O garoto é carregado de rabiscos na alma.
Esbôços de tentativas frustradas.
Debaixo do braço, um bloco de papel de desenho A3. Canetas coloridas e apenas um lápis.
Ele senta, bem à minha frente. Do seu sorriso, vejo saírem notas de um sambinha malandro. Lá de cima do morro.
E começam os traços. Os meus são fortes, e concentram meias-gotas de sorrisos interrompidos.
Ele pára, me olha, e pergunta:arrepende-se?
Penso. Profundamente imergindo meu peito. Arrepender-me? De que maneira?
Arrepender-se é ato de extremos. Posto isso, contei-lhe do dia em que fui embora.
E no que se seguia minha história, seu lápis dançava entre as folhas. O baile do preto no branco. Meu sorriso interrompia o silêncio da tardinha. (hoje, quando fico olhando ela sentadinha ao pé da porta, no sol, sentindo os cheiros que vêm da rua, lembro desse silêncio)
Percebi que fiquei ali por mais tempo que uma lembrança. Agora, já parado de braços cruzados, o moleque ria. Incontido, dentes à mostra, abraçado aos desenhos.
Natural que lhe pagasse por eles. Dou 20. Ele sai assobiando.
Pego os rabiscos que me retratam e silencio - no tanto que tenho para mostrar, o branco dos meus dentes apagam desenhos de mim mesmo.
playlistinha - momentos
- Ouça o seu silêncio
10 de agosto de 2007
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