Adiantam-se os ansiosos, metem os pés pelas mãos, enfiam o pé na jaca, e a carroça à frente dos bois.
Santinha que vos diga, e pleno meio de junho recebendo pedidos inatingíveis. E se fossem apenas bolas e bonecas, até que não seria tão desumano. São pessoas. Pessoas que pedem pessoas. Tava lá no folhetinho recebido corrido na rua: Dona Marta Cartomante. Trago seu amor de volta em 3 dias. Problemas do coração? Desfaço trabalho. 10 reais a consulta.
Dez reais?? Amor barato esse, não?
E aí a Djanira, moça simples, recatada, acredita e deixa de comprar 4 pãezinhos e um litro de leite pra trazer o amor de volta. Desfazer trabalho nem pensar, ela precisa do emprego, ó ingenuidade.
A tal da Marta, huh, podia ser tudo menos cartomante. Cartomante sem a bola em cima da mesa, eu não acredito, pensa ela. Mas os dez já estavam na caixinha. Melhor ficar.
- Tens um amor que foi embora, filhinha?
- Na.. Não. Eu nunca tive um amor, acho que ele foi embora antes de me conhecer...dá pra trazer de volta mesmo assim?
- Claro!!!, Dá pra trazer tudo o que se quer. Mas nesse caso são mais 5, por conta da diversidade de escolha, entende?
- Sim, entendo. Mas já tenho uma escolha. Sidmundo!
- Hum, e conheces o Sidmundo?
- Conheço, sim senhora. Ele aparece no meu sonho toda noite.
- Homem de sonho é 20.
- Bom, posso pagar os outros dez quando ele chegar?
- Vamos ver, as cartas dizem que ele virá. E que você fará uma viagem longa, de navio...
- De navio? Para onde? Eu nem sei nadar.
- Não importa, para se viajar de navio não é necessário nadar. Compre maiô, o lugar é de sol.
- Mas eu vou...
- Mas nada... Com dez é o máximo que posso fazer.
Dajanira sai. Por um minuto lembra de quando era criança e ganhou um barquinho de plástico. Jurou um dia entrar nele e fugir.
E as lembranças foram vindo à mente, tanto que não percebeu o tempo mudar.
Chovia cinza e ela continuava caminhando e lembrando de Sid, que esta noite havia de aparecer e ficar pra sempre.
Tarde foi dormir, deitou, pós os óculos fundos de lado e cochilou.
Sidmundo tinha apenas 15 anos quando foi preso, mas lembrava muito bem da noite em que matou Djanira, de 1 ano, violentamente, ao lado do barquinho.
Dona Marta não dorme desde aquele dia, agarrada a uma nota de dez. Olha a rua e ouve o choro. Nunca deva a uma cartomante chamada Marta.
playlistinha - momentos
- Ouça o seu silêncio
6 de junho de 2007
Santa Klaus Papai Noel....
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