playlistinha - momentos

  • Ouça o seu silêncio

4 de setembro de 2008

Penso no processo de cicatrização. 

Aquela coisa toda de funcionar de dentro pra fora. Tal qual um corte de larga escala, profundo. Que às vezes precisa de um dreno pra ajudar. Pois, se fecha por fora antes de cicatrizar por dentro, o efeito exponencial prevalece. Sabe? Vai acumulando, e quanto mais tem e não sai, mais produz. Pensava nisso, ouvindo a saga de um amigo que passou por um procedimento cirúrgico recentemente. Ele contando da via crucis pra fechar o tal cortinho, de onde saiu uma bola de ping-pong. Sobrou um espaço vazio, que ainda não "realizou" o fato de que a bolinha saiu. Fica lá, produzindo secreção, na tentativa de preencher o espaço. A pele (mais superficial) até ameaça fechar-se, o que só piora. E por dentro, um vazio inconformado. Ele se abriu de novo, mais um dreno, e agora, a expectativa de vencer o buraco pelo cansaço. Uma hora cansa e se conforma, a bolinha não vai voltar e não há o que preencha o vazio.
Nosso "corpo" emocional deve funcionar do mesmo jeito. Não adianta tentar o processo de cicatrização de fora pra dentro. Penso eu que até ajuda, um estímulo, vá lá. Mas sometimes, é melhor assumir o corte, por mais profundo que seja, que fique exposto. O dreno é o entendimento. Cada vez que entendemos um pouco o que acontece, jogamos pra fora a produção excessiva de sentimento (que aqui pode ser representado por amor, mágoa, incompreensão, tristeza, etc.). Vamos entendendo alguns porquês (drenando) e calmamente, embora doloridamente, curando o machucado.
Isso nada tem a ver com esquecer, ou passar por cima de coisas que nos machucaram, mas tem a ver com conviver com aquilo (o buraco). Tem a ver com aceitar. Tem a ver com compreender.
É a chamada tentativa. De ir adiante, de não esquecer e sim considerar que fez parte de nós. A bolinha teve um porque de estar lá. E como dizia uma amiga muito importante: Só não acostume com a dor. Só não acostume com a dor.
Mas sabe, o segredo de não acostumar com a dor, é entendê-la.
A cicatriz se encarrega de te lembrar que você viveu. E dolorida ou não, faz a diferença no que você vai ser amanhã.

Um comentário:

Tatiana Franey disse...

arraso. não sei como você faz isso, mas consegue captar magia pura em palavras
beijo