playlistinha - momentos

  • Ouça o seu silêncio

27 de outubro de 2007

Engano - desacerto, deslize, voluntário ou não; erro de julgamento, de percepção dos sentidos; devaneio, ilusão.
Talvez a maior ocorrência entre nós, seres nem tão humanos como insistimos em nos denominar.
O engano acontece, ou é provocado, pela necessidade de acreditarmos em algo que queremos muito que exista.
Enganar não é tão grave quanto enganar-se. E este cheiro de patchouli tem tomado conta dos sentidos, trazendo uma leve sensação de conforto. À parte o devaneio olfativo que me acompanha no momento, volto ao auto-engano, fenômeno que deve matar mais que as grandes epidemias. Pois é ato concedido. Nos enganamos diariamente, à luz do dia, sem nenhum pudor de nós mesmos. E vim aqui para assumir o engano.
Me enganei. Com todo o prazer do mundo, me fiz acreditar no que queria que fosse real.
Você, ser que me acomete aos melhores sonhos, não existe de fato. Enganei a mim mesma ao atribuir a você um significado determinante para meus sentimentos. Ninguém me enganou. A não ser eu mesma. Praticamente, é como transformar teu sorriso em uma declaração de felicidade. É como ler nos teus olhos um "gosto de ti" que não passe de um "você me distrai". E é, acima de tudo, ler o teu "gosto de ti" de fato, quando o dizes, como se fosse uma grande demonstração de te considero.
Acostumem-se. Dizer qualquer coisa não significa mais dizer alguma coisa. Talvez a física quântica tenha alguma explicação para o auto-engano. Para o fato de tomarmos uma verdade que não pretendia existir como razão para seguirmos esperando.
Nada faz sentido, muito menos este texto. jogado às linhas embebido em vinho e nicotina. Porém, de acordo com aquela teoria daquela menina maluca de sentidos e sentimentos,nada é tudo, e ninguém é todo mundo. Pois, se aqui não há nada, há tudo em seu lugar. Afinal, ninguém está ou todo mundo não está?
Se eu sou e você também é. Quem deixou de ser, para que não sejamos?
Bebi. Sim, bebi. Mas não demais para deixar de saber que me enganei. E pior, sigo querendo me enganar. Porque acredito em enganos. Um doce engano. Que estava ali, na minha frente, gritando: sou um engano!.
E se existe a expressão "feliz engano", espero que este seja um deles.

17 de outubro de 2007

1992. Basicamente ontem na memória.
Achava que tudo seria tão mais ficcional. Tão mais definitivo. A placa no caminho dizia que lá na frente, muitas coisas seriam estabelecidas. E pensava comigo que não poderia haver mudanças. Depois de feito, rotulado, assinado e protocolado, nada poderia mudar.
Ledo engano. Quando me vejo caminhando pela rua, dando risada ou pensando quase a mesma coisa que pensava quando passava por uma ou outra pessoa naquele ano, percebo que na verdade, a vida e realmente um dia após o outro, com 24 horas de diferença entre eles.
O dia de hoje, muito provavelmente será igual ao de daqui a 15 anos. Uma ou outra mudança. Hoje em dia, muito mais externa do que interna.
Espero coisas diferentes, mas espero do mesmo jeito. Amo de maneiras diferentes, mas nas mesmas intensidades. O riso é mais denso, mas muito mais original.
E o olhar para o lado pensando estar fazendo algo que não devia. Esse não existe mais nem de longe. Comprar qualquer coisa no boteco da esquina me faz sair de mim por uns segundos e me enxergar como as pessoas com quem eu queria parecer. É infantil, quase provinciano. É sentimento de criança que cresceu em cidade com mais árvores que pessoas. Que comia maçã do amor no parque Farroupilha e estava protegida do mundo, naquele mundo que só quem teve infância de amarelinha com Chicabom sabe reconhecer.

Percebi a pequenice da vida quando deitada sobre o cobertor vermelho, lembrei-me de que somos sozinhos. E a solidão, essa amiga de todo filho único que tem sempre que fazer duas vozes diferentes quando brinca com seus bonecos, se apresentou a mim, estendendo sua mão quente - sim, esta solidão tem as mãos quentes - e me dizendo que estava na hora de eu tomar conhecimento de sua existência.
Quando o telefone toca em uma noite linda, e a voz digitalizada de minha mãe diz que não passa bem e precisa de cuidado, e eu, impotente, só posso dizer um "fica bem, mãe. Te cuida e qualquer coisa, me liga", soa um alarme que conclui: transformar-se em um adulto é passar a dizer frases feitas que não tem efeito prático nenhum para a própria mãe. E pior, transforma-se em um adulto é sentir falta do colo, mas conformar-se em não tê-lo. E por fim, deparar-se com a tal solidão e reconhecê-la como uma velha amiga, que te acompanhará pro resto da vida, por mais pessoas que você carregue ao seu lado. E isso, nem de longe te faz triste, pelo contrário, te acalma, por saber que essa solidão estampa o teu próprio rosto e te conhece melhor que ninguém. Essa solidão, a tua solidão, te abraça e esquenta o lugar aparentemente vazio aí do lado.

14 de outubro de 2007

Just don`t understand when it come, look like be ok, and them seems to be a dream that never happened.

7 de outubro de 2007

Isso é o quê?

Se me perguntar se te gosto como amor, responderei que sim.
Porque minha barriga esfria quando te vejo.
Minha mão treme, e meu olho deve brilhar.
Sentimentos podem ser confusos naturalmente.
Imagine, então, os que nós confundimos... Mas tem coisa que não dá para confundir.
Te ter deitada no meu colo, quietinha, abraçada como se estivesse sonhando, foi mais que um beijo, mais que cama, mais que ter ou não ter um rótulo definindo o que acontece entre nós. Prefiro os sentimentos aos rótulos. Desde que eles existam.
E se fico te olhando, não é por medo. É por querer congelar aquele segundinho em que você está ali, na minha frente, quase só pra mim.
Me deixa entrar? Vi algo se abrir por aí. Eu prometo que não desarrumo nada. Só quero sentar, te abraçar, te fazer rir, olhar no teu olho e não querer saber o que você ta pensando.
E se é um beijo que nós aproxima, que seja ele que nos convença a ir adiante. Parece ter coisas interessantes logo ali.

Que cor tem essa história? Não sei, mas preto-e-branca não é. Se é para colorir, quero giz de cera e quatro mãos.

Nesse vai e vem que são teus sentimentos, eu sei que você talvez ainda vá embora algumas vezes.
Espero apenas que deixe um bilhete.

gosto de vc

4 de outubro de 2007

respiro

Quando uma dor chega no limite, ou ela te mata ou instantaneamente ela desaparece. Quase como se você fosse uma caixa d'água e tivesse um ladrão, que quando percebe que vai transbordar, escoa o líquido que te afoga.
Todo mundo deve ter passado por isso em algum momento da vida, percebendo ou não.
Você está lá, no meio de um sofrimento abissal, tendo a impressão que não vai conseguir e, de repente, uma sensação de paz toma conta de você. Um alívio desce pelo seu corpo, e você quase sente uma brisa passando. O estômago desembrulha, a dor no peito some. E a única coisa que você consegue sentir é um agradecimento profundo ao universo por este momento de descanso.
Tudo bem que, na medida que você vai ficando escolado no setor dores emocionais, você sabe que esse momento de respiro é finito. Tem tempo para acabar. E é provável e quase certo que logo a angustiante dor volte, enfim, a caixa começa a encher novamente.

Mas, são esses momentos que nos salvam de ter um infarte ou coisa do gênero quando passamos por situações-limite. É como se o seu cérebro lhe dissesse: "Ok, intervalo de 5 minutos. Tome uma água, enxugue o suor e volte para o próximo round". O adversário é o pior de todos: Você mesmo. E sabemos que não há luta mais injusta do que contra nós mesmos, afinal, nosso adversário conhece todos os nossos pontos fracos, e ataca sem dó. Aliás, a autocrueldade é a mais potente arma de destruição.
Você, na condição de uma criança (porque é assim que ficamos quando estamos tristes), implora internamente para que esse momentinho não acabe. E fica ali, tentando nem respirar muito que é pra não mudar de posição, porque qualquer fator pode interferir na benção que está recebendo.

A sugestão é: aproveite essa sensação para fixar a imagem de como é bom quando você não pensa no problema como um problema. Guarde o ritmo dessa respiração. Reconheça o que você é e o que você representa exatamente neste momento, em que você não está contaminado por nenhum pensamento destrutivo.
A dor vai voltar, mas são esses sentimentos que você vivenciou no seu momentinho-paz que vão lhe ajudar a combatê-la com mais força. Estima-se que ela sempre volte um pouco menor, até que uma hora não tenha mais razão de existir.

2 de outubro de 2007

eu cometi, tu cometeu. nós cometemos

O menino esqueceu de dizer que não queria mais brincar. Juntou seus brinquedos e foi embora. Bastava dizer: cansei, não quero mais. E a menina de trancinhas sentada na areia saberia que era hora de jantar.

As novelas e seus finais felizes. Tão perfeitos que a gente se nega a acreditar que são inventados.
E tomado pela aura musical de um final de novela, meu monitor, que há meses estava azul, retomou suas cores normais. Milagre? Talvez energia se movimentando pela sala.

Mas voltando à dramaturgia mentirosa, é impressionante como se consegue recuperar qualquer situação no folhetim. As pessoas brigam, se ofendem, se equivocam. E se por algum motivo se arrependem, voltam, de alma limpa, e despejam suas verdades umas nas outras. Quase sempre encontram um ser aberto a ser feliz e considerar os bons sentimentos... Doce mais doce que o mais enjoativo dos doces.

Já na vida, esta real de todo dia, cometemos erros iguais e piores que os tais personagens novelísticos. Porém, nem sempre damo-nos conta dos prejuízos, cometidos contra os outros e nós mesmos.

E alguém sabe por que razão dizemos coisas duras para pessoas que gostamos? Eu não sei.

Faço o mea culpa e percebo que de algum tempo pra cá tenho sido dura demais comigo mesma. Se alguém que gosto muito me machuca, vou lá e ME machuco mais um pouquinho. Como se não tivesse sido suficiente.
Da mesma forma, desconfio que tenho sido intolerante por vezes. Sabe-se lá por qual razão. Mas tenho sido uma pessoa diferente de mim mesma ao lidar com a dureza dos outros.

Não suporto ser acusada do que não faço, e não percebi que ando acusando demais também.

E quando percebo a troca de insultos tão desnecessários, me pergunto o por quê?

Acho que é hora de admitir e ter a decência de pedirmos desculpa.

Percebi o momento, e peço desculpas apenas por não ter conseguido mostrar que respeitava. O disco tocou ao contrário.

Não era essa a história que tinha que ser escrita. E os bons momentos são achatados por um ou dois versos maldosos trocados, ora por raiva, ora por dor, ora por simples saco cheio.

Posso falar por mim, que mesmo magoada, admito ter ido longe demais e em vez de dizer "você me machucou", tentei compreender pra salvar qualquer coisa que não era coisa nenhuma.

Não era o que eu queria dizer...nem o que queria ouvir.
Está feito e não tem volta. E isso talvez não venha mais ao caso...
Desejo dias melhores e palavras melhores, mesmo que elas nunca cheguem ao destinatário.

E é pena que percamos. De lá e de cá. Sem motivo algum que não a incapacidade de ficar quieto.

Alguma linha invisível foi ultrapassada.

Nos desculpemos, então, por passarmos por cima de uma história simpática, risonha e leve que estava sendo escrita, e que em algum momento nossas crianças internas resolveram pegar suas canetinhas hidrocor e rabiscar por tudo.

Hidrocor não pode ser apagada. Mas as folhas rabiscadas podem ser amassadas e sempre pode-se pegar outra para reescrever. Vou guardar as páginas que se salvaram...


Boa sorte, good luck, como diz a música...

So, so tired to fight

1 de outubro de 2007

Vou dormir no chão para ver se o desconforto substitui esse buraco no meio do estômago que me faz querer vomitar.
Mas adoro deitar no chão.
Não vai funcionar.
Melhor vomitar. Pôr pra fora a incompreensão de atitudesinexplicáveis de pessoasinexplicáveis.

Vamos à acusação: não há acusação concreta.
Você sequer ouve, não importa a verdade. Importa que você quer que a sua impressão seja a verdade.
Você condena e não revoga. Agride, agride de tal forma, que para uma pessoa comum, dessas que têm sensibilidade, seria praticamente uma auto-agressão.
O réu pede pra ser ouvido. Você não quer ouvir. Porque é mais confortável acreditar no que pensa ser a verdade. Neste ponto, voltamos a 1450 d.C., período medieval, e resolvemos o assunto às garrafadas.
Meia dúzia de vidros no chão, alguns litros de vinho desperdiçado, olhamos um para o outro e vem a questão: Por que mesmo fizemos isso?

Não sabemos. E aí está o grande ponto.
Alguma coisa acontece que nem mesmo eu, sempre disposta a explicar o sexo dos anjos, consigo decifrar. Neste momento me vem Caetano na voz de Bethânia: "Por isso uma força me leva a cantar...".
Mas que força é essa, caramba? Que coisa é essa que me faz me importar tanto com isso tudo. Por que faz tanta diferença se você pensa bem ou pensa mal? Por que não consigo simplesmente me chatear contigo e desistir de te querer por perto.
Nem eu sei. E não sei mesmo. Mas não consigo simplesmente concluir um "não sei" básico e seguir em frente. Fico procurando a ponta do novelo. E desenrolo e volto a enrolar umas 300 vezes. Nada de ponta... "Por isso essa força estranha", segue a Bethânia lá no fundo.

A pior parte é não conseguir dar nome aos bois.
Não sei, e nem posso, uma vez que não sei, nomear o que sinto.
Já tentei, e não seria difícil assumir qualquer que fosse o sentimento. Desse mal eu não sofro, se sinto, sinto e pronto.
Mas, but, aí entra em cena uma outra força. E essa não leva... Essa segura. É uma trava, que impede de tudo ser claro como água.
Às vezes, tenho quase certeza de que essa força contrária aí é o tal do "medo".
E não é o mesmo medo do outro. O meu medo é reação. Pois, se toda vez que vou conseguir identificar a "força da Bethânia" e vem de lá uma placa enorme e vermelha de "STOP", nada mais natural que os neurônios se realinhem e criem uma realidade paralela pra me proteger. E aí, então, essa merda de medo de me abrir e receber a tal invertida aparece e acaba me fazendo dar um nó no mundo.
Daí, por instinto de sobrevivência, eu finjo, para mim e para o outro, que o que eu sinto não tem nada a ver com o que eu mostro que sinto... Ou o contrário, não me peçam pra ser mais clara. Eu sei que devia ser mais clara, e eu tento, mas isso já entrou numa roda-viva. E como aqui é a oportunidade para a ficção, vou escolher ficar com as metáforas subentendidas.

Vamos apelar pra física, no que sou péssima por acaso.
Sinais diferentes se atraem. Sinais iguais se repelem.
Somos mais e menos. Portanto, por aquele motivo lá de cima que ninguém, nem eu nem você e nem a Bethânia, entende, nos atraímos.
O que acontece é que quando nos aproximamos, alguém (e nesse caso eu acho que sou eu com certeza) assume a carga do outro, tornando-se um sinal igual... Pronto, deu merda. Instantaneamente, passamos a nos repelir. Quando me afasto um pouco, retomo a carga original e consigo perceber com clareza o que deu errado. E começa tudo novamente.

E isso se dá porque pelo medo da invertida citado lá em cima, eu às vezes danço conforme o tom que você dá. E isso é outra coisa pra tentar se entender. Porém, não agora.
Agora, o que eu realmente queria era dividir o "mais" pra lá e o "menos" pra cá, e voltar a me aproximar de ti. Sem nome nenhum. Só porque é bom.