playlistinha - momentos

  • Ouça o seu silêncio

29 de fevereiro de 2008

*pra ler ouvindo Non, Je Ne Regrette Rien - Edith Piaf (Cássia Eller também poode)

Olha esse menino sentado na mesa ao lado, cabelos lisinhos, corte arredondado, pele clarinha, ainda sem marcas de grandes experiências.

Ele nem imagina que um dia vai dizer coisas erradas para alguma pessoa que ama. Nem sonha que levará um tapa no rosto quando estiver saindo da casa de uma menina, depois de uma briga que fará com que eles nunca mais se vejam e ele guarde a sensação quente na bochecha e o aperto na garganta por anos.

Agora, ele morde o canudinho enfiado em um copo de coca-cola, e será que ele sabe que a vida guarda dores que não vão sumir só com mertiolate e um beijinho de mãe?
Deve ter oito anos. Lembra dos teus oito anos? Da tua infância querida, que os anos não trazem mais...
Não sabíamos que as horas, um dia, teriam muito menos de 60 minutos, quando estivéssemos deitados no colo da pessoa especial. Nem que nossas mães não ficariam acordadas esperando por nós pra sempre.
Mas também, esse menino, que deve imaginar a vida daqui há 20 anos da cor do seu desenho favorito, não faz idéia de como vai se reconhecer em 700 milhões de músicas. De como vai chorar feliz, quando perceber que existem pessoas que ficarão na vida dele só pelo cara incrível que ele vai se tornar.

Ele ainda vai chorar muito, tanto que talvez não haja coca-cola suficiente para fazê-lo se sentir melhor.
Agora, ele me olha, percebe que observo sua carinha, e me faz lembrar de quando eu não achava que se podia perder amores como se aponta lápis de cor. Ele vai descobrir que sim, que amor pode ser como lápis de cor, que colore a vida e na tentativa de estar sempre perfeito, acaba sendo lapidado até ser consumido. E aí, a gente lembra que a ponta, mesmo gasta, fazia os desenhos perfeitos.

Ele vai rir muito ainda. E um dia vai olhar pro céu e pensar que tem 40 anos e ainda morde o canudinho quando toma refrigerante. Mas hoje, olhando pra mim como quem desvenda um mistério, ele nem sonha que alguns sonhos vão ser tão realidade que sequer vai notar que aconteceram. Mas quando ele perceber, vai caminhar na Avenida Paulista, com um sorriso imenso, ouvindo música com o rádio desligado e é provável que olhe pra uma menininha como eu e lembre de hoje, e queira fazer tudo exatamente igual, de novo, porque vai ter certeza de que foi, no mínimo, incrível errar, sofrer, amar, poder se desculpar, ouvir e falar, dar abraços intermináveis, ver o amigo ir embora e saber que ainda está com ele, e, melhor de tudo, saber que pode sorrir desse jeito ainda que com tantas lágrimas nos olhos e pegar quatro ônibus pagando só uma passagem.

2 comentários:

Tatiana Franey disse...

tropecei no blog da christiane lisboa e caí aqui, e este post me fez chorar, de tão lindo. obrigada
taty

elepê disse...

puxa, taty,brigada. espero te fazer chorar e rir outras vezes. um beijo