*pra ler ouvindo Non, Je Ne Regrette Rien - Edith Piaf (Cássia Eller também poode)
Olha esse menino sentado na mesa ao lado, cabelos lisinhos, corte arredondado, pele clarinha, ainda sem marcas de grandes experiências.
Ele nem imagina que um dia vai dizer coisas erradas para alguma pessoa que ama. Nem sonha que levará um tapa no rosto quando estiver saindo da casa de uma menina, depois de uma briga que fará com que eles nunca mais se vejam e ele guarde a sensação quente na bochecha e o aperto na garganta por anos.
Agora, ele morde o canudinho enfiado em um copo de coca-cola, e será que ele sabe que a vida guarda dores que não vão sumir só com mertiolate e um beijinho de mãe?
Deve ter oito anos. Lembra dos teus oito anos? Da tua infância querida, que os anos não trazem mais...
Não sabíamos que as horas, um dia, teriam muito menos de 60 minutos, quando estivéssemos deitados no colo da pessoa especial. Nem que nossas mães não ficariam acordadas esperando por nós pra sempre.
Mas também, esse menino, que deve imaginar a vida daqui há 20 anos da cor do seu desenho favorito, não faz idéia de como vai se reconhecer em 700 milhões de músicas. De como vai chorar feliz, quando perceber que existem pessoas que ficarão na vida dele só pelo cara incrível que ele vai se tornar.
Ele ainda vai chorar muito, tanto que talvez não haja coca-cola suficiente para fazê-lo se sentir melhor.
Agora, ele me olha, percebe que observo sua carinha, e me faz lembrar de quando eu não achava que se podia perder amores como se aponta lápis de cor. Ele vai descobrir que sim, que amor pode ser como lápis de cor, que colore a vida e na tentativa de estar sempre perfeito, acaba sendo lapidado até ser consumido. E aí, a gente lembra que a ponta, mesmo gasta, fazia os desenhos perfeitos.
Ele vai rir muito ainda. E um dia vai olhar pro céu e pensar que tem 40 anos e ainda morde o canudinho quando toma refrigerante. Mas hoje, olhando pra mim como quem desvenda um mistério, ele nem sonha que alguns sonhos vão ser tão realidade que sequer vai notar que aconteceram. Mas quando ele perceber, vai caminhar na Avenida Paulista, com um sorriso imenso, ouvindo música com o rádio desligado e é provável que olhe pra uma menininha como eu e lembre de hoje, e queira fazer tudo exatamente igual, de novo, porque vai ter certeza de que foi, no mínimo, incrível errar, sofrer, amar, poder se desculpar, ouvir e falar, dar abraços intermináveis, ver o amigo ir embora e saber que ainda está com ele, e, melhor de tudo, saber que pode sorrir desse jeito ainda que com tantas lágrimas nos olhos e pegar quatro ônibus pagando só uma passagem.
playlistinha - momentos
- Ouça o seu silêncio
29 de fevereiro de 2008
28 de fevereiro de 2008
24 de fevereiro de 2008
Na tarde de pouco sol, em frente ao espelho que ocupava a parede toda, escolheu o verde para vestir os olhos, certa de que era a cor da frieza que buscava. Desde sempre, conheceu pessoas de olhos verdes que se mostraram mais intimas da maldade. Talvez um julgamento generalizado demais, mas era assim.
O verde dá uma infinitude ao olhar que não permite a percepção da real intenção da pessoa. E era assim que Marta seria dali para frente. Nem boa nem má, apenas de momento.
E o momento, naquela tarde, pedia o cabelo levemente jogado, marrom, olhos contornados pelo negro, ressaltando o infinito. Na boca, o brilho da saliva cobrindo o tom rosa causado pela mordida bem-intencionada. É isso, diz em voz baixa.
Sai em passo largo, e se ouve apenas o toc do salto cadenciando a troca de pernas em direção à rua. Ela nunca anda em silêncio. Tem sua trilha sonora composta para cada destino, cada desejo, cada encontro.
A mala vermelha foi deixada em frente ao espelho, para que o coração ficasse bem-acompanhado de si mesmo. Ele estaria bem.
Ninguém que tenha cruzado seu caminho reparou o olhar, guardado sob o óculos. Muitos olhavam aquela mulher, que subiu a rua curva, e parou exatos 300 passos depois.
Não, Marta não sofria nenhum transtorno obsessivo por contar passos. Apenas sabia distrair a atenção para não desistir de seguir com a decisão tomada.
A tarde se despediu no momento em que ela chegou ao ponto escolhido. E a luz da noite começava a cair sobre suas costas largas, de quem nadou muito na infância, revelando a pele quase branca, delicadamente arrepiada pelo vento do fim de tarde. Óculos não são mais necessários, mas ela insiste em mantê-los, enquanto pergunta-se o valor de seu riso.
O som é lento, piano e cello. Esquenta o sangue que enrijece o meio das pernas.
- Quanto?
- Me diga você. Quanto te parece?
- Muito.
- Sinto muito (pisca e oferta o primeiro sorriso molhado da noite).
Por vezes, se distrai ao olhar do outro lado da rua a menina magra, sem cor, caminhando de um lado ao outro impaciente com a falta de atenção. Ri, diverte-se. Sempre soube que a ansiedade transformava objetos raros em mulheres pequenas.
E a pequenice nunca fora sua amiga.
- Quanto?
- Me diga você. Quanto te parece?
- Se você não sabe, o que faz aqui?
- Engana-se. Você não procura por mim. (segundo sorriso)
Horas correm, carros passam, e ela apenas espera. É doce observar. Quando percebe não estar sozinha. A voz que de repente se aproxima de seu ouvido é mais suave que as anteriores, acelera batimentos.
Apenas o cumprimento, sem a pergunta.
Leve baixada de olhos e...
- Quanto te parece?
- Não me importa quanto.
- Quase uma boa resposta.
Resiste a se virar e apenas ouve.
- Quanto te custa estar aqui?
- Quase nada, não pago e não cobro.
E sente encostar o corpo. Os espaços vazios entre um e outro denunciam a semelhança.
O ar quente em sua nuca entrega:
- Ontem estive aqui. Não te achei. Anteontem também.
- A obviedade não combina comigo, meu bem.
- É hoje?
- Ainda não.
Marta sente os lábios secarem. É hora de voltar. E sem se virar, segue o contorno da rua, levando o terceiro sorriso, mais exato que os outros. Aquela voz que a encontra algumas noites fica mais uma vez para traz, sem rosto, sem nome. Apenas o redondo do corpo morno será suficiente para ser reconhecida, amanhã.
22 de fevereiro de 2008
Às vezes, Marta se despede das coisas que ama.
Coloca o coração em uma mala vermelha, algumas camisetas por cima, e como não acredita nessa história de que não se deve olhar para trás, fica um longo tempo parada na porta de sua vida olhando por cima do ombro. Olhos molhados, pisca uma ou duas vezes e engole a saudade do abandono. O suspiro é longo e passa por todo o corpo, até que ao apertar os lábios e sentir o sal, assiste aos nós desfazendo-se, desde o início da corda que a prende à primeira vez que sentiu frio.
O peito já não carrega o coração, e o ar que agora invade os pulmões vem trazendo de volta aquelas letras que escreviam seu nome quando ela era apenas Marta. É quase como uma dança. De cheiros, de choros, de sensações. E quando pensa consigo mesma, sentindo o vento de dentro balançar os fios de cabelo que caem no rosto, se pergunta quando as vogais foram substituídas?. Mas sabe, e precisa saber, que não é tão simples. Abandonar a si mesma, jogar fora tentativas, malocar o coração na mala e decidir mantê-lo por lá por tempo indeterminado. Nada disso fazia sentido até que entregou nas mãos de outrem a arma carregada que detonaria sua parte intocada. Sua alma, hoje, é capaz de peneirar pedras. Largos rasgos feitos a unha, nas tantas sessões de auto-tortura. Seu algoz, tirano, acertou por vezes pontos distantes de fatais. Os fios do sangue laranja escorriam, pintando o corpo que nada desejava além ficar quente e levemente úmido ao perceber o tom verde se aproximando.
Nunca fora pensado, proposital ou sentido imediatamente. Mas quando percebia, havia escorrido-se lentamente, partindo de dentro e implodido. Toda vez que acontecia, e acontecia desde sempre, mesmo que só tenha ligado uma coisa a outra um tempo depois, ela sorria morotamente passando a língua nos lábios e abrindo um sorriso que de tão SEU já havia dito a que vinha. Olhava para baixo, fitava a declaração da sua entrega, até com certa timidez, mudava o sorriso de lado, inflando os lábios pelo caminho da boca de um canto ao outro, e ao levantar a cabeça, tinha a certeza de que estava diante de algo...
20 de fevereiro de 2008
16h20
19 de fevereiro de 2008
19h - Hoje tem show do amigo doce, Dan Nakagawa. No Crowne Plaza, às 21h. Tá, to avisando em cima da horinha, eu sei. Perdão. Mas dá tempo. Sai correndo daí, assim como eu to saindo correndo daqui. Vale a pena.
18 de fevereiro de 2008
Antes da playlistinha, ouve, reouve e treouve só esta. Vez que outra a gente presta atenção à letra de alguma música e bobamente descobre preciosidades.
13 de fevereiro de 2008
playlistinha pra hoje - fim de tarde - de noite na cama
As Aparências Enganam - Elis Regina - comece com uma que cresce no compasso do sangue. A voz... ahh a voz, me diz se tem como não se se sentir feliz mesmo quando a letra é triste? Elis é assim: um sorriso no meio de qualquer pranto. Aliás, uma gargalhada gostosa na proa de um barco ao sabor do vento.
Dont Cha Wanna Ride - Joss Stone - música fim de tarde, vidros abertos, velocidade acima de 80km/h (por favor). Seguindo a linha voz-conforto, e uma cara de 15 anos atrás.
Chatterton - Ana Carolina e Seu Jorge - vale pelas risadinhas cúmplices.
Azul da Cor do Mar - Tim Maia - sem motivo especial, baladinha que lembra pôr-do-sol na praia nos anos 90.
Rehab - Amy Winehouse - e fecha tudo em bebedeira. A voz é conforto, a batidinha é conforto. Combina com volume alto e olhos fechados. combina com sorriso aberto, e ta velendo reboladinha bem de leve.
*por falar em conforto, vou pro Starbucks. Meu choro sempre combinou com café, e minha risada também - agridoce.
P.S. inclui mais uma da Amy: You Know I`m No Good -
Me paga um café?
8 de fevereiro de 2008
me diz quantos desastres tem na minha mão
Jamais conheceremos o verdadeiro significado das palavras
que um dia, por covardia, não dissemos.
7 de fevereiro de 2008
cá-cos-meus-butões - às vezes mela demais
* pra ler ouvindo You Learn (Unplugged se der) - Alanis Morissette
Você sabe que gosta de alguém quando em meio a um jogo de cartas com amigos num domingo de carnaval, onde todos se divertem, pára e por um minuto fica dividindo aquele momento com a presença da ausência desse alguém. Você olha pro lado, onde só há um buraco, e imagina o sorriso que queria dar para aquela pessoa, se ela estivesse ali.
Você sabe que gosta de alguém quando vai ao cinema e no meio do filme consegue imaginar sua mão encostando na mão de quem não está ali.
Você sabe que gosta muito de alguém quando qualquer coisa que deveria ser muito feliz acaba sendo metade feliz, porque você gostaria de contar pra esse alguém que não pode te ouvir.
Você sabe que gosta de alguém quando percebe a diferença entre a presença e a ausência dessa pessoa.
O mais difícil é saber que você gosta de alguém quando esse alguém te mostra que você não faz diferença.
E você percebe isso quando não merece dessa pessoa tolerância nem confiança. Quando você não vale uma saudade.
Você percebe o tanto que gosta quando passa por cima de tantas palavras que te machucam pelo simples fato de aquela pessoa significar mais. E percebe que a recíproca não é verdadeira quando teu choro de ontem se perde no vento. E é o vento que seca teu rosto quando deveria ser a mão do outro.
Se você existir dentro de alguém, um momento qualquer não será usado para te fazer desaparecer.
E nada que você diga consegue exprimir a crueldade que aperta o seu coração. E essa dorzinha não consegue nem ter nome, porque não deveria existir.
Quando você gosta de alguém, talvez precise aprender a dizer não a si mesmo. Porque qualquer pessoa pode não te respeitar, menos você.
(mini-evocação do auto-respeito. Baseada no faça o que eu digo, não o que eu faço)
6 de fevereiro de 2008
A UM AUSENTE
aos que pediram, precisa mais?
pra ler ouvindo Leaving New York - R.E.M. (pela simples melodia)
Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.
Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?
Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.
Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.
•assim disse Carlinhos, o Drummond
5 de fevereiro de 2008
frag-mentos - 28 unidades por potinho - Landromat de alma
A máscara caiu, em pleno carnaval, vê se pode.
E eu com aquele riso nervoso incontido nos lábios vendo a prova do teu desapego.
Poderiam me vir lágrimas, e vieram, mas é um riso quase reconfortante que me faz companhia. Amanhã o choro volta pela manhã, e vai doer mais um pouquinho. E depois de amanhã, e depois, até doer tudo o que for.
Que feio, fez sem precisar. E pior, assinastes de próprio punho o recibo, em local público.
De repente, percebi o quão idiota eu fui. E fui vergonhosamente idiota. Mas não há vergonha... Ser feito de idiota, às vezes, é o que ensinamos que merecemos. Pena dar-me conta só hoje, depois de ter dado mais um pouco do que não mereces, do que não conheces.
Minha curiosidade agora é: foi por querer? Se foi, quero ser igual a você quando eu crescer.
E pensar que me culpei por ferir. Devia me culpar por ser burra. Já dizia o amigo: "não pratique a burrice!".
Tua máscara caiu no chão. Mesmo que para mim ainda seja difícil acreditar que você faria isso. Gostar é cego, dizem as carolas. Deus abençoe esta teia de comunicação que interliga pessoas.
Acho que entendi o significado do verbo Dissimular. E continuo perguntando o por quê. Simplesmente porque não faz sentido.
Sempre me surpreende o barulho dos copos que caem no chão em pedaços.
2 de fevereiro de 2008
who said it would be easy...
o nariz ainda sangra
olha pro teto, na única posição permitida, e vê o reflexo, branco
não houve culpados
apenas a pessoa errada, na rua errada, cruzando com o carro errado
lembra aquela música que diz I`m all right, it only hurts whem I breath
perguntaram se foi intencional...
...não foi. Mas assusta pensar que poderia ser.