É uma projeção de mim que se vê.
Projeto uma tentativa de esconder a fraqueza.
Desde o início, a real forma é a de um bebê indefeso, que chora e precisa de colo.
Os ossos crescem, e em volta deles, a pele envelhece.
Experimento a vida em diferentes cores e sons. Afeto alguns. Sou afetada por outros.
E o bebê continua lá, embora chore menos por pura auto-censura.
Não finjo ser forte. Não finjo suportar. Apenas suporto. Com as poucas forças que consigo determinar
que meu peito aguente para não se estilhaçar frente à dor.
Talvez você suporte mais do que realmente consiga, me diz quem muito pouco me conhece para se deixar enganar pela projeção.
Paro para pensar. Poucas declarações chegam a mim e surpreendem a esse respeito. Afinal, já teci todas as teorias. Já concluí todos os resultados.
Já determinei todas as reações para cada tipo de ação sobre mim.
O holograma que acredito projetar convence a todos. Quase todos.
E a amiga diz: O anjo que escreve o roteiro das nossas vidas deve fumar muita maconha.
Volto ao projeto de mim mesma e percebo uma falha. Um pequeno rasgo bem no centro, por onde deixei escapar o fio de luz que leva ao bebê.
Dá para ouvir um chorinho lá no fundo. Ele vive. Acordou do sono induzido pela química psíquica que derramei nos últimos 20/25 anos?
Ninguém o despertou. Mas alguém o viu passar. Reconheceu.
É assim que é?
Nos defendemos do mundo projetando imagens do que pensamos que podemos ser?
Se eu pensar que isso não me atinge, não atingirá?
Ou apenas eu não vou perceber que fui atingida.
E se eu não me deixar perceber, a dor será menor?
Ou apenas ficará acumulada no baldinho de praia de dores que todo bebê carrega na vida?
Acho que perdi as pazinhas. Cavo com as mãos. Tiro as dores do buraco e encho meu baldinho.
Depois eu jogo no mar e volto para ver o castelo bonito que construí.
Enorme castelo de areia esperando a onda vir.
playlistinha - momentos
- Ouça o seu silêncio
25 de agosto de 2007
22 de agosto de 2007
não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não sim não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não sim não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não sim não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não não
20 de agosto de 2007
O sol hoje está deixando cair bolinhas de neve cor-de-laranja.
Se o barco tem rumo certo ou não, já não me importa mais.
Que ele siga em águas calmas, com uma onda ou outra favorecendo o balancinho gostoso que se conhece por paz-adrenalina-paz.
Ontem foi surpresa. Surpresa casual e indescritível.
O sobressalto inesperado compensou dormir na sala, depois de ter a cama inundada pela indolência de um cachorrinho safado, mas ainda assim lindo.
São esses altos e baixos, os silêncios planejados, as não respostas na hora certa para evitar equívocos, que fazem essa coisa toda ter gosto de bala azedinha, daquelas que a gente morre de vontade de morder, mas se segura só para aproveitar a aguinha na boca.
Uma hora, a gente não aguenta e morde... E que seja. Que seja mordida e se transforme em muitas balinhas na boca. Prazerezinhos que ficam conosco por todo o dia.
As bUlinhas de neve cor-de-laranja que caem do sol me lembram você.
Surpreendem quem passa, pois vêm de onde menos se espera. As bUlinhas geladas se aquecem ao sol, mas não derretem. Chegam aqui embaixo coloridas, com gosto de bala azedinha.
As bUlinhas dos teus olhos semiverdes.
As bUlinhas da espuma do café.
As bUlinhas que ficam no ar cada vez que um silêncio gostoso se põe no meio de uma conversa.
Hoje, você é o que é
Uma bUlinha de neve cor-de-laranja com gosto de bala azedinha que cai do sol sobre mim.
It has been a pleasure to know you each day. Danks.
19 de agosto de 2007
Hoje estou tentando chorar.
E quem diz que é possível?
Paro. Reconheço esse buraco vazio no meio de mim e espero uma lágrima...
Ela não vem. Mas eu sei que ela está aqui. Por que não sai?
Pra onde essas gotinhas salgadas estão indo que não para fora?
Com licença, por favor, você podem sair de mim? Eu peço.
E sei que elas nem deveriam estar aqui dentro.
Será que não estão então?
Será que essa dor é seca?
Tudo está acontecendo aqui dentro. Eu espelho lá fora, mas sei que é só aqui dentro.
Ninguém percebe. Nem quem protagoniza a história sabe.
Alguém sabe a resposta pra isso?
Como pode uma sensação física tão bem acentuada se sobrepor a sinais ora bons, ora ruins?
Ora ora, penso eu. De onde tiraste isso, LP?
Quem permitiu construir sentimentos saídos do nada?
Os sentimentos não saem do nada, eu mesma respondo. Mas quando são apenas nossos sentimentos, somos responsáveis por eles.
Mas e quando alguém pega o seu sentimento e bole com ele? Essa é a grande pergunta no meio de tantos pontos de interrogação.
Este segundo é uma bolha. Bolha de consumo. Um momento de minipaz depois de uma tormenta de sensações e questionamentos invisíveis.
Será que ando densa demais? Ando mudando o volume e a dimensão das coisas sem pedir licença ao universo.
O quilo não tem mais um quilo. O minuto passa longe dos 60 segundos.
Um simples oi tem significado um tratado e às vezes adquire o poder de determinar meu dia.
Isso não pode ser assim. Nem ficar assim. Porque ESSA não sou eu. Eu sei disso, não precisam me dizer, embora me digam a todo instante.
Eu sou aquela que ri. Que deixa tudo leve. Que acredita. Que dá a chance.
Eu sempre fui isso. Vendi isso. E comprei isso.
E é isso que eu quero dar, oferecer, presentear quem passa por mim.
Aos que passaram, eu consegui dar.
Mas de repente tem algo que passa tão devagar, que vai deixando rastro. Como em uma foto tremida, cheia de "fantasmas". Esse rastro me desafia a analisar.
Mas minha análise tem sido guiada por uma força externa. Que às vezes me conduz por um caminho claro, com cor. E do nada, aperta o interruptor e me deixa no escuro.
Devo analisar isso também?
Hoje, não é sobre você. Hoje é sobre mim.
Mas preciso te solicitar, pois a resposta está presa aí.
Por que você faz o que faz? Por que vai e depois vem? E quando vem, por que não fica?
Responde em código, mas responde.
Responde na lata, mas responde.
Apenas responde.
Não tem mais espaço para não resposta.
CARALHO, não há mais espaço para não resposta.
(Se ainda não percebemos, é melhor que saibamos que estamos conduzindo um mesmo barco. É preciso que mostremos nosso planos de percurso. Não por curiosidade ou por comprometimento, mas apenas por parceria, por respeito próprio.)
A gente pode entrar num barco sem saber pra onde se quer ir. Mas não se pode entrar num barco sem querer entrar. Portanto, já entramos, e sabemos que entramos, vamos navegar.
*Tenho um apego por metáforas. Mas é bom que se considere essas usadas aqui como o mais próximo da realidade. Sim, é com você mesma que estou falando.
17 de agosto de 2007
Quero perguntar, mas não sei se quero ouvir a resposta.
Paro ou continuo?
Tens algo bom pra me dizer?
Diga.
Às vezes é bom ouvir coisas boas. Só pra variar um pouquinho.
Finge que não perguntei, apenas diga.
Diga o que vai por aí.
Te faço sentir? Qualquer coisa que seja.
Balanço algum pêndulo aí?
Uma coisa bonitinha a meu respeito e meu dia seria completo.
A minha parte que bate contra o teu muro já não tem tanta força.
Vai se esvaindo a cada "nada".
De repente se fortalece, sabe-se por qual motivo.
E eu sigo. Continuo. Insisto.
E não é pura insistência. É um querer mais que bem querer. (já se ouviu isso antes, em letra de música)
Às vezes danço contigo, a mesma valsinha. E do nada, me pego dançando sozinha.
Pisco um olho, e estás na dança novamente. Depois, desaparece.
Aonde vai? Onde vai parar?
Por que danças comigo vez que outra se a música não te agrada? Me pergunto.
E aí, penso que agrada sim. Só não sabes dizer. Ou não quer dizer.
E por quê? Por que será?
Tens a resposta?
Se tens, pode me dizer?
Se não tens, pode compartilhar a dúvida comigo?
Pega a minha mão e me diz pra onde devo caminhar.
Se me disser: "para longe". Tentarei ir.
Se me disser: "para perto". Eu fico.
Só não me deixa mais sem saber. Eu peço.
Que eu morra, mas morra sabendo o por quê.
Dança comigo?
14 de agosto de 2007
Ainda absorvo os olhares não desviados.
As palavras trocadas, às vezes em compulsão, às vezes em contingência.
Ainda te leio e por vezes te escuto, ao longe, falando baixo.
E como te despes dessa força que só olhos muito mal preparados acham que é real.
Sim, eu ainda acredito no que deixou escapar nas noites aquelas.
Me puxou pra perto e disse sem falar que eu podia entrar.
E mesmo que a porta se abra apenas quando você quer, é bom saber que ela se abre.
Meu olho fala demais, tagarela. Não nega o risquinho de felicidade quando te vê.
E o riso? Tem jeito de rir mais gostoso que isso? Se tem, esqueceram de me contar.
As frases soltas ao mesmo tempo são regidas por sei lá eu quem. Mas não importa, existem.
Penso na diferença, mas me salta aos olhos a semelhança.
E me disse certa vez: "Não te referes nunca a mim com suavidade".
Não? É certo que pensavas assim?
Volta no tempo, nas horas, no vento. E discursa pra mim o meu primeiro texto.
As longas conversas começadas em uma hora qualquer de uma madrugada qualquer chegaram sozinhas, suavemente, como são teus passos.
Daqui e dali, tornou-se natural te ouvir ou ler antes de dormir, ou acordar para te ler e voltar a dormir.
A surpresa e o susto do anúncio de mensagem podiam roubar o sossego, mas trazem uma paz quase como se fosse um abraço.
E é isso. Que eu seja um abraço pra você.
Que você venha quando precisar dele.
Ou de mim.
13 de agosto de 2007
Não fossem eles, os buracos seriam mais profundos.
As lágrimas custariam a secar.
A cor das coisas não passaria de um leve efeito sépia.
Não fossem eles, ajoelhar-me no chão na noite de sábado teria passado em branco e sem graça.
E aquele peso confortável sobre mim no sofá, às gargalhadas, de uma quase felicidade, não teria sublinhado uma boa notícia.
Não fossem eles, todos os meus choros, com razão ou não, jamais seriam substituídos por auto-deboches de alívio.
E eu não faria revelações bombásticas no meio de uma apresentação do Criança Esperança.
Não fossem eles, tua falta seria mais atordoante.
E tua aparição muito menos comemorada.
Não fossem eles, minhas frases seriam mais racionais,
meus olhos, menos brilhantes,
minhas mãos, menos calmas,
meu sorriso, menor.
Não fossem eles, minha capacidade de me refazer estaria gravemente prejudicada.
E minha dose de esperança, atrasada.
Não fossem eles, as contas de telefone seriam menores, mas contariam muito pouco da minha vida.
Não fossem eles e seus abraços risonhos, não seria eu aqui.
Mas, são eles.
São eles que me censuram quando estou prestes a cometer besteiras.
E são eles que me abraçam depois que as cometi, mesmo com toda a censura prévia.
Apesar e independente, sem condição para nada.
Apenas por me amar, eles são eles.
Às nossas boas risadas divididas,
aos nossos motivos sem motivo nenhum,
à nossa tolerância...
*(e claro, aos chás, cafés, purês de abóbora, cigarros, vinhos, narguilés, macarrões com alho... e à eterna torta de limão que não deu certo)
10 de agosto de 2007
O garoto é carregado de rabiscos na alma.
Esbôços de tentativas frustradas.
Debaixo do braço, um bloco de papel de desenho A3. Canetas coloridas e apenas um lápis.
Ele senta, bem à minha frente. Do seu sorriso, vejo saírem notas de um sambinha malandro. Lá de cima do morro.
E começam os traços. Os meus são fortes, e concentram meias-gotas de sorrisos interrompidos.
Ele pára, me olha, e pergunta:arrepende-se?
Penso. Profundamente imergindo meu peito. Arrepender-me? De que maneira?
Arrepender-se é ato de extremos. Posto isso, contei-lhe do dia em que fui embora.
E no que se seguia minha história, seu lápis dançava entre as folhas. O baile do preto no branco. Meu sorriso interrompia o silêncio da tardinha. (hoje, quando fico olhando ela sentadinha ao pé da porta, no sol, sentindo os cheiros que vêm da rua, lembro desse silêncio)
Percebi que fiquei ali por mais tempo que uma lembrança. Agora, já parado de braços cruzados, o moleque ria. Incontido, dentes à mostra, abraçado aos desenhos.
Natural que lhe pagasse por eles. Dou 20. Ele sai assobiando.
Pego os rabiscos que me retratam e silencio - no tanto que tenho para mostrar, o branco dos meus dentes apagam desenhos de mim mesmo.
5 de agosto de 2007
Desexistir
Palavra complexa, comprimida e compreendida à desistência de existir.
Pode desdobrar-se em desresistir, e aí vem a oposição.
Se opor = se pôr contra.
Oponho-me a desistir.
Oponho-me a desexistir. E penso...
Ao todo e ao fim, a vida pode ser uma seqüencia de desexistência.
Pergunte-se quantas coisas desexistem diante das alegrias e desalegrias vividas.
Você é capaz de listar quantas coisas passam a não existir pra você quando estão ligadas a alguma sensação boa que se torna ruim?
Eu poderia relacionar N.
Aquela cor que te lembra quem se foi.
Aquele carro que você passa a evitar porque ele/ela estavam dentro quando você amava.
A música que só de ouvir te traz sensações de uma hora vivida que não se repetirá.
A rua pela qual passavas e pensavas em alguém.
Aos poucos, o mundo vai se limitando à falta de opções.
Zélia nunca mais cantou do mesmo jeito.
Unos vermelhos ficaram somente na lembrança.
A Gota D'água teve seu texto excluído da memória.
Gramado não é mais tão interessante.
O Matterelo? Neste não entro nem em sonho.
O 00 1 na frente de qualquer número de telefone corta o coração.
Coitada da Ana, a Carolina, anda na corda-bamba, cai-não-cai.
Apenas exemplos de como dar a algo/alguém uma representação pode limar da sua vida coisas que eram bem gostosas.
Mas como não fazê-lo?
Como não lembrar de coisas boas quando se quer lembrar de alguém tão bom quanto?
A luta agora é com unhas e dentes para não ter que ignorar o próprio endereço.
Imagina se não der mais pra sair à rua, porque a referência vai ser inevitável?
E os Foxes pretos? Tão simpáticos. Será que vão perder o lugar nas possibilidades automobilísticas?
Os Schnauzers ganharam lugar nos olhares pela rua: ah, que bonitinho... não seria justo voltarem a ser apenas cachorrinhos com cara de mau-humorados, não acha?
Me nego a deixar de sorrir, de dar risada à toa, de gastar fortunas em torpedos para outras operadoras.
Me nego a perder mais referências gostosas.
Me nego a deixar de supor como seria se...
Me nego, e pronto.
Negue, se puder, que isso faz sentido.
Negue, se quiser, que as referências receberam contribuições importantes nos últimos tempos.
Negue, se acreditar, que não faz a menor diferença.
Negue, se negue, se oponha.
Mas não desista, não resista, não desexista daqui.
3 de agosto de 2007
Impossível fechar o olho. Retumbava na cabeça. Bom e ruim, claro, escuro, doce, amargo... Um solfejo de sensações.
Uma paz quase aterrorizante me tomava depois de ser sacudida e suavemente mandada embora.
"Mas não se aproxime de mim", foi a palavra de ordem.
Me transformei em uma caxumba. Ou uma dessas doenças infantis, das quais a gente protege os bebês.
Mas ok, deve valer a pena. O bebê em questão é daqueles fofinhos, de bochecha rosada, que sorri e faz biquinho. Aqueles que você vê e tem inveja da mãe, que pode apertar e dar beijinho na bochecha toda hora. E pensa: "quero pra mim".
A caxumba aqui pode fazer mal. Sim, porque o bebê jamais faria mal à caxumba, ela sabe disso.
Fábula à parte, o "não se aproxime de mim" ainda soa, ressoa, lampeja uma pergunta.
6h57 da manhã, e nada de apagar. A cabeça vazia de tanto pra entender. Não tem problema, não precisa entender... só sente. Sente que pela primeira vez, viu o que havia debaixo da armadura. E foi lindo.
A proposta era honesta, de verdade. Sou capaz de me despir de vontades pra ter a parte boa. E você? não te interessa a parte boa? Talvez não exista parte boa pra você, não é. Só pode ser isso. Bingo.
Só sei que não compreendo teu medo. Nunca tivestes caxumba? Ou teve somente de um lado e teme ter do outro?
Mas lembre-se que dizem que é melhor ter dos dois lados logo. É menos sofrido.
E agora, josé? A festa acabou, a luz apagou...
Não posso deixar de agradecer algumas más impressões que me permitiste desfazer.
Tua guarda a meio-pau quase me permitiu entrar.
Eu insisto na proposta: friendly. Honestamente, friendly.
Solta a rédea. O cavalo sabe o caminho. Ele volta sempre pra casa.
As palavras foram doces, o tom quase sinfônico. E eu vi aquela que eu sabia que morava aí se permitir aparecer. O prazer é todo meu. Encantada em conhecer-te.
Ainda considero a sentença dura demais para um crime não cometido. Vou para a segunda instância.
Have a good weekend... don`t forget to smile.