Sou pobre. E enriqueço ao prestar atenção nos outros.
A porta do carro brutalmente violada nada se parece comigo, que me abro sem senhas, sem travas, sem alarmes.
Minha pobreza reflete um tanto de não-sei-o-quês que acumulo ao não decifrar olhares.
Gosto da forma, antepondo-me a minha disformidade natal.
Aplico-a a todas as letras que ouço ou desenho. Sim, não sei escrever, apenas desenho as letras.
Prefiro as frases perdidas nonsense. Estimulo glândulas lacrimais com repetições compulsivas de lembranças.
Tenho apego à dor, acho eu. Talvez o bem mais fácil de se adiquirir.
Fermento na esperança de azedar. E chego a vestir um luto pueril, mas vim vacinada de tal forma que abro um sorriso suculento toda vez que uma imagem, um cheiro ou uma voz me aconchega, mesmo que sem querer.
Às vezes, você nem nota que sorrio chorando. E segue dando gargalhadas.
Escrevo com canetas vermelhas.
Deixo coisas cairem das mãos.
Como, quando estou triste, por um motivo que ainda não consigo definir.
Me esforço para resolver qualquer coisa nesta vida que não me faça repetir provas na próxima.
Perdôo, mas sempre espero consciência.
Gosto das palavras "cumplicidade", "bacana", "óbvio", "implicante", "negrinho" e "coisa".
Queria tatuar "Não" no meio do peito, mas há protestos.
Tenho preguiça de sorrisos não divididos, fotos sem pessoas, chuva sem trovão.
Detesto doce, mas como um vidro de Nutella sem sofrer.
Me superestimo, mas me subfaturo.
Tenho tantas coisas, e talvez só queira uma.
Dificilmente me conformo, e isso um dia me mata.
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