Dia a dia, tiraram-lhe coisas. O pai, o berço, o peito, as rodinhas da bicicleta, o colo, o primeiro lugar na fila...
O que sobrou ficou por dentro, e ora sai nas palavras, que são certeiras, mas nem sempre exatas. Fala por metáforas e não pretende que outros leiam exatamente o que escreveu, mas que possam enxergar todas as dimensões de uma única palavra combinada a outras.
De alguma forma, tentam lhe tirar isso, o expressar-se, quando sentem necessidade de datá-la.
Ainda que pichasse muros, invadisse casas, rabiscasse o coração alheio, talvez pudessem impedi-la, julgá-la ou culpá-la. Mas usa o rosto como papel e o próprio choro como tinta. E se ela entra em tua casa, foi porque a convidaste.
Palavras não derrubam portas, apenas abrem corações, se estes quiserem.
Leia o que ela escreve com os olhos abertos. Indague significados, mas não determine uma única causa.
Não queira enquadradar uma ebulição de sentimentos e sensações que não precisam ter nascente ou poente, apenas levantam possíveis "quem sabes".
Se leres com olhos fechados em si, provavelmente não te enxergarás aqui, muito menos a verá.
Nem toda carta tem um único destinatário.
Mas por vezes, uma carta especificamente endereçada deixa de chegar porque prestaram mais atenção ao remetente.
Metáforas, sim. Ela é assim. Eu sou assim.
Podem lhe tirar até a dignidade ao continuar pedindo perdão por me traíres.
Só não podem querer lhe tirar a capacidade de sentir, e falar sobre isso, mesmo sem querer atingir nenhum alvo.
Não vais conseguir me ver se não quiser me enxergar.
Ela sou eu. E eu posso ser você...
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