A escuridão la fora e a chuva fria desmentem o relógio, que insiste em me dizer 16h30.
Sempre sinto dias de chuva como veículos de comunicação sem palavras. Sentei aqui pra contar coisas que você já deve saber, mas nunca parei pra dizer. Estou atrasada em alguns anos, mas talvez somente agora eu tenha dados concretos.
Um menino lindo chegou logo depois que você me disse tchau naquela rua vazia, naquela noite. E queira ou não, ele evitou alguns prantos dela.
Uma tempestade de silêncios doloridos que duram até hoje, em alguns momentos.
Teve de tudo, desde a incompreensão até o autoconhecimento. O mundo se inverteu e assisti a dura passagem da adolescência de mamãe.
Enquanto eu rezava, compreendia porque tudo tinha de ser assim.
O menino meigo e cheio de um amor que não sabia de onde vinha trouxe a sobrevida excepcional àquela pessoinha que achávamos estar de vez sozinha naquele mundo onde só você entrava.
Eu chamei isso de equilíbrio.
B se movia com o vento. Enquanto Ly(i)dias trilhavam seus caminhos. Um lindo balé em retrospectiva hoje.
Cada passo meu para fora, um dela do mesmo tamanho para dentro.
Alguns vários acontecimentos dediquei a ti. Outros, agradeci por não estares vendo. (sim, deixa-me me enganar)
Entre feridos e feridos, todos vivos. Cumprindo as lições de casa.
Cortei aquele fio com dor e prazer em iguais dimensões. Mas fiz questão de manter a dor a e alegria desaber quem sou, de onde vim.
Cara, acho que tu ia gostar de me ver hoje. Não fiz nada muito incrível ainda, mas consigo ver um balançar de cabeça teu com um sim e um não cada vez que algo de fato acontece.
E o presente que tu me destes tá aqui, no lugar que ninguém mexe.
Hoje, olhando a chuva cair, olhei pro céu e pensei: tá vendo?? Tô aqui, tentando fazer tudo quase direitinho. Acho que tô conseguindo, e melhor, sozinha. Sozinha de verdade, não fosse pela certeza de que vez que outra te sinto me espiando.
Não consegui desenvolver habilidade para negócios, como deves ter percebido nos últimos meses. Mas consertei tudo sem pedir socorro. Dei uma choradinha escondida, adimito, mas tá valendo né?
Aprendi a comer direito, mas de birra mantenho habitos felizes que me lembram você. O shape nnao nega a raça, e honestamente, não morro mais por isso.
Tento guiar B, e embora não o faça como tu, tenho me saído razoavelmente bem.
Estou longe de L, mas é incrível como penso nela todos os meus dias. E me mantenho ligada naquela tênue linha de consciência que acho que só ela entende. Ela, por sua vez, volta de vez em quando do mundo encantado, mas somente quando pessoas muito específicas solicitam. Não deixe de estar aí quando ela decidir não voltar mais, tá.
Ando pecando pela distância e ausência. Mas não consegui uma forma mais eficaz de cumpri algumas tarefas para crescer. Sei que você me entende.
Apesar de sempre parecer existir um flutuar da gente por aqui, todos estão dormindo e acordando bem, conforme o destinado.
Tua falta se faz presente, mas nada parou como tínhamos medo, eu e tu, que acontecesse.
Eu confesso que sinto saudade de não precisar entender o mundo, mas tenho gostado de estar atenta a ele.
As contas estão todas pagas.
Nunca mais fiz salada de feijão à noite.
Comprei meu primeiro carro sozinha e não me deram nenhum brinde, desculpa.
Assisto TV com o controle-remoto em cima da barriga pra me lembrar de ti.
Monto a paciência com o baralho vermelho, mas nunca completo o jogo.
Agora gosto de sementes de girassol.
Guardo tuas moedas da sorte num lugar secreto.
Dou bronca em b e chamo L de Gigio pra elas não esquecerem.
Vibro quando vejo um 23 no final de um bilhete de loteria.
Espero o dia em que usarei tua bengala pra andar pelo sol.
Caio e levanto todos os dias.
E sorrio pra todas as pessoas, como sempre te vi fazer amigos.
Como podes ver, acho que tá tudo certo... Fizeste um bom trabalho.
Até o próximo relatório, Vô.
beijos,
Coraçon