Mamãe tá adolescente de novo.
Ligo despretenciosamente para saber se tudo vai bem pelos pagos de lá e ouço: "Filha, fiz uma loucurinha."
Bom, talvez para uma ex-porra-louca dos anos 60, sair com um cara que mal conhece e se divertir horrores e depois descobrir que não teve nada a ver seja uma loucurinha.
Eu ri... E achei uma delícia ouvir aquilo. Há anos não via minha mãe em estado acelerado, quase com vergonha de ser feliz.
"Mãe, aproveita e curte. Só te preserva. Porque ninguém merece decepções". Foi a coisa mais honesta que eu pude dizer com um sorriso na boca que não dava pra ela ver pelo telefone. Daí, seguiram-se detalhes, não sórdidos, mas que há séculos eu nao ouvia daquela boquinha... Mamãe estava alegre... e isso foi suficiente para que eu esquecesse as minhas decepções. Meu dia havia sido dos mais pesados e, como sempre, minha mãe veio me salvar, sem nem saber que estava fazendo isso.
Ela sempre foi assim: leve, desencanada e tentou me passar a melhor coisa que ela sabe ser na vida, uma pessoa do bem, que por mais que a sua dor seja enorme, prefere dar valor pra dor do outro.
Uma amiga sempre me diz que eu sou uma pessoa que sofre com dignidade. E se isso é verdade, devo isso à minha mãe, que deve ter milhões de faces, porque sempre que açoitam uma delas, ela se vira e oferece outra.
Critiquei muito, durante muito tempo essa atitude dela, porque não queria vê-la sofrer. Hoje, percebo que isso não é sofrer. Isso é ter a alma limpa... é sobrevivência.
Ela não vai ter câncer nunca. Já eu, ainda to aprendendo. E por mais que eu diga que não... Talvez eu queira ser exatamente como minha mãe quando eu crescer.
playlistinha - momentos
- Ouça o seu silêncio
29 de setembro de 2007
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