playlistinha - momentos

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20 de março de 2007

auto-volta _ maldita memória

Eu fugi de lá. Deixei as águas que afogavam. Saí­ corrida, escapada, quase tropeçando, de qualquer jeito, o jeito era sair. Ir embora.

Era um sofoco, uma dor, um querer, querer mais. Eu não cabia alí­, não encaixava, vivia escorregando. Quando agarrava qualquer coisa que se parecesse com o que queria, os dedos abriam, desmandados. E perdia. Nada durava.

Agora fora, de fora, dói. Apenas dói. Não acho nada que represente melhor o sentimento. Porque amo. Era uma infelicidade feliz. Feliz por fora e infeliz por dentro. Hoje, feliz por dentro, mas por fora...

As noites passadas em companhia. Os sonhos elaborados, as decepções divididas. Ainda assim, era eu.

Me deixei pra trás, junto com os medos. Hoje, medo só de me perder de mim. Ou seja, nenhum medo. O que mais temia aconteceu. Sem querer, eu fugi de lá, e me esqueci de me levar comigo.

E se lá sou eu, estou presa a mim.

Eu fujo de mim o tempo todo, eu me busco todo o tempo.

Ontem sonhei com aqui, hoje sonho com lá. E o medo, de ter aquela sensação de casa de novo e, de novo, não mais querer.

Queria as ruas com árvores, cheiro de frio. Pouca conversa, silêncio na rua, veja se pode.

Queria a crueza das relações, a presença pela presença, o voltar pra casa e ainda ser cedo. A tosquice dos detalhes.

Queria te desejar e só desejar. Ter é fácil demais. Prazer é desejar.

Hoje é por um fio. O fio do tempo. Todo o tempo do mundo já significa metade de todo o tempo do mundo.

Então, temos metade de todo o tempo do mundo para querer, nos querer, nos ter e nos guardar. Em casa, eu.

Voltas e voltas querendo dizer que sinto falta de ti, coisa, lugar, pessoa, que me representa. Que me faz lembrar a menina de pele bronzeada, olho torto e roupa rosa correndo pra cima e pro lado. Ela era meiga, apesar da descrição. Ela desejou, inventou, transformou o mundinho num espaço infinito. E engoliu. Pôs pra dentro o próprio mundo até não mais caber em si. E aí­, haja quem faça essa criatura, meio menina, meio mundo, caber em qualquer forma. Na mais larga, ela folga, na mais estreita, ela sobra.

Ela segue desejando, porém, não desejar. Mutila-se. Comprime a compreensão de vida no aqui e agora. E quando deita na cama, toma banho ou vê um domingo chuvoso passar, relembra a que veio e com quem quer ir, mesmo que já não possa mais.

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