playlistinha - momentos

  • Ouça o seu silêncio

28 de outubro de 2008

ando sem muito ânimo pra escrever. não que não haja inspiração. Há, mas ela chega tarde da noite, quando não tenho forças para digitar, ou no meio do trânsito, ou quando lembro. E nunca consegui ser dessas que carrega um bloquinho ou um gravador e tudo registra. Confio demais em mim, confio demais na memória e ela constantemente me trai, quase como um deboche. Afirmando minha incapacidade de controle.
O momento vem, as palavras certas, a emoção... penso: "assim que puder ecreverei sobre isso". Tolice. Embora os sentimentos se repitam em mim, eles se apresentam de forma perfeita apenas uma ou duas vezes. E la se foi. A maneira mais linda de descrever algo que você não iria entender de qualquer forma.

Minha barriga dói.
Como será perder a memória?
Será a representação mais honesta de liberdade?

24 de outubro de 2008

Ela não entra na minha banheira nem com roupa de neoprene.


Lisbôa, respondendo ao comentário incomentável de uma amiga numa tarde de calor.

16 de outubro de 2008


não consegui ir embora ainda.
e assim vou perdendo o crédito de ser necessária, de fazer falta.
alguém me diz: 

"tu te obriga a coisas absurdas.
mas não te obriga a ir embora de vez.
e quando conseguir o que tanto quer, tu vai ter vegonha.
de ti.
escuta o que te digo."

vou pra água. do jeito que dá.
5 minutos submersa 
pronto
e a sopa, era laranja, tá ficando roxa. Oxidação?
ela não deveria ser antioxidante?
ontem à noite sorri muito atravessando a rua. Me perguntei: tá sorrindo exatamente por quê, bobalhona?
eu sei, mas não te conto. Mas algumas pequenas coisas, que você nem imagina, conseguem me deixar feliz. 
Apesar de... eu consigo.
meu buraco é mais embaixo, não trabalho com superfície. 
Onde você vê uma pessoa eu vejo um motivo.
tem algo maior por trás. não se consegue ir contra isso.
it just is.
mas às vezes, é só uma noite quente, um bom papo, dar risada, e ninguém precisa saber o porquê... 
e de novo... it just is.



13 de outubro de 2008

Há partes de mim pulverizadas por ai.

Sempre falta um pedaço.
Vou insistindo em juntá-los, buscando maneiras de estar inteira.
E um dia olhar pro lado e ver meu limite, ou o limite das minhas querências.
E não querer nada além da cerca que me conforta.
E não esperar ninguém chegar nem ninguém descobrir.
E não desejar os peludos, porque eles vão estar ali.
E quem sabe vou, então, caber em mim e no espaço que ocupo,
sem parecer que tem uma parte que não está aqui.
Se já vivo com meio coração, que este bata a contento, e saiba de si.
E que chore em dobro e ame em dobro, pra compensar a metade perdida.

9 de outubro de 2008

Eventualmente, quando penso em ser alguém significativo à humanidade, ou pelo menos a uma parte dela, planejo uma exposição sobre mim planejada por alguém que não eu.

Dentre as várias seções - sim serão várias -, sempre imagino uma com cartas trocadas - o tempo passa e terão de ser incluídos alguns e-mails também, não fiquei imune.
Não que eu ache que minha vida seja das mais polêmicas, mas pelo orgulho de travar conversas escritas com os que me conhecem bem que quase parecem poemas ritmados ao violão.
Quisera eu reproduzir algumas, acredito que pelo menos boas risadas provocariam, meus interlocutores - ou interescritores - são dos mais espirituosos, e eu... vou seguindo fazendo rir ou chorar os que escolheram de livre e espontânea vontade partilhar a vida comigo.
Amigos, ex-amores-amigos-maisamores, alguns de tanta fé que na distância de dias sem fim, aparecem com duas ou três frases do nada, mas que representam um mundo.
"...tu segue comigo a cada momento, a cada passo... sempre espero a hora de dividir as coisas contigo novamente... inumeras vezes vivo as coisas como uma retardada ao lado de uma amiguinha invisível... dou risada de coisas e escuto a tua risada ao meu lado... como se estivesse presente... pode parecer estranho... devido a ausencia e a distancia... mas ainda é contigo e somente contigo que divido a minha mais interna emoção...me sinto com 16 anos... velha garota ainda de guids all star e tudo o mais... nao tenho mudado muito nada para te esperar."

ou
um abraço sem fim e a amiga diz, "acho que vou levar tua cabeça comigo...".. 
"e sim, nem bom nem mal não é ruim. lembra que quem quer montanha russa o tempo todo acaba vomitando no pé.
ditado que acabei de criar mas achei bom.
sim, devias ter deixado a tua cabeça comigo.
ela me seria útil em casa.
podia deixar em cima da tv e ir conversando enquanto tentava em vão achar um local ideal para os móveis"


Talvez eu me dê mais importância do que realmente tenha, porque na verdade mesmo, eu sou brega no úrtimo, invejosa, grosseira e desintelectualizada. Uma farsa quase bem dirigida. Leio somente orelhas de livros e disserto sobre a vida e obra dos autores, manejo bem um teclado e decorei dicionários. Leio bulas de remédio pra ter mais soluções em eventos casuais. Destruo códigos internos para privilegiar amores burros e saio correndo, a galope (como diz Crislis), toda vez que apesar de eu ser quem sou alguém não arreda o pé do meu lado. 
Duvido de quem me ama.
E acredito em pessoas que eu inventei.
Corro a buscar uma caixa vazia.
Destravo cadiados que não fecham porta nenhuma.
E não sigo evidências.
Desacredito de probabilidades.
Escrevo descombinando palavras, porque no fundo a confusão me completa.
Mas gosto de quem me esmiuça, de quem descobre o que tem por trás dos meus sorrisos tão sinceros. 
Gosto de quem não tem medo. 
E morro de medo de deixar de sentir, qualquer coisa.
Normalmente, ofereço bóias para quem atravessa meu clown. 
Porque é fundo aqui dentro... 
ah, e há ondas.

7 de outubro de 2008

Dois bons momentos de Fragmentos do Evangelho Apócrifo, de Jorge Luis Borges:


27. Não falo de vinganças nem de perdões; o esquecimento é a única vingança e o único perdão.

33. Dá o santo aos cães, atira tuas pérolas aos porcos; o que importa é dar.

6 de outubro de 2008

A pequena suculenta murchou.

Olho as pétalas enrugadinhas, quase ressentidas pelo esquecimento.
Com a mão cheia de água, hidrato gota a gota a plantinha que me olha todo dia.
A absorção não é automática mas amanhã vai estar verde e gordinha, suculenta novamente.
Como ela, me sinto murchinha... E embora eu encha as mãos de boas coisas, não me hidratam.
Talvez quando a gente esteja murchinho, sem muito o que dar, precisando tanto receber, seja um momento de sentar no cantinho da sala, agachadinho, e ficar ali. 
Durmo com a bochecha na parede, sonho com pessoas que não fazem o menor sentido. Sinto uma constante falta de uma vida que não existe mais, me deixo magoar por imagens publicadas, e lamento, profundamente, a decepção homeopática. Ainda seguro com as duas mãos o peito, pra não deixar que se vá, e fico puta da vida ao sentir que fico fraca a cada destempero. As mãos já seguram com menos força, mas ainda seguram. 
Auto-açoite e não vou a nocaute... E quase me detesto por querer ser tão resistente.

2 de outubro de 2008

Você já se deu conta de quantas vidas cabem na sua vida?

Às vezes, lembro de todas as pessoas com as quais convivi e todos os mundos que conheci.
E são muitos, e tão distintos que é difícil até acreditar que couberam nos meus até agora 31 anos.
Bem sei que dependem dessas vidas dentro da vida as nuances de quem sou.
Você pode se perguntar: Sim, mas o que isso tem de importante?
Tem muito. Aliás, acho que é de fato O que importa mesmo.
Quando você acha que não se enquadra em algo que vive hoje, lembre das tantas referências que adquiriu.
Hoje você pode estar tomando café em um Starbucks com suas poltronas marrom-escuro e pessoas hype que discutem seu comportamento amoroso. Mas você lembra de quando tinha 6 anos de idade e tomava café com pão quentinho, recém-comprado na padaria, sentado na poltrona até esfarrapada da casa de madeira simples onde morava a senhora que trabalhava na casa dos seus avós?
Aquela sensação também faz parte de você, e arrisco dizer que ela talvez explique mais sobre você.
Lá pelos 10 anos, minha vida era praia. Eu respirava praia, suportava o ano inteiro de aulas para estar na praia, passava 3 meses perdida entre o mar e as fugidas de bicicleta que duravam até anoitecer. Eu ia dormir sonhando com TUDO o que eu queria ser e fazer. E acordava ouvindo as ondas batendo quase no muro de casa. E pasmem, naquela época, o sol, o barulho de gente feliz, cantando, o céu azulzinho, me faziam pular da cama.
Meus 10 anos também guardam tristezas. Apesar de viver cercada de amigos, meu mundo interno sempre foi mais interessante pra mim. Não sei precisar quando foi que minha vidinha paralela começou a não ser atualizada diariamente. Portanto, não sei precisar quando foi que cresci. O fato é que isso aconteceu, bem bem depois dos 10 anos, posso garantir.
Lá pelos 15/16, um ensaio para a vida de adulto. Eu ainda acreditava que podia ser qualquer coisa, e seria. Descobri qual mundo me fazia feliz. E também minha capacidade de não me permitir o ser. Mas isso é outro post. 

O que interessa é que hoje você pode estar vivendo coisas que até enxerga como definitivas ou determinantes, mas pode, e deve, tentar lembrar de todos os momentos absolutamente diferentes de que você já fez parte. E a gente traz um pouquinho de cada um conosco. E o melhor de tudo: a gente pode voltar a essas vidas, nem que seja para se resgatar quando algo ou alguém nos faz esquecer quem somos.
É muito provável que isso não o impeça de sofrer, de se decepcionar ou lamentar a não presença de alguém na sua vida. Mas não tenho dúvida de que isso fará com que você reconheça de imediato quando algo ou alguém te transmite felicidade. Basta este algo ou alguém te lembrar aquela sensação que você tinha quando sonhava ou quando vivia, sem se preocupar com amanhã, porque amanhã podia tudo.

Ah, e se você reencontrar essa sensação, faça de tudo para tê-la. Apenas não se perca...
E antes que você pergunte, não, eu ainda não...



Torturo diariamente os que me amam.

Querendo mais, querendo além, querendo diferente, não querendo.
Torturo, de maneira tal que me desculpo ininterruptamente.
Torturo a mim, porque privo quem muito merece do melhor de mim.
E é sem querer, juro. Sem querer. 
Em breves momentos de paz, estabeleço a real dimensão de tudo. Para então ver  a onda de distorção voltar. E dói, dói mesmo sabendo a verdade.
Perceber-se suscetível a sentimentos e sensações não controláveis, e estar ciente disso, pode ser a mais reveladora e mais dolorida experiência evolutiva.

desculpe ser tão fraca e tão forte.
assim como vocês, espero ansiosamente por sentir a mim novamente.
e eu queria apenas silenciar...