser bom. 2007 precisava acabar encerrando tudo. foi um ano em que muita coisa se perdeu, de graça, e hoje de manhã quando saí de casa, percebi que eu tinha voltado. só pela roupa que eu escolhi. Lidia Paula de volta ao formato Lidia Paula. ainda não downloadei totalmente quem eu sempre fui, mas to chegando. pra quem tava com saudade de mim. to aqui. com alguns pedaços a menos, mas na essência.
a fotinho tem a cara do dia. claro, fresquinho. Marcinho quase dormindo e eu... eu assim, dando o que tem de melhor aqui no momento. sorrisinho e boa conversa na padoca entre uma matéria e outra...

21 de dezembro de 2007

menina-mundo? você ainda está aí?
a menina-mundo fez tudo na vida quase certinho. de repente, resolveu (com perdão da expressão) fazer merda sem parar, e pior, consigo própria!
será que aos 30 anos todos nós começamos a concluir as mesmas coisas?
que nao adianta ser o que é, sempre te enxergarão como querem.
que por mais coisas boas e agradáveis que se faça, o que será lembrado serão as escorregadas.
que nem sempre as verdades são verdades e que as mentiras podem ser levadas em consideração sempre que convenientes sejam.
que chuva e sol não é casamento de espanhol.
que loja de 1,99 não vende quase nada de 1,99. e quando vende, nunca dá 1 centavo de troco.
que ter afeto por alguém não significa que esse afeto será levado em consideração quando houver um problema.
que de nada vale o que você é, disse ou ouviu. hoje é hoje e ontem nem existe mais.
que você ainda dá valor para os seu princípios, mas esqueceu que não tem mais 17 anos.
que se você acostumar todos à sua risada, eles não saberão te abraçar quando precisar chorar.
que os que te conhecem por dentro te salvarão de se perder de si mesmo.
que se o peito caiu, foda-se. deitada tudo se ajeita.
que se você fica demais, é insistente. e se sai, é desistente.
que não adianta dar nada para quem não quer ou não sabe receber.
que amor é pessoal e intransferível. use um para cada pessoa.
que você não é clarice lispector e às vezes só escreve porcaria.
e que o certo é Nossa Senhora de Aparecida e não Nossa Senhora Desaparecida.

menina-mundo, menina-mundo.
resumiu seu mundo imenso a um buraquinho escuro e sem ar. por que?
não se decepcione com você mesma apenas porque se deixou levar por emoções.
é pra isso que vale a vida, tá lembrada?
você só estava muito mal acostumada. só havia encontrado pessoas que entendiam.
você resolveu parar de fumar, porque por mais prazeroso que seja, isso te faz mal.

aos 30, você também percebe que seu vasto vocabulário às vezes é incapaz de expressar tudo o que sente. e descobre, a duras penas, que não pode explicar tudo. e quem não quiser entender, não vai tentar só por você.
aos 30, você aprende e começa a se convencer de que tem que aceitar que nem todo mundo guarda uma boa imagem de você, e que isso não significa que você não tem essa boa imagem. significa que a lente não estava ajustada ao ângulo.

e mais importante, seu karma talvez não seja abalado só porque você valorizou demais uma situação.
tente não levar tudo tão a sério. (momento de auto-convencimento de uma nerd emocional)

20 de dezembro de 2007

não me ensinaram na escola a lidar com pessoas que não dizem.
pessoas que não dizem sim, pessoas que não dizem não. pessoas que sequer dizem talvez.
E você sai tentando adivinhar o que elas querem dizer.
e é o início do erro, tentar adivinhar o que o cara que não diz quer dizer.
e você pensa: tão mais fácil expressar. coisa boa ou ruim. tanto faz. evita maiores enganos.
aí, você, que defende a teoria do "falar", vai lá e puft, desata a narrativa.
de ansioso a louco espumante, é um pulo.
há os espertos, que se aproveitam disso para usar suas próprias palavras contra você mesmo. e puft de novo, você se traiu.
a pessoa vem, te dá um tapa e chora, como se fosse você que tivesse batido.
às vezes acho que é o prazer de ver o outro meio caído.
até que você chega no ponto do "perdoa-me por me traíres".
tenha dó.
e o louco, o que tem espuminha na boca, é você.
e é mesmo. louco de pedra de se deixar manipular.
tudo bem que você estava cego.
então vamos fazer um teste?
abre um olho. agora o outro.
olha aí ó!

Se você se der para quem não sabe receber, corre um imenso risco de ficar embrulhado num canto da sala.

18 de dezembro de 2007

Às vezes somos meio mosca, que a vida inteira leva 24 horas.
Em 24 horas conseguimos passar pelo processo de N sentimentos. É quase como transitar sobre os ciclos em minutos.
Sentir, considerar, analisar e querer solucionar em horas coisas que a maioria das pessoas leva dias, semanas.
Não significa mudar de opinião toda hora. Mas absorver rápido demais tudo. As dores e as alegrias - talvez o princípio da insatisfação.
Se eu engravidasse agora, talvez meu filho estivesse pronto pra nascer em no máximo dois dias.
Será uma leitura dinâmica da vida, dessas que você só vai registrando palavras-chave?
Não. Impossível uma vez que vou fundo demais em quase tudo. Só sei que é cansativo tantos sentires num período tão curto.
Pessoas não acompanham e fica sempre essa impressão de que vc tá levando tudo rápido demais.
Quando minha mãe comprava os livros da lista de material do colégio, dias antes de começar as aulas eu ja havia lido todos. Quando a professora ia dar uma matéria, não tinha a menor novidade pra mim.

Sometimes, se alguém me magoa pela manhã, e eu rebato, em horas já fiz um exame de consciência e já me arrependi, e já me senti mal e já pedi desculpas e já estou pronta para que tudo volte ao normal. E a outra parte ainda está só p da vida.
Agora, pra quê estou escrevendo sobre isso, nem me pergunte.
Foi algo que veio à cabeça depois de um período de dor, mágoa, saudade, vontade de estar longe e por fim, desejo de estar perto. A única coisa que tem um tempo longo de existência é a falta. Sentir falta demora.
E eu me dizendo: acho que você precisa desacelerar.
O tempo das coisas é muito maior que o teu.
Na urgência de sofrer menos, acaba-se por sofrer repetidamente.

Conversa filosófica sobre a solidão com um pai ausente à 1h30 da manhã.
Sim. O mundo tem salvação.
E lá estamos nós, eu e ele, trocando MSNs sobre ser ou não ser sozinho.
Ele não me falou nenhuma novidade. Mas talvez eu o tenha surpreendido.
Ok, dizer que ele não me falou nenhuma novidade é duro demais. Me disse que escolheu ser sozinho por sobrevivência, mas que sabe que foi a escolha errada.
Palmas e plaquinhas para papai.
Sim, caros mortais. Deve ser o perfume de Papai Noel se aproximando. Corações amolecem.
Por falar no barbudo, este vai ser meu primeiro natal só. Sem mamãe, sem tradicionais passadas nas casas dos amigos, e sem natal da Xuxa se Deus quiser.
Triste? Não, nem um pouco. Acho que vai ser, no mínimo, enriquecedor.
Durante quase 15 anos, ele sempre esteve lá, um pouco depois da meia-noite ele chegava.
Não é o Papai Noel, porque desde os 4 anos, depois que eu descobri a bicicleta atrás da cortina, eu já sei que ele não vem. Não que não exista, mas é uma questão de logística.
O Cara ao qual me refiro é aquele predestinado a mim, assim como eu a ele, por puro karma. E vamos combinar que é um karma bem bom de pagar.
Neste ano, que vai até ele sou eu. No mínimo será emblemático.
Segundo ele, nós, o peru e o vinho nos bastamos.
Segundo eu, a gente vai queimar o peru, beber todo o vinho, chorar duas vezes e morrer de rir. Tem coisa melhor?
Então vai lá, pedido de natal: papai do céu, mantenha minha boca fechada para que eu não termine o ano choramingando meus assuntos insuportáveis nos ouvidos santos do meu melhor amigo. Me engasga com o peru, mas me mantenha de boca bem fechada. Ele ja pagou os pecados por este ano.
Agora, no ano novo...


2h44 - comi um balde de arroz com qualquer coisa e to com um buraco imenso no estômago. A coca-cola acabou. A dor aquela tá adormecida.
Não vou fumar mais porque o pulmãozinho dói e nada me convence de que isso não é o início de alguma coisa bem séria. Sim, perco tudo, menos a dramaticidade.
Vazio! É isso. O buraco no estômago. Será meu vazio? Aquele que venho pedindo há semanas. Deus é pai, me esvazia de mim. (isso não é simpatia pra emagracer, ok)
Nenhuma música permeou esta noite.
Vejamos se há alguma que faça sentido...
Veio na cabeça uma da Ana Carolina, velhaaaaa que dói. Mas deixemos Ana pra lá.
Outra.
Meu nome é Gal, e desejo me corresponder com um rapaz que seja o tal. Meu nome é Gal. E não faz mal que ele não seja branco, não tenha cultura de qualquer altura, eu amo igual. Meu nome é Gal. E tanto faz que ele tenha defeito e traga no peito crença e tradição. Meu nome é Gal. E eu amo igual.
Meu nomeee Gallllllllll...

12 de dezembro de 2007

3h54 - em casa. Gosto mais da noite. Vim caminhando pela rua molhada e vazia.
Tem um ar na noite que me faz sentir bem. Tudo fechado, um carro ou outro. Entro em casa e recebo afagos. Eles estão sempre me esperando. A última música pôs todos sentadinhos no palquinho. Parecia uma foto do jardim de infância.
Tirando Maria Sapatão, acho que até as japonesas só falam de amor pra lá, amor pra cá. Entre alegres e tristonhas, todas fazem a gente pensar em alguém. Blá. Fiquei olhando pro japonês gordinho do outro lado, enquanto lia a letra de Flor de Lis na televisãozinha. Em quem será que ele pensava? "Valei-me Deus, é o fim do nosso amor. Perdoa por favor, eu sei que o erro aconteceu, mas não sei o que fez tudo mudar de vez, onde foi que eu errei. Eu só sei que amei, que amei, que amei. Será talvez, que a minha ilusão foi dar meu coração pra essa moça me fazer feliz. E o destino não quis me ter como raiz de uma flos de lis...".
Música vai, música vem. Boas risadas, meio amerelas às vezes, mas boas risadas.
Agora um silêncio molhado de chuva. Tem jeito de se fazer mais noites que dias?
Não sei o que é, mas a noite me dá sensação de abraço. Nunca consegui explicar exatamente, mas alguém deve saber do que falo.
4h18 - logo vem o sol, novo dia. Será que quando eu abrir os olhos daqui a pouco, virá o mesmo primeiro pensamento de todas as manhãs? Por favor, não.
O senso de humor do Todo Poderoso tá começando a me encher o saco, sabia.
Dá pro Senhor ir tirar uma com a cara de outro?
Valentina deitadinha me olha e deve pensar o quê?
E pensar que semana que vem, ela não estará aqui. Batendo o rabinho no chão quando me vê.
Ela vai estar mais feliz. Isso que importa. Eu... não interessa. Já sou gente grande.
Sou??
Às vezes me sinto gente pequena. Gente que só quer colo.
Pelo menos ainda estou aqui. Às 20h30, achei que não estaria. Foram dois tiros do ladinho de onde eu estava. Dois caras correndo e eu pensando: Deus, que eu não ache uma dessas balas que acabaram de se perder.
Blá. Boa noite musical
Ah, cantamos Deslizes. Sucesso.
E o quentinho do note na minha barriga neste momento é impagável.

7 de dezembro de 2007

ele chegou
veio carregado pela música
sabia que era esperado, e com toda força derrubou, pôs-se abaixo
escorreu aos poucos, como escorro eu
e pingou no peito
soluçou quase falso, insistiu em não parar
e que não pare. é bem-vindo ao seco do engasgo
recebido de braços abertos e olhos fechados
molha, lava pra fora daqui com essa tristeza que finge alegria pra não se acabar
desce o rosto justificando tua demora
treme, e estilhaça a burrice, a tolice
devolve a vergonha
ocupa teu lugar
limpa o peito pra que o engano seja visto
não se engana ninguém a não ser a si mesmo
tua ausência deixou o limite pra trás
nada faz sentido
você vem e pergunta quando vou conseguir parar
não sei, não sei. quero e preciso
me venci
agora me lava, leve o tempo que precisar
não pára assim sem porque
enche de agua salgada meu vazio
triste é perceber-se ridículo para si mesmo
que merda é essa que você ta fazendo

parou, não consigo nem terminar o verso
não há poética que resista à falta de capacidade de sofrer com dignidade
a vida não é um jogo de memória
nem todas as dores são repetidas dos dois lados
tua saudade não se repete por lá
a falta que te fazem não espelha a tua falta
muito bonito, mas eu não consigo aceitar


e minha própria poesia me diz: foda-se você.

6 de dezembro de 2007

Meus olhos não permitem uma gota caída por medo que me eu me afogue em minha própria lágrima.
Minha letra rabiscada descreve o sorriso largo que me faz lembrar os doces olhos e o som da voz.
Certo dia, esses olhos cruzaram meu caminho.

O que será que me dá que me bole por dentro
Será que me dá

Certo dia, vi o sorriso se abrindo como lentamente olhos abrem sonolentos pela manhã depois de um sonho esperado.
Que brota a flor da pele será que me dá
E que me sobe às faces e me faz corar

Certo dia, ouvi a voz. Suaves primeiras palavras. Conheci o primeiro tom: tímido.
Segui vendo ao longe.
Certo dia, um olá.
Um convite aceito de susto. A vergonha na cara que me faltou me mostrou o caminho.
Era isso. Era exatamente isso.
Certo dia, o telefone tocou.
E tocou novamente. E de novo.
E entre graças, ninguém percebeu.
O pó mágico teu e meu.
As noites brilham mais desde lá.
E brilham, todos sabem, todos vêem.
Negativas. Quantas negativas combatidas lá e cá.
E que me salta aos olhos a me atraiçoar
E que me aperta o peito e me faz confessar

De tantas pedrinhas ladrilhadas, nenhum olhar nunca quis mentir.
O que não tem mais jeito de dissimular

A chuva que chora lá fora faz lembrar as primeiras lágrimas que tanto me encantaram.
Acho que te amei alí.
A capa dura não escondeu de meus olhos, que fingem olhar pra onde não se sabe, essa fragilidade.
Desejei alí.
E que nem é direito ninguém recusar

Perdi teus olhos de vista tantas vezes que perdi a conta.
Um anjo que insiste em voar sobre nós trazia de volta. Ele pleiteia suas asas por nós. Num céu de algodão.
De algodão teus lábios nos meus. Noite inesperada. Noite improvável. Incompreensivelmente provável aos olhos do anjinho.
E que me faz mendigo me faz implorar
O que não tem medida nem nunca terá
O que não tem remédio nem nunca terá
O que não tem receita

Pequenas confissões.
Esse coração que se parte e se refaz, movimento interminável.
Não teve jeito.
O caminho era de encontro. Tentativas de desvio em vão.
Mas pra quê?
Pra que desviar do que nos faz sorrir de doer a barriga?
Certo dia, dormiu em meu colo.
Arrisco achar que ali você sentiu.
Tão protegida se desprotegeu.
Meus minutos viraram horas.
E teu sono consegue ser mais lindo que a palavra que o descreve.
Certo dia, de repente, a distância-ausência aproximou tudo...
O que será que será
Que dá dentro da gente que não devia
Que desacata a gente que é revelia
Que é feito aguardente que não sacia
Que é feito estar doente de uma folia

E foi um pouco tão muito que não se aguentou em si.
Desordenadamente, o sentimento mais intenso, dolorido e apaixonante justamente por ser de uma suavidade brutal calou.
Esse "nosso" não se escreve. Esse "nosso" mora nos olhinhos ora verdes ora de mel, mora nesse espaço que vai daqui até aí.
Nem todos os unguentos vão aliviar
Nem todos os quebrantos toda alquimia
Que nem todos os santos será que será
O que não tem descanso nem nunca terá
O que não tem cansaço nem nunca terá
O que não tem limite

Essa saudade que não permite ausência.
E uma aflição medonha me faz suplicar
O que não tem vergonha nem nunca terá
O que não tem governo nem nunca terá
O que não tem juízo


Boa noite, bom dia, boa noite, bom dia, boa noite...
Boa noite e bom dia são encontros. Lindos encontros como você.

1 de dezembro de 2007

Duas da manhã. Hoje, o trabalho foi daqueles que dá mais prazer que trabalho. Um livro lindo, que vai ser um estouro. Revisei, devorando em pequenas horas.
Djavan cantando louco aqui atrás. E há neste mundo musical quem cante coisas de amor tão leve quanto ele? Eu quero ser uma música do Djavan.

Vou dormir, há uma moça meditando na Índia há meses, esperando para ser lida. Devo isso a ela, e farei já.

"Teus sinais me confundem da cabeça aos pés, mas por dentro eu te devoro. Teu olhar não me diz exato quem tu és, mesmo assim eu te devoro."

Djavan é foda. Podia ser qualquer canção, mas deixo esta nesta noite.... corre solta musiquinha.

Boa noite,