playlistinha - momentos

  • Ouça o seu silêncio

17 de julho de 2008

Encontrei Marta atrás de uma árvore. Escondía-se de si mesma. Pensava ela que jamais se procuraria num lugar assim, justamente por ser um lugar ridículo para uma mulher do seu tamanho, com aquelas roupas e visivelmente emotiva ficar.

Chego próximo, sem esconder que a vejo. Paro, e olho seus pequenos olhos ainda pintados da noite anterior. Escorrem em gotas cadenciadas. Limito meus movimentos aos olhos atentos àquela cena.
Percebo o casaco pesado em pleno sol de uma manhã de verão em julho. Sente muito frio e fome quando sofre. E eu sinto por ela.

Em momentos assim, melhor encostar as costas nas cascas da árvore e adimitir prazeres diferentes de suas pretenções humanas.
No fundo, Marta tem tão pouco tempo que não consegue gastá-lo com o que realmente deveria.
Passa algumas horas por dia olhando para o relógio lamentando/lembrando/desejando/planejando/esperando, até que resolve seguir. Sacode a cabeça como um filhote que sujou as orelhas, certificando-se de que voltou à realidade, e começa a andar. Ouve Ave Maria.
Marta aquieta-se e agradece aos céus quando não precisa falar. Seu peito já grita suficientemente alto. 
Compra uma garrafa de vinho, cigarros, uma caixa de Bis, soda cáustica para limpar azulejos, um potinho de Mentos.
Destrava a porta, acende o cigarro, escreve o nome do destinatário da caixa de chocolates, segura firmemente a taça antes de limpar suas paredes do estômago.  Um gole só e um Mentos antes de dormir.




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